quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O Globo


Análises

Especialistas analisam os erros e os acertos do 1º programa eleitoral dos principais candidatos a presidente

Publicada em 17/08/2010 às 23h00m

Alessandra Duarte e Carolina Benevides

RIO - Enquanto Dilma Rousseff (PT) quis se mostrar afetiva, José Serra (PSDB) tentou ser popular. E Marina Silva (PV) se perdeu no meio ambiente. No primeiro programa eleitoral, a maioria dos presidenciáveis se preocupou em apresentar sua biografia, mas, segundo cientistas políticos que analisaram a propaganda a pedido do GLOBO, alguns tiveram mais erros que acertos - como os fatos de Serra ter posto o nome do presidente Lula no jingle e de Marina não ter sido apresentada no programa.

" Serra teve fala convincente, mas buscou fórmula mais antiga de programa, com samba "

- Serra teve fala convincente, mas buscou fórmula mais antiga de programa, com samba - diz a cientista política e historiadora Isabel Lustosa. - O da Dilma foi bonito, e fez bem ao explorar o passado de luta contra a ditadura, com as amigas da prisão; não sonegou a informação de que é de esquerda. O Serra, nesse ponto, ficou sem discurso. Foi um erro o Lula no jingle; pode perder o eleitor cativo dele. Ao mesmo tempo, não cola a imagem de que é candidato do Lula.

A inclusão do nome de Lula no jingle tucano também foi criticada pelo cientista político Roberto Romano, da Unicamp:

" Já a Dilma tem de ter cuidado para não fazer do Lula um escudo "

- Chamá-lo de Zé é forçar a barra. Do mesmo modo que mostrar a trajetória dele como um pobre que subiu na vida. Já a Dilma tem de ter cuidado para não fazer do Lula um escudo.

- Não cola ser o Zé. Ele nunca foi conhecido como Zé. Ele é o Serra, não fez campanha para o governo de São Paulo como o Zé. Quis colar o nome Lula da Silva ao dele, mas isso depõe contra - acrescenta Paulo Bahia, cientista político da UFRJ.

Para o professor de sociologia e política da PUC-Rio Ricardo Ismael, Serra acertou ao falar de saúde, tema que interessa ao eleitorado, e ao listar cargos para os quais foi eleito, enquanto Dilma ocupou cargos executivos, não eletivos. O fato de Serra ter falado para a câmera, porém, deixou o programa com menos emoção do que o da petista:

" É inacreditável que uma candidata que precisa se apresentar só apareça nos últimos 15 segundos "

- Serra quis popularizar com música nordestina e fala olhando para o eleitor. Dilma pegou a linha do afeto, conversa de modo intimista, confessional. O objetivo foi mostrar a Dilma doce, que fala da mãe, da filha, brinca com o cachorro.

Marina, dizem os analistas, teve o pior primeiro programa:

- Parecia um "Globo Repórter" sobre a natureza - conclui Isabel Lustosa.

- É inacreditável que uma candidata que precisa se apresentar só apareça nos últimos 15 segundos - completa Ismael.

- Ela converte os convertidos - diz Romano. - Se ficar no desenvolvimento sustentável, não vai ampliar o eleitorado.