quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Jornal Brasil Economico


Entrevista

"São os partidos que caçam as celebridades"

Maeli Prado (mprado@brasileconomico.com.br)
25/08/10 10:06


"Seria fundamental a exigência de que o candidato seja filiado ao partido há pelo menos cinco anos", disse Romano

A crítica a candidaturas como as do cantor Tiririca e da performer Mulher Pêra nas eleições deste ano recai sobre essas celebridades, ou subcelebridades, como vêm sendo chamados.

O que muita gente esquece é que são os partidos políticos, de olho no chamado voto de protesto, que vão atrás de candidatos sem o menor conhecimento ou preparo para atuar em cargos públicos.

O ideal seria que somente fossem aceitas candidaturas de filiados há no mínimo cinco anos a determinado partido, defende o filósofo e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Roberto Romano.

O fenômeno de candidaturas como a de Tiririca e da Mulher Pera está pior nessas eleições do que nas anteriores?

O voto de protesto burro sempre existiu. Teve o Cacareco, o rinoceronte que ganhou as eleições em São Paulo, e um bode que foi eleito no Recife.

O eleitor acha que, votando nessas pessoas, vai protestar. Mas o que é complicado nisso tudo é o oportunismo sem fim dos partidos políticos brasileiros.

Todas essas candidaturas são endossadas por partidos políticos, que aceitam essas candidaturas para conseguir mais vantagem no cômputo geral da votação.

Não é que está pior, o que acontece é que com a internet há uma divulgação muito maior dessas candidaturas.

Isso tem como ser evitado?

No estabelecimento dos partidos, seria fundamental a exigência básica de que o candidato tivesse filiação nessa legenda há pelo menos cinco anos.

Quando chega a época das eleições, esses partidos políticos, principalmente as legendas menores, saem à caça dessas celebridades.

O Maluf não pode se candidatar por causa do Ficha Limpa. Estamos em um momento mais ético na política?

O Ficha Limpa é um avanço. Vamos ver se esse veto à candidatura dele não vai cair nas instâncias superiores. O Maluf é um símbolo de hetedoroxia na ética política, e o fato de ter sido barrado é um aviso fortíssimo para os peixes menores.

É o começo de um processo, muitos erros serão cometidos, mas é uma reação saudável de cidadania. Cerca de 2 milhões de pessoas se empenharam no Ficha Limpa, isso é muita coisa. Já vi muitas campanhas, e nota-se uma sensível melhoria.

Muita gente fala da inutilidade dos debates, apontando que são monótonos, mas acho que a qualidade no geral melhorou.