15/09/2010 - 16h46
Quebra de sigilo não gera repercussão em redes sociais
Do UOL Eleições
Em São Paulo
A quebra de sigilo de pessoas ligadas ao PSDB —entre elas Verônica Serra e Alexandre Bourgeois, filha e genro do candidato tucano José Serra— ganhou destaque no noticiário e nos programas eleitorais de petistas e tucanos.
Enquanto Serra acusa a campanha da adversária na corrida eleitoral, Dilma Rousseff (PT), de ser responsável pela quebra do sigilo para suposta elaboração de dossiês contra os tucanos, a petista rebate, negando as acusações.
Mas o eleitor está acompanhando o assunto? Sabe quem são os envolvidos e leva em consideração escândalos do tipo para escolher o seu candidato ou desistir dele?
A discussão sobre o tema, até agora, não ganhou destaque entre os usuários de redes sociais, como o Twitter, serviço de microblog preferido dos brasileiros. Diferentemente de outras ocasiões, onde a discussão política ganhou posições de destaque no Trending Topics — que mede quais são os temas mais tuitados no momento—, poucas hashtags (etiquetas que sinalizam o assunto do post) foram usadas para comentar, de forma consistente, o caso.
A maioria delas estava ligada a perfis que apontam ligação ou preferência por algum partido político, acompanhadas de outras hashtags de movimentos partidários do tipo #ondavermelha ou #serra45.
“O que observamos é que os usuários não se mobilizaram para criar discussões em torno do caso. Houve uma polarização focada em pessoas. Quando algo sobre o Serra vinha à tona, usavam o nome do candidato”, analisa Alessandro Barbosa Lima, presidente da E.Life, empresa especializada em mídias sociais.
Nos últimos 30 dias, a candidata Dilma Rousseff teve um pico de citações no Twitter no dia 13 de setembro, data do debate promovido por Folha/Rede TV! Por volta das 21h, 0,5% de todos as mensagens postadas no serviço de microblog faziam referencia à candidata.
O pico de José Serra aconteceu em 18 de agosto, dia do debate online promovido por Folha/UOL, quando 0,4% de todos os tuítes falavam do candidato. Quando é pesquisada a palavra "sigilo" no mesmo período, a porcentagem máxima de mensagens postadas é de 0,03%.
Para Barbosa, o grande número de pessoas suspeitas de envolvimento no escândalo pulverizou as mensagens, que, na maioria das vezes, estavam concentradas em tuites que “atacavam” outro candidato. “Dessa maneira, acaba virando uma estratégia para confundir de quem é o problema, e fugimos do foco da história”, diz.
Roberto Romano comenta que o Twitter "foi tomado por militantes, tanto da oposição quanto do governo, que se dedicam apenas a repetir slogans". "Aqui houve uma redução do instrumento tecnológico, diferentemente do que ocorreu nos EUA, na campanha de Barack Obama, que usou a rede de maneira inteligente para falar de temas importantes e gerar debates. Se alguém é favorável a um partido, o resto não funciona. Parece-me que chegamos ao nível do maniqueísmo e não do debate político."
Algumas hashtags, como #calabocalula, divulgada na semana passada, quando o presidente Lula usou o horário eleitoral na TV de Dilma para defender a candidata petista, até conseguiram ganhar pequeno destaque entre o número de tuítes, mas não o suficiente para serem medidas por ferramentas de desempenho de tuítes, como a What the Trend.
No início de setembro, a candidata do PV, Marina Silva, propôs que os internautas se manifestassem contra o silêncio do Ministro da Fazenda, Guido Mantega, a respeito da quebra de sigilo fiscal de mais de uma centena de pessoas. A candidata sugeria a seus mais de 199 mil seguidores que usassem a hashtag #mantegachegadeomissao para acompanhar as mensagens de protesto.
Os tuiteiros não aderiram ao movimento e a etiqueta foi pouco usada. Em uma busca em ferramentas que analisam hashtags, o #mantegachegadeomissao também não pôde ser mensurado devido a seu baixo uso.
Para se ter uma ideia, em 18 de agosto —data em que aconteceu o primeiro debate entre presidenciáveis na internet, promovido pela Folha e pelo UOL— foram gerados, aproximadamente, 51 mil tuítes que faziam o uso da hashtag #debatefolhauol. A etiqueta ficou em primeiro lugar entre os tópicos mais discutidos do dia. Os nomes dos presidenciáveis também estiveram nas listas dos dez assuntos mais comentados no Brasil e no mundo.
De acordo com dados de uma pesquisa divulgada em janeiro de 2010 pelo instituto Sysomos, especializado em redes sociais, os brasileiros representam 8% do total de usuários do Twitter, o que coloca o Brasil como o segundo país mais ativo no serviço.
Eleitores na rua
Eleitores estão "por dentro" do caso?
Além das redes sociais, o UOL Eleições foi às ruas da capital paulista para ouvir o que alguns eleitores sabem sobre a quebra de sigilo. Vinte e três das 32 entrevistadas pela reportagem disseram que não sabem nada ou sabem muito pouco sobre o tema. Apenas nove entrevistados afirmaram conhecer muito sobre o assunto e puderam resumir, brevemente, os fatos.
A maioria dos entrevistados que não soube responder disse que a falta de tempo para acompanhar programas jornalísticos ou acessar internet e ler jornal foram os principais fatores para não prestar atenção no assunto. Apenas dois entrevistados disseram que optaram por não pesquisar sobre o tema.
A enquete feita pelo UOL Eleições não tem o rigor estatístico de pesquisas de opinião pública e serve apenas como ilustração.
De acordo com o cientista político Carlos Melo, o desconhecimento de parte do eleitorado com relação ao caso da quebra de sigilo, deve-se ao fato de o assunto não ser “tema da massa”. “É um assunto que não chega para a maioria, não é tema da massa. Estamos falando de Imposto de Renda, Receita Federal, as pessoas não têm dimensão disso, não veem o caso como ‘invasão de privacidade’ e não sabem bem o que esses dados significam”, afirma o cientista.
Pesquisa
As últimas pesquisas eleitorais também apontam que o escândalo parece não ter causado impacto direto nas intenções de voto dos candidatos. De acordo com o último levantamento do CNT/Sensus, divulgado na terça-feira (14), faltando pouco mais de 15 dias para as eleições, 72,7% dos entrevistados responderam que “não vão mudar de jeito nenhum” o candidato a presidente que escolheram para votar.
Ainda de acordo com a pesquisa, 5,5% dos entrevistados responderam que só mudariam o voto caso o outro candidato comprovasse maior capacidade administrativa ou para gerir programas sociais. Argumentos de outro candidato (excluindo os citados acima) e inidoneidade comprovada mudariam o voto de 3,2% dos entrevistados.
Para o professor de Ética e Política da Unicamp, Roberto Romano, a falta de impacto do escândalo no eleitorado é de certa forma preocupante. "Em qualquer lugar do mundo isso faria os eleitores pensarem dez vezes em quem votar", disse. Quanto à escolha definida do candidato por mais de 70% dos entrevistados, Romano atribui o fato à propaganda política.
Segundo ele, a propaganda eleitoral da petista tem conseguido passar uma ideia mais otimista e se distanciar do escândalo, ao contrário da propaganda de Serra. Para ele, a campanha tucana usa uma estratégia errada, a do denuncismo, que soa "chata" para o eleitor. "Não vejo possibilidade de inversão de resultados [nas pesquisas] dentro desse contexto", diz o professor.
*Colaborou Flávio Moreira