quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Uma leitura muito interessante, não é mesmo, Marta Bellini? É a "oniversidade" ética, produtiva, mentirosa, etc e tal...

São Paulo, quarta-feira, 18 de agosto de 2010



Próximo Texto | Índice

Má conduta científica dispara nos EUA

Em 16 anos, denúncias de fraude aumentaram 161%; país gastou US$ 110 mi para investigar 217 casos em 2009

De cada três acusados, um é punido; pressão por produção e briga por cargos e dinheiro induz desvios, diz cientista


RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO

Há cada vez mais sujeira por baixo dos jalecos brancos: nunca antes os Estados Unidos, grande potência científica mundial e pioneiro na tentativa de coibir fraudes nos laboratórios, teve tantos problemas com desvios de conduta de pesquisadores.

Casos como o de Marc Hauser, biólogo afastado de Harvard há uma semana acusado de distorcer dados em uma pesquisa sobre aprendizado em pequenos macacos, quase triplicaram nos últimos 16 anos.Em 1993, quando o governo federal dos EUA criou uma agência para o assunto, a ORI (Agência para a Integridade em Pesquisa, na sigla em inglês), foram relatadas 86 denúncias de desvios.

Em 2009, foram 217, número recorde. O país gastou cerca de US$ 110 milhões investigando esses casos. Historicamente, um terço das investigações resulta em punição -em geral, afastamento de cargos e verbas públicas.O número foi apresentado pela equipe de Arthur Michalek, biólogo do Instituto Roswell Park (de Nova York), na edição de ontem da revista científica "PLoS Medicine".

"Humanos são humanos, alguns vão se deixar seduzir e usar certos atalhos em busca do sucesso, por mais antiéticos que eles sejam", disse à Folha. "A esmagadora maioria dos cientistas são éticos. Infelizmente, trapaças de poucos mancham o trabalho duro do resto de nós".Humanos sempre foram humanos, claro, e fraudes existem desde sempre.

O homem de Piltdown é citado com frequência como a maior mentira da história da ciência, e o caso é de 1908.Na época, foram apresentados fósseis de um suposto elo perdido entre humanos e primatas. Só em 1953 a fraude foi comprovada: tratava-se, na verdade, de uma mistura deliberada de ossos humanos e de orangotango.

Os números americanos, porém, mostram a má conduta ganhando espaço. Para Sílvio Salinas, 67, físico da USP, a tentação é maior entre as gerações mais novas. "Hoje em dia, há uma enorme pressão, uma grande disputa por posições", diz. "Mas os bárbaros não tomaram conta da ciência ainda."


Próximo Texto: Saiba mais: Casos no Brasil envolveram alto escalão da USP