Se os 134.080.517 eleitores brasileiros fossem divididos em quatro grupos segundo suas atitudes, o maior deles teria como principal característica o que se pode chamar de ética relativa.
Para essa massa, que está majoritariamente na região Sudeste e pertence à classe média, os valores podem mudar dependendo dos benefícios em jogo. Dinheiro na cueca, mensalão, dossiês e demais escândalos até chocam, mas não surpreendem.
Nos primeiros meses de 2010, o Ibope trabalhou para transformar em estatística um debate antigo no meio acadêmico e no mundo político.
O que se passa na cabeça do eleitor? O resultado foi um perfil apresentado por Marcia Cavallari, diretora-executiva do instituto, durante a 63ª conferência anual da Associação Mundial de Pesquisas de Opinião Pública (Wapor), no último dia 12 de maio.
Na hora de batizar esse grupo, o primeiro nome cogitado foi "Lei de Gerson". Mas logo concluíram que a plateia não entenderia a expressão, célebre desde que o jogador de mesmo nome usou a frase "O importante é levar vantagem em tudo, certo?", numa propaganda de cigarro nos anos 1970.
Optou-se então por algo mais singelo para batizá-lo: "Cada cabeça uma sentença".
Os demais grupos, pela ordem de grandeza foram: "Minha vida, meu governo", composto pelos favorecidos por programas sociais e defensores de políticas paternalistas; "Apegados", que reúne os moralistas, religiosos e tradicionalistas; e "Livres e antenados", onde estão os jovens de alta renda.
"Desde o século 19 os eleitores das cidades votam em quem traz obras para a região. Esse é o pêndulo do Congresso; o poder Executivo libera verbas para quem o apoia", diz o filósofo Roberto Romano, da Unicamp.
A pergunta que fica no ar é como votam esses grupos. "O lulismo aparece como expressão política pragmática. Esse perfil, portanto, se alia com Lula.
Além disso, o crescimento econômico do país terá impacto grande no Sudeste, que é mais industrializado e onde serão gerados mais empregos", diz o cientista político Ruda Ricci, ex - consultor do PNUD, o programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Ele lembra que em 2006, quando estourou o mensalão, o Ibope fez uma pesquisa onde se constatou que 75% dos eleitores tinham uma posição conivente com a corrupção.
"Existe uma espécie de compaixão amoral. Se todo mundo rouba, vou ajudar alguém que rouba mas é sério", diz.
Voto agrupado
Para o sociólogo Alberto Almeida, autor do livro "A cabeça do brasileiro", a candidata do PV, Marina Silva, é a principal referencia do quarto grupo, onde estão agrupados os "Jovens e antenados".
"Ela já tem esse voto garantido, dos jovens ligados na internet e frequentadores das redes sociais. Mas acredito que ela ainda vai crescer entre os eleitores mais velhos do Sudeste, com bom nível de escolaridade e renda", avalia Almeida.
A parcela que o levantamento do Ibope classificou como "Apegados", onde estão os mais religiosos e tradicionalistas, já foi maior e mais engajada.
"Esse setor conservador é, hoje, bem menor. Perdeu muita base desde os anos 60. A UDN, que representava a classe média urbana e conservadora, migrou para o Arena, virou PFL e hoje é o DEM, que tem outro perfil. Deixou de aglutinar a classe média conservadora para virar um partido de oligarcas regionais", afirma o filósofo Roberto Romano.
O grupo "Minha Vida, meu governo" é, segundo os sociólogos, o mais lulista. Pudera: ele é composto pelos milhares de beneficários dos programas do governo federal, que garantiram renda extra no orçamento.