15/09/2010
às 9:41 \ Política & CiaFantasmas de fundadores do PSDB vão assombrar Alckmin por sua aliança com Quércia
No Palácio dos Bandeirantes, que provavelmente ocupará a partir de 1º de janeiro diante de seu disparado favoritismo nas eleições para o governo de São Paulo, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) será assombrado por venerandos fantasmas.
Sua aliança com o ex-governador Orestes Quércia, do PMDB, candidato ao Senado até desistir devido à recidiva de um câncer, fará com que lhe puxem a perna, à noite, os falecidos governadores Franco Montoro e Mario Covas, de São Paulo, e José Richa, do Paraná.
Eles fundaram o PSDB, em 1988, junto a outros líderes como o então senador Fernando Henrique Cardoso (SP), os deputados Euclides Scalco (PR), Aécio Neves (MG), Pimenta da Veiga (MG) e Artur da Távola (RJ) e o à época ex-deputado Arthur Virgílio (AM) justamente por não conseguirem conviver mais, dentro do PMDB, com o estilo de governar e os padrões éticos dos então governadores Orestes Quércia e Newton Cardoso (MG).
Agora, ele vai à TV dizer maravilhas de Quércia, como no vídeo abaixo.
“Os paulistas precisam de senadores que tenham compromisso com nosso estado”, recita Alckmin, deixando de lado o compromisso com a ética, que o PSDB jurou assumir desde que existe. “Orestes Quércia é exemplo de luta, esforço e experiência”, continua, esquecendo-se de que os tucanos passaram a vida dizendo que Quércia era exemplo de outra coisa.
Quércia se retirou da corrida eleitoral, mas, na condição de presidente do PMDB, continua na TV pedindo votos para os candidatos a deputado de seu partido, para o candidato tucano ao Senado, Aloysio Nunes Ferreira, e para o próprio Alckmin. Sempre aparece tendo ao fundo uma foto em que Alckmin o abraça, sorridente, fazendo o sinal de positivo com a mão direita.
Alckmin se proclama o herdeiro de Mario Covas – e, de fato, nove anos depois da morte do governador durante seu segundo mandato, não perde uma oportunidade de homenagear-lhe a memória e de designá-lo como seu “mestre” na vida pública. Ocorre, contudo, que tanto Covas como Montoro e Richa, tinham horror a Quércia, por razões políticas e morais.
Além disso, na corrida pelo Palácio dos Bandeirantes em 1990, quando Quércia quis fazer e fez seu sucessor, Luiz Antonio Fleury Filho, o governador fustigou duramente Covas, inclusive no terreno pessoal, durante a campanha inteira. A certa altura, em episódio famoso, chamou publicamente Covas – justamente o irascível, sanguíneo Covas, que não levava desaforo para casa – de “bunda mole”. A resposta de Covas, duríssima:
– É mole mas é minha.
No fim das contas, usando e abusando de todos os recursos, Quércia fez o sucessor, proferindo a célebre frase:
– Quebrei o Banespa [Banco do Estado de São Paulo, posteriormente privatizado] mas elegi o Fleury. Covas tombou no primeiro turno, e o candidato do PMDB derrotou, no segundo, o eterno Paulo Maluf, do atual PP. Na sucessão de Fleury, em 1994, Covas finalmente chegou ao Bandeirantes, reelegendo-se em 1998. Agora, o auto-proclamado herdeiro de Covas está literalmente de braços dados, sorridente, ao lado do inimigo mortal de seu patrono.