terça-feira, 9 de março de 2010

Trecho de um velho post sobre Hegel e a velhinha que vende ovos, aproveitado para hoje e seus elementos apodrecidos.



O trecho sobre Hegel está em azul. Ele me veio à memória ao conversar sobre o caso Bancoop com um aluno meu. Ele me observou que o Sr. Blat, o promotor, não tem um pretérito angélico, não é nenhuma Madre Teresa de Calcutá. E desfiou uma série de procedimentos jurídicos a que o referido indivíduo responde. Claro, repliquei, é preciso prudência e saber quem denuncia, porque denuncia, etc. Recordei alguns procuradores da república e do caso Eduardo Jorge. Agora, no problema Bancoop é preciso ir aos ovos. Eles estão podres e foram assim vendidos aos usuários? De seu, digamos, lucros, a destinação é aquela mesma destinada pela lei? Peço aos leitores a gentileza de analisar o post abaixo. Eles verão a causa da prudência. Mesmo um bandido, quando denuncia um crime ou erro, não deixa de apontar objetos que merecem investigações. E não existe velhinha vendedora de ovos que não possa ser investigada. No caso, as velhinhas petistas são bem conhecidas na feira política, por terem granjeado fama de só venderem ovos sadios. A partir de certo dia, no entanto, os produtos do galináceo petista não mais podem servir para algo saudável, salvo para jogar na face dos demagogos que se aboletaram no poder, com seus mandos e desmandos, impunemente. Apelar para subjetividades não resolve. É arma manjadissima, desde os sofistas gregos. RR


Hegel tem um texto intitulado "Quem pensa abstrato?". Certa jovem reclama para uma velhinha que vendia ovos na feira: "os ovos que a senhora me vendeu na semana passada estavam podres". Vejam bem: ovos são ovos e podem apodrecer nas mãos de qualquer um, honesto ou desonesto. Trata-se de um fato possível e previsível. Uma velhinha honesta, em atos e pensamentos, responderia: "traga-me os ovos podres e os trocarei". Com isso, ela garantiria que a frase da jovem seria provada ou não.

Mas, prossegue Hegel, não foi este o caminho empreendido pela vendedora macróbia. Furiosa, ela retruca de imediato :"Quem é você para dizer que os ovos vendidos por mim estão podres ?". A réplica tem a marca da má fé. A jovem enunciou algo sobre objetos que poderiam ser verificados. A velha responde apelando para a subjetividade, deslocando o campo da questão. E já no "quem é você", percebe-se o contra ataque próprio do sofista (seja ele bisonho, seja ele bem treinado na escola de Gorgias).

E prossegue a velhinha : "então não sabemos que seu pai ferido na guerra foi abandonado num asilo? E que sua mãe fugiu com um soldado francês, e também não sabemos como e onde você arruma dinheiro para comprar estes vestidos e fitas bonitos?". Aí a antilogia chegou ao máximo da má fé. Na impossibilidade de provar sua honesta posição, porque isto implicaria passar pelo estado dos ovos vendidos, a velha prefere, em vez de se defender, atacar. Assim, ficamos sabendo que se os ovos da feirante estão podres, também que as pessoas ligadas à sua adversária são podres (o pai é doente, a mão é covarde e adúltera, a mocinha é puta). O que se prova com tudo isso? Que nos pensamentos e nas ações é preciso ir aos fatos completos.