terça-feira, 30 de novembro de 2010

E sejamos sinceros:a imprensa brasileira MERECE o presidente que tem. Na maior parte das redações, o chaleirismo é a filosofia oficial.

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Lula se irrita com pergunta sobre Sarney e manda repórter 'se tratar'

Para o presidente, a partir do momento em que a pessoa 'toma posse, ela passa a ser uma instituição e tem que ser respeitada'

30 de novembro de 2010 | 15h 50
Leonencio Nossa, enviado especial

ESTREITO (MA) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou profundamente irritado, nesta tera-feira, 30, em Estreito (MA), com uma pergunta do Estado sobre sua relação com o grupo do senador José Sarney (PMDB-AP) no Maranhão. A reportagem indagou se a visita era uma forma de "agradecer o apoio da oligarquia Sarney" ao seu governo. Para Lula, a pergunta foi "preconceituosa".

"Agradeço, agradeço... e a pergunta preconceituosa como esta é grave para quem está há oito anos cobrindo Brasília. Demonstra que você não evoluiu nada. O presidente Sarney é presidente do Senado... preconceito é uma doença. O Senado é uma instituição autônoma diante do Poder Executivo, da mesma forma o Poder Judiciário. O Sarney colaborou muito para a institucionalidade. E ademais é o seguinte: o Sarney foi eleito pelo Amapá, eu não sei por que o preconceito. Você tem de se tratar, quem sabe fazer uma psicanálise para diminuir o preconceito", disse o presidente ao repórter.

Irritado, Lula ainda mencionou o palhaço Tiririca, eleito deputado federal. "Se você tiver que fazer algum protesto você vai para o Amapá, porque foi lá que o povo elegeu Sarney. E vai para São Paulo, porque o povo elegeu Tiririca. Na medida que a pessoa é eleita e toma posse, ela passa a ser uma instituição e tem que ser respeitada", afirmou, dirigindo-se ao repórter.

Durante a resposta de Lula, a governadora Roseana Sarney interveio. "É preconceito contra a mulher. Eu fui eleita governadora do Maranhão para tomar conta do povo", no que Lula emendou: "Sarney não é o meu presidente. Ele é o seu presidente do Senado, ele é o presidente do Senado deste País. Eu lamento que não tenha tido evolução (da imprensa)".

O presidente Lula virou aliado fiel de Sarney durante seu mandato de presidente. Em julho de 2009, articulou para que o PT recuasse da decisão de apoiar o afastamento do senador da presidência do Senado, após as revelações, pelo Estado, de envolvimento dele no escândalo dos atos secretos da Casa, e demais irregularidades, dentre elas a fraude na Fundação José Sarney com dinheiro da Petrobrás.

Em entrevista ao Estado em fevereiro, Lula saiu em defesa de Sarney e afirmou que o defendeu porque o governo precisava dele no Senado.

"Agora, quem governa é que sabe o tamanho do calo que está no seu pé quando quer aprovar uma coisa no Senado", disse Lula. "Das acusações que vocês (o jornal) fizeram contra o Sarney, nenhuma se sustenta juridicamente e o tempo vai provar. O exercício da democracia não permite que a verdade seja absoluta para um lado e toda negativa para o outro lado", afirmou na entrevista.

Humildade. Mais cedo, o presidente havia feito um discurso atípico, no qual reconheceu que antecessores não tiveram as mesmas condições que ele ao assumir o comando do País. "Eu tenho consciência que outros presidentes da República não tiveram as mesmas condições que eu", afirmou. "O presidente Sarney pegou o Brasil em época de crise. O Fernando Henrique Cardoso, mesmo se quisesse fazer, não poderia, pois o Brasil estava atolado numa dívida com o FMI. Quando você deve, tem até medo de abrir a porta e o cobrador te pegar", afirmou Lula.

As declarações foram feitas em um discurso de improviso durante visita ao canteiro de obras da usina hidrelétrica de Estreito, na divisa do Maranhão com Tocantins. Ainda em tom de humildade, o presidente observou que a inauguração da obra ficará mesmo para o governo de Dilma Rousseff. "É a Dilma que virá inaugurar, mas eu tinha que vir para fechar a comporta, pelo menos", declarou o presidente.

Lula disse que precisou desmarcar três visitas à obra por causa de problemas nas áreas ambiental e social. Comunidades ribeirinhas denunciam que estão sendo prejudicadas pela construção da usina. O presidente afirmou que recentemente foi firmado um acordo entre o consórcio Estreito Energia, construtor do projeto, com o movimento de atingidos pelas barragens. Pelo acordo, a empresa se responsabilizará por garantir a realocação das famílias e criar condições para que os pescadores continuem suas atividades. "Eu não queria violência com qualquer pessoa", declarou Lula.

Depois da hipócrita bajulação de Obama, o tolo ("that´s my man, right here"), só mesmo a Wikileaks para dizer algo com sentido.

EUA apontam para corrupção na gestão de Lula

Em telegrama secreto revelado pelo Wikileaks, a crítica é feita pelo próprio embaixador americano

30 de novembro de 2010 | 10h 50
Jamil Chade, correspondente de O Estado de S.Paulo

GENEBRA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva concluirá seus oito anos no poder com uma gestão marcada pela corrupção entre seus "mais próximos aliados", com uma "praga" de compra de votos no PT e sem ter dado uma resposta ao crime no Brasil. Essa é a avaliação da diplomacia americana sobre a gestão de Lula e os principais elementos de seu governo, escancarando a avaliação do governo americano em relação a Lula.

Veja também:

link Para EUA, Brasil oculta prisão de terroristas, revela WikiLeaks

blog Veja a íntegra dos documentos do WikiLeaks referentes ao Brasil

Em um telegrama secreto revelado pela organização Wikileaks, a crítica é feita pelo próprio embaixador americano em Brasília, Clifford Sobel.

"A principal preocupação popular - crime e segurança pública - não melhoraram durante sua administração (de Lula)", afirmou o telegrama enviado entre a embaixada americana em Brasília e o Departamento de Estado norte-americano.

O documento ainda cita os vários escândalos de corrupção durante a gestão de Lula. "A Administração Lula tem sido afetada por uma grave crise política", afirma o documento, indicando que "escândalos de compra de votos e tráfico de influência" se transformaram em "pragas para certos elementos do partido de Lula, o PT".

Sobel, porém, deixa claro que a "popularidade pessoal do presidente não sofreu, mesmo depois que muitos de seus associados mais próximos foram pegos em práticas de corrupção".

O telegrama faz parte de um relatório que a embaixada americana em Brasília enviou para Washington, com vistas a preparar uma visita do ministro da Defesa, Nelson Jobim. A meta dos americanos no início de 2009 era o de se aproximar ao Brasil, propondo acordos de cooperação no setor militar e uma colaboração para garantir certa estabilidade na América Latina.

O documento ainda insinua que teria sido o Bolsa Família que o teria ajudado a se reeleger em 2006. "O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito em 2002 em grande parte diante da promessa de promover um agenda social ambiciosa, incluindo generosos pagamentos aos pobres. Diante da força da popularidade desses medidas, ele foi reeleito em 2006, ainda que um apoio diminuído da classe média", completou.

O relatório evidencia a credibilidade da Agência: ZERO. ZERO. ZERO.

30/11/2010 - 07h00

Corte na emissão em países em desenvolvimento é determinante para metas de clima em 2050, diz Agência Europeia

Lilian Ferreira
Do UOL Ciência e Saúde
em Cancún (México)

Para limitar o aumento das temperaturas em 2°C até 2050, a redução das emissões nos países em desenvolvimento é mais determinante do que o corte em países industrializados, afirmou a Agência de Avaliação Ambiental da Holanda, na Conferência do Clima, em Cancún, México.

Além disso, estudos da agência indicam que reduções a longo prazo são mais custosas, tanto monetariamente quanto em impactos gerados. O gasto em 2050 seria praticamente o dobro do feito em 2020.

A meta global para 2050 é redução de 50% das emissões sobre 1990, sendo que os países em desenvolvimento teriam que cortar de 30% a 40% sobre 2005, os países desenvolvidos da UE, de 60 a 90% em comparação com 1990, e EUA, de 80% a 95%.

Alterações nas reduções dos países pobres podem fazer com que as reduções globais fiquem em 35% ou 70%, mas a variação de 80% ou 95% dos desenvolvidos não faria tanta diferença no resultado total.

Para isto, os países desenvolvidos teriam que cortar suas emissões, mas a China deveria reduzir suas emissões em 50% comparadas com 2005, enquanto a Índia poderia continuar em crescimento até seu pico de emissão.

O estudo prevê um pico nas emissões chinesas de 2020 a 2025 com lançamento de mais de 12 bilhões de CO2 equivalente por ano. Depois disso, suas emissões teriam que reduzir de 55% a 65% até 2050. Já a Índia, após chegar ao auge de 2030 a 2035, teria que cortar de 60% a 95% sobre os níveis de 2005.

Acordo de Copenhague

As promessas de redução de emissão dos gases do efeito estufa apresentadas pelos países desenvolvidos no Acordo de Copenhague chega a 18% a menos do que as emissões de 1990, mas o necessário seria de 25% a 40%. A meta dos em desenvolvimento fica entre 8 a 10% do que era previsto, quando teria que haver um corte de 15 a 30%.

Brasil (-36%/-39%), África do Sul (-34%), Coreia do Sul (-30%) e Indonésia (-26) prometem reduções consideráveis, mas China e Índia ficam entre 0 e 6% ou 0 e 3%, respectivamente, em cima do que lançariam em 2020.

Isso significa que na melhor das hipóteses, com todos os países atingido o máximo de suas metas, estaríamos ainda a 2 bilhões de toneladas de CO2 equivalente do limite máximo para o aquecimento de 2°C. Se o acordo não for cumprido e as emissões continuarem na mesma toada de agora, seriam 10 bilhões de toneladas a mais.

A solução proposta pelo analista climático da Agência, Michel den Elzen, é que China e Índia adotem planos nacionais de redução de emissões, que as emissões por desmatamento sejam reduzidas em 50% até 2020, que regras para impedir o aumento do uso de terras de florestas sejam adotadas, que metas para aviação e marinha internacional sejam impostas e ainda a necessidade de um adicional de redução para os países desenvolvidos em 25%.

Mas mesmos as metas sofrem riscos de não serem cumpridas. As dos países mais pobres, por exemplo, dependem de financiamento internacional e podem ocorrer menores reduções devido à falta de precisão de quanto é emitido pelo desmatamento e também por estipular que o crescimento seria maior do que será (a China atrela seus cortes ao PBI, afirma que irá diminuir a quantidade de gases emitidos por dólar gerado em sua economia).

Entre os países desenvolvidos, as incertezas são quanto a projetos contados duas vezes, mau uso da terra e os créditos de países do Leste Europeu e Rússia que são contados para equilibrar as contas do bloco como um todo e que podem não estar mais disponíveis no futuro.

Assim, os EUA teriam que finaciar ações de desmatamento em outros países para compensar o que deveriam cortar e não irão e os países em desenvolvimento precisariam de financiamento para atingir a redução necessária para que as temperaturas não passassem dos 2°C.

Custos

Os custos para se chegar às promessas seriam proporcionalmente os mesmos para países ricos e pobres, sendo que Rússia, Ucrânia, China e Índia teriam os menores gastos.

Para a menor expectativa seriam gastos 0,1% do PIB em 2020 e para o melhor dos cenários seriam 0,2% do PIB. Para o Brasil, como as metas são altas, os custos seriam de 0,3% a 0,4% do PIB em 2020.

Além disso, o analista prevê que adiar o cumprimento das metas, atingido o mesmo patamar em 2050, elevaria os custos e os riscos climáticos. Isso exigira cortes de mais de 4% o ano no período de 2020 a 2050 para se chegar a reduções de 40% a 45% sobre 1990. O total global de custos com a redução das emissões está projetado para U$ 60 a U$ 100 bilhões.

Marta Bellini.

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgtt8HWWc52DSnegOtunFgwEls0NKIIWNPN-1PMQQoR7-Wdw_qjmaFmJkMzhnWmZAAlltvXsuaySZjXx2O0DfkSqmCQ8lat3f0HtVqminkmwL5-ysfbShUAet93Y3h-dADj4W5tJuKRiM/s1600/DECLARACAO+IDONEIDADE+MORAL+PEA.jpg

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Atestado de bons antecedentes criminais....



Daí, né ... minhas advogadas, meu amigo Tarso, e vários colegas disseram-me que não devo me defender de coisas que não fiz. Mas, vivenciando uma situação kafikna: EU ME DECLARO INOCENTE. Inocente, sim. Trabalhei 12 anos em um local de minha universidade (e não 15 anos) E NUNCA recebi nenhuma repreensão. O lugar social lá (Pós-Graduação em Ecologia) sempre foi sério, excelente, com colegas maravilhosos. Se você chegar as 7 da manhã, tem gente trabalhando. Se você passar lá as 10 horas da noite, tem gente trabalhando. Eu fui neste pós (e ainda sou) uma professora que cursou Ciências Biológicas e foi andar pelas searas das HUMANIDADES (sociologia e psicologia). Fiquei na terceira margem. Gostando das histórias de cientistas, mas amando as áreas humanas. Não tive "peito" para enfrentar laboratórios de biologia. Nem gosto. Rendi-me às humanidades. Sou tua, humanidade!
Eu não tenho (eu sei, eu sei, nunca terei a pena de um Julio Cortázar). ... mas este texto tem cheiro de surrealismo. Vocês não precisam entendê-lo, apenas sabê-lo. O fato é que eu sou muito orgulhosa. Muito dura quando deparo com mentira, daquelas mentiras cheias de lambanças . Alguém disse a alguém que disse a alguém que disse a alguém e esse alguém me entrevistou em outubro diante de uma Comissão de meu trabalho que eu aprontara algum "barraco" no Pós em Ecologia. Estou como no CSI. Procurando o caminho desses alguéns. Juro que encontro. Ou não me chamo Luzia.
POIS EU GRITO: É MENTIRA! É MENTIRA! É MENTIRA! É fraude! É MENTIRA! É MENTIRA! É MENTIRA! É MENTIRA! É MENTIRA!É MENTIRA! É MENTIRA!
P.S. Quando comecei a trabalhar como professora em uma escola estadual em 1978, em São Paulo, tive que ir a um lugar social que me deu medo. Era no antigo prédio do DOPS. Tinha que apresentar à escola em que dei aula um atestado de bons antecedentes criminais. Taí, a realidade....

Luiz Eduardo Soares, no seu Blog (link abaixo).

A crise no Rio e o pastiche midiático

26nov2010 Em: Imprensa, Opinião

Sempre mantive com jornalistas uma relação de respeito e cooperação. Em alguns casos, o contato profissional evoluiu para amizade. Quando as divergências são muitas e profundas, procuro compreender e buscar bases de um consenso mínimo, para que o diálogo não se inviabilize. Faço-o por ética – supondo que ninguém seja dono da verdade, muito menos eu -, na esperança de que o mesmo procedimento seja adotado pelo interlocutor. Além disso, me esforço por atender aos que me procuram, porque sei que atuam sob pressão, exaustivamente, premidos pelo tempo e por pautas urgentes. A pressa se intensifica nas crises, por motivos óbvios. Costumo dizer que só nós, da segurança pública (em meu caso, quando ocupava posições na área da gestão pública da segurança), os médicos e o pessoal da Defesa Civil, trabalhamos tanto –ou sob tanta pressão – quanto os jornalistas.

Digo isso para explicar por que, na crise atual, tenho recusado convites para falar e colaborar com a mídia:

(1) Recebi muitos telefonemas, recados e mensagens. As chamadas são contínuas, a tal ponto que não me restou alternativa a desligar o celular. Ao todo, nesses dias, foram mais de cem pedidos de entrevistas ou declarações. Nem que eu contasse com uma equipe de secretários, teria como responder a todos e muito menos como atendê-los. Por isso, aproveito a oportunidade para desculpar-me. Creiam, não se trata de descortesia ou desapreço pelos repórteres, produtores ou entrevistadores que me procuraram.

(2) Além disso, não tenho informações de bastidor que mereçam divulgação. Por outro lado, não faria sentido jogar pelo ralo a credibilidade que construí ao longo da vida. E isso poderia acontecer se eu aceitasse aparecer na TV, no rádio ou nos jornais, glosando os discursos oficiais que estão sendo difundidos, declamando platitudes, reproduzindo o senso comum pleno de preconceitos, ou divagando em torno de especulações. A situação é muito grave e não admite leviandades. Portanto, só faria sentido falar se fosse para contribuir de modo eficaz para o entendimento mais amplo e profundo da realidade que vivemos. Como fazê-lo em alguns parcos minutos, entrecortados por intervenções de locutores e debatedores? Como fazê-lo no contexto em que todo pensamento analítico é editado, truncado, espremido – em uma palavra, banido -, para que reinem, incontrastáveis, a exaltação passional das emergências, as imagens espetaculares, os dramas individuais e a retórica paradoxalmente triunfalista do discurso oficial?

(3) Por fim, não posso mais compactuar com o ciclo sempre repetido na mídia: atenção à segurança nas crises agudas e nenhum investimento reflexivo e informativo realmente denso e consistente, na entressafra, isto é, nos intervalos entre as crises. Na crise, as perguntas recorrentes são: (a) O que fazer, já, imediatamente, para sustar a explosão de violência? (b) O que a polícia deveria fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas? (c) Por que o governo não chama o Exército? (d) A imagem internacional do Rio foi maculada? (e) Conseguiremos realizar com êxito a Copa e as Olimpíadas?

Ao longo dos últimos 25 anos, pelo menos, me tornei “as aspas” que ajudaram a legitimar inúmeras reportagens. No tópico, “especialistas”, lá estava eu, tentando, com alguns colegas, furar o bloqueio à afirmação de uma perspectiva um pouquinho menos trivial e imediatista. Muitas dessas reportagens, por sua excelente qualidade, prescindiriam de minhas aspas – nesses casos, reduzi-me a recurso ocioso, mera formalidade das regras jornalísticas. Outras, nem com todas as aspas do mundo se sustentariam. Pois bem, acho que já fui ou proporcionei aspas o suficiente. Esse código jornalístico, com as exceções de praxe, não funciona, quando o tema tratado é complexo, pouco conhecido e, por sua natureza, rebelde ao modelo de explicação corrente. Modelo que não nasceu na mídia, mas que orienta as visões aí predominantes. Particularmente, não gostaria de continuar a ser cúmplice involuntário de sua contínua reprodução.

Eis por que as perguntas mencionadas são expressivas do pobre modelo explicativo corrente e por que devem ser consideradas obstáculos ao conhecimento e réplicas de hábitos mentais refratários às mudanças inadiáveis. Respondo sem a elegância que a presença de um entrevistador exigiria. Serei, por assim dizer, curto e grosso, aproveitando-me do expediente discursivo aqui adotado, em que sou eu mesmo o formulador das questões a desconstruir. Eis as respostas, na sequência das perguntas, que repito para facilitar a leitura:

O que fazer, já, imediatamente, para sustar a violência e resolver o desafio da insegurança?

Nada que se possa fazer já, imediatamente, resolverá a insegurança. Quando se está na crise, usam-se os instrumentos disponíveis e os procedimentos conhecidos para conter os sintomas e salvar o paciente. Se desejamos, de fato, resolver algum problema grave, não é possível continuar a tratar o paciente apenas quando ele já está na UTI, tomado por uma enfermidade letal, apresentando um quadro agudo. Nessa hora, parte-se para medidas extremas, de desespero, mobilizando-se o canivete e o açougueiro, sem anestesia e assepsia. Nessa hora, o cardiologista abre o tórax do moribundo na maca, no corredor. Não há como construir um novo hospital, decente, eficiente, nem para formar especialistas, nem para prevenir epidemias, nem para adotar procedimentos que evitem o agravamento da patologia. Por isso, o primeiro passo para evitar que a situação se repita é trocar a pergunta. O foco capaz de ajudar a mudar a realidade é aquele apontado por outra pergunta: o que fazer para aperfeiçoar a segurança pública, no Rio e no Brasil, evitando a violência de todos os dias, assim como sua intensificação, expressa nas sucessivas crises?

Se o entrevistador imaginário interpelar o respondente, afirmando que a sociedade exige uma resposta imediata, precisa de uma ação emergencial e não aceita nenhuma abordagem que não produza efeitos práticos imediatos, a melhor resposta seria: caro amigo, sua atitude representa, exatamente, a postura que tem impedido avanços consistentes na segurança pública. Se a sociedade, a mídia e os governos continuarem se recusando a pensar e abordar o problema em profundidade e extensão, como um fenômeno multidimensional a requerer enfrentamento sistêmico, ou seja, se prosseguirmos nos recusando, enquanto Nação, a tratar do problema na perspectiva do médio e do longo prazos, nos condenaremos às crises, cada vez mais dramáticas, para as quais não há soluções mágicas.

A melhor resposta à emergência é começar a se movimentar na direção da reconstrução das condições geradoras da situação emergencial. Quanto ao imediato, não há espaço para nada senão o disponível, acessível, conhecido, que se aplica com maior ou menor destreza, reduzindo-se danos e prolongando-se a vida em risco.

A pergunta é obtusa e obscurantista, cúmplice da ignorância e da apatia.

O que as polícias fluminenses deveriam fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas?

Em primeiro lugar, deveriam parar de traficar e de associar-se aos traficantes, nos “arregos” celebrados por suas bandas podres, à luz do dia, diante de todos. Deveriam parar de negociar armas com traficantes, o que as bandas podres fazem, sistematicamente. Deveriam também parar de reproduzir o pior do tráfico, dominando, sob a forma de máfias ou milícias, territórios e populações pela força das armas, visando rendimentos criminosos obtidos por meios cruéis.

Ou seja, a polaridade referida na pergunta (polícias versus tráfico) esconde o verdadeiro problema: não existe a polaridade. Construí-la – isto é, separar bandido e polícia; distinguir crime e polícia – teria de ser a meta mais importante e urgente de qualquer política de segurança digna desse nome. Não há nenhuma modalidade importante de ação criminal no Rio de que segmentos policiais corruptos estejam ausentes. E só por isso que ainda existe tráfico armado, assim como as milícias.

Não digo isso para ofender os policiais ou as instituições. Não generalizo. Pelo contrário, sei que há dezenas de milhares de policiais honrados e honestos, que arriscam, estóica e heroicamente, suas vidas por salários indignos. Considero-os as primeiras vítimas da degradação institucional em curso, porque os envergonha, os humilha, os ameaça e acua o convívio inevitável com milhares de colegas corrompidos, envolvidos na criminalidade, sócios ou mesmo empreendedores do crime.

Não nos iludamos: o tráfico, no modelo que se firmou no Rio, é uma realidade em franco declínio e tende a se eclipsar, derrotado por sua irracionalidade econômica e sua incompatibilidade com as dinâmicas políticas e sociais predominantes, em nosso horizonte histórico. Incapaz, inclusive, de competir com as milícias, cuja competência está na disposição de não se prender, exclusivamente, a um único nicho de mercado, comercializando apenas drogas –mas as incluindo em sua carteira de negócios, quando conveniente. O modelo do tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado, pesado, anti-econômico: custa muito caro manter um exército, recrutar neófitos, armá-los (nada disso é necessário às milícias, posto que seus membros são policiais), mantê-los unidos e disciplinados, enfrentando revezes de todo tipo e ataques por todos os lados, vendo-se forçados a dividir ganhos com a banda podre da polícia (que atua nas milícias) e, eventualmente, com os líderes e aliados da facção. É excessivamente custoso impor-se sobre um território e uma população, sobretudo na medida que os jovens mais vulneráveis ao recrutamento comecem a vislumbrar e encontrar alternativas. Não só o velho modelo é caro, como pode ser substituído com vantagens por outro muito mais rentável e menos arriscado, adotado nos países democráticos mais avançados: a venda por delivery ou em dinâmica varejista nômade, clandestina, discreta, desarmada e pacífica. Em outras palavras, é melhor, mais fácil e lucrativo praticar o negócio das drogas ilícitas como se fosse contrabando ou pirataria do que fazer a guerra. Convenhamos, também é muito menos danoso para a sociedade, por óbvio.

O Exército deveria participar?

Fazendo o trabalho policial, não, pois não existe para isso, não é treinado para isso, nem está equipado para isso. Mas deve, sim, participar. A começar cumprindo sua função de controlar os fluxos das armas no país. Isso resolveria o maior dos problemas: as armas ilegais passando, tranquilamente, de mão em mão, com as benções, a mediação e o estímulo da banda podre das polícias.

E não só o Exército. Também a Marinha, formando uma Guarda Costeira com foco no controle de armas transportadas como cargas clandestinas ou despejadas na baía e nos portos. Assim como a Aeronáutica, identificando e destruindo pistas de pouso clandestinas, controlando o espaço aéreo e apoiando a PF na fiscalização das cargas nos aeroportos.

Wikileaks no Estado.

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Ahmadinejad citou Brasil para justificar programa nuclear, revela WikiLeaks

Em encontro com Putin em Teerã, líder iraniano diz que o Irã não estava fazendo nada diferente do que o País na esfera atômica; diplomatas ocidentais manifestam preocupação com a atuação do governo brasileiro e criticam interferência nos planos de sanções

30 de novembro de 2010 | 0h 00
Andrei Netto CORRESPONDENTE / PARIS - O Estado de S.Paulo

Os documentos secretos revelados pelo site WikiLeaks comprovam como era tratada nos bastidores a preocupação crescente da comunidade internacional com as relações entre Brasil e Irã entre 2009 e 2010. Em um diálogo com o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, em Teerã, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, argumentou que seu país "não estava fazendo nada diferente do Brasil na esfera nuclear".

Mikhail Klimentyev/AFP
Mikhail Klimentyev/AFP
Encontro. Ahmadinejad (D) recebe Putin em Teerã: líder russo rejeita argumento do Irã e diz que 'Brasil não fica no Oriente Médio'

Putin teria retrucado afirmando que o Brasil "não se localiza no Oriente Médio".

Em Washington, Paris, Berlim e Moscou, diplomatas defenderam o aumento da pressão contra Ahmadinejad e manifestaram preocupação com a atuação do governo brasileiro. Em diferentes mensagens, a política externa brasileira foi criticada por atrapalhar os planos de sanções. O Brasil é tido como líder emergente que precisa ser atraído.

Segundo pesquisas nos documentos confidenciais ou secretos revelados até aqui, o Brasil entra na lista de preocupações das potências internacionais a partir do início 2009. Segundo relato do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, ao embaixador americano em Moscou em abril do ano passado, o Brasil era usado como álibi por Ahmadinejad quando o assunto era o programa nuclear.

Veja também:
link
WikiLeaks revela segredos da diplomacia americana
linkOs líderes mundiais sob o olhar dos diplomatas americanos

A posição de Brasília volta a ser comentada, desta vez em conversa telefônica entre o líder francês, Nicolas Sarkozy, e o presidente dos EUA, Barack Obama, em novembro de 2009.

Na ocasião, o embaixador americano relata que as altas esferas diplomáticas francesas estão preocupadas com a perda de apoio da opinião pública contra o Irã, porque países como China, Turquia e Brasil continuavam a manter relações diplomáticas ou comerciais com o Irã. O texto cita a visita de Ahmadinejad ao Brasil, em novembro de 2009.

"Países continuam a engajar relações diplomáticas e comerciais com o Irã (a exemplo dos interesses comerciais chineses, da recente visita do primeiro-ministro turco ao Irã e da visita do presidente iraniano Ahmadinejad ao Brasil)", diz o documento, classificado como secreto.

Em 2010, a preocupação com a posição brasileira aumenta e autoridades francesas advertem que o Brasil pode não conhecer o limite da negociação com o Irã. Em maio, o Brasil e a Turquia tentariam intermediar um acordo com o Irã que permitisse a troca de urânio por combustível nuclear para um reator de pesquisas médicas. O acordo seria muito criticado pela comunidade internacional. Em fevereiro, o governo da Alemanha ressaltaria aos americanos a necessidade de seduzir o Brasil, considerado "líder de opinião no Terceiro Mundo".

Em reuniões diplomáticas realizadas em 2010 e 2009, diplomatas dos EUA, França, Alemanha e Rússia tratam da influência brasileira na questão nuclear; Ahmadinejad diz a Putin que "não faz nada diferente do Brasil"

Em agosto de 2009, em uma reunião com a ministra-conselheira americana Kathleen H. Allegrone, em Paris, dois assessores diretos de Sarkozy ressaltaram a necessidade de aumentar a pressão sobre o Irã, para que o país abandonasse seu programa nuclear. François Richier e Patrice Paoli, conselheiros de Assuntos Estratégicos e de Oriente Médio, respectivamente, exortam ainda os EUA a se aproximar de países como o Brasil.


OUTROS SEGREDOS

Zelaya sofreu "golpe de Estado"

A embaixada americana em Tegucigalpa esclareceu, em junho de 2009, que o então presidente hondurenho, Manuel Zelaya, havia sido deposto por "um golpe inconstitucional e ilegal". Esse era o teor da mensagem enviada ao Departamento de Estado.


Elo Chávez-Lugo foi investigado

Diplomatas da Embaixada dos EUA em Assunção tentaram investigar ao longo de 2008 se o presidente venezuelano, Hugo Chávez, estava financiando a campanha do então candidato paraguaio Fernando Lugo, que acabou eleito presidente.


Saúde mental de Cristina preocupa

A diplomacia americana mostrou preocupação com a "saúde mental" da presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner. Hillary Clinton chegou a pedir um relatório sobre o estado de saúde mental da mandatária argentina.


Ambulâncias com arma do Hezbollah

Ambulâncias iranianas do Crescente Vermelho, a versão da Cruz Vermelha para países islâmicos, foram usadas para contrabandear armas do Irã para o grupo xiita libanês Hezbollah durante a guerra com Israel em 2006, segundo a diplomacia israelense.


Khamenei teria câncer terminal

Um empresário da Ásia Central, que viaja com frequência a Teerã, soube por um dos seus contatos que (o ex-presidente iraniano Ali Akbar) Rafsanjani lhe contou que o aiatolá Ali Khamenei tem leucemia em estágio terminal e pode morrer em meses.


Retirada de urânio do Paquistão

EUA temiam que material radioativo fosse usado em ataques terroristas. Desde 2007, Washington tenta remover urânio altamente enriquecido de um reator do Paquistão. Islamabad ainda se recusa a aceitar uma visita de especialistas dos EUA.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

De Emerson Lopes.

Prioridade normal Cinismo made in Brazil

De:
Emerson Lopes


É o que aparece nos filmes: "Cidade de Deus"; "Tropa de Elite 1 e 2"; "Meu nome não é Johnny", entre outros;
Mas que causaram apenas risinhos de canto de boca (alguns nitidamente encabulados) à audiência do circuito cult de cinema de Sampa, por exemplo (Espaço Unibanco de Cinema, Belas Artes etc) todos lugares frequentados por universtários dee renomadas universidades, professsores, jornalistas, artistas e intelectuais, portanto a dita classe pensante deste país.
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Fonte: Jornal de Brasília

Sylvio Guedes, editor-chefe do Jornal de Brasília, critica o "cinismo" dos jornalistas, artistas e intelectuais ao defenderem o fim do poder paralelo dos chefes do tráfico de drogas. Guedes desafia a todos que "tanto se drogaram nas últimas décadas que venham a público assumir: eu ajudei a destruir o Rio de Janeiro".

Leia o artigo na íntegra:

É irônico que a classe artística e a categoria dos jornalistas estejam agora na, por assim dizer, vanguarda da atual campanha contra a violência enfrentada pelo Rio de Janeiro. Essa postura é produto do absoluto cinismo de muitas das pessoas e instituições que vemos participando de atos, fazendo declarações e defendendo o fim do poder paralelo dos chefões do tráfico de drogas.

Quando a cocaína começou a se infiltrar de fato no Rio de Janeiro, lá pelo fim da década de 70, entrou pela porta da frente. Pela classe média, pelas festinhas de embalo da Zona Sul, pelas danceterias, pelos barzinhos de Ipanema e Leblon. Invadiu e se instalou nas redações de jornais e nas emissoras de TV, sob o silêncio comprometedor de suas chefias e diretorias.

Quanto mais glamuroso o ambiente, quanto mais supostamente intelectualizado o grupo, mais você podia encontrar gente cheirando carreiras e carreiras do pó branco. Em uma espúria relação de cumplicidade, imprensa e classe artística (que tanto se orgulham de serem, ambas, formadoras de opinião) de fato contribuíram enormemente para que o consumo das drogas, em especial da cocaína, se disseminasse
no seio da sociedade carioca - e brasileira, por extensão. Achavam o
máximo; era, como se costumava dizer, um barato.

Festa sem cocaína era festa careta. As pessoas curtiam a comodidadeproporcionada pelos fornecedores: entregavam a droga em casa, sem a necessidade de inconvenientes viagens ao decaído mundo dos morros, vizinhos aos edifícios ricos do asfalto.

Nem é preciso detalhar como essa simples relação econômica de mercado terminou. Onde há demanda, deve haver a necessária oferta. E assim,com tanta gente endinheirada disposta a cheirar ou injetar sua dose diária de cocaína, os pés-de-chinelo das favelas viraram barões das drogas.

Há farta literatura mostrando como as conexões dos meliantes rastacuera, que só fumavam um baseado aqui e acolá, se tornaram senhores de um império, tomaram de assalto a mais linda cidade do país e agora cortam cabeças de quem ousa lhes cruzar o caminho e as exibem em bandejas, certos da impunidade.

Qualquer mentecapto sabe que não pode persistir um sistema jurídico em que é proibida e reprimida a produção e venda da droga, porém seu consumo é, digamos assim, tolerado. São doentes os que consomem. Não sabem o que fazem. Não têm controle sobre seus atos. Destroem
famílias, arrasam lares, destroçam futuros.

Que a mídia, os artistas e os intelectuais que tanto se drogaram nas três últimas décadas venham a público assumir:"Eu ajudei a destruir o Rio de Janeiro".
Façam um adesivo e preguem no vidro de seus Audis, BMWs e Mercedes.

No De rerum natura...a pobre e triste verdade.

Segunda-feira, 29 de Novembro de 2010

A profissão de professor desaparece...

Segue-se um extracto duma entrevista de Mário Crespo a José Gil, que passou na Sic Notícias, em 27 de Novembro passado. São palavras absolutamente sinceras e verdadeiras as do filósofo e professor, tão sinceras e verdadeiras que deviam fazer parar o país para pensar no rumo que tomará, ou que já está a tomar, pelo facto de os bons professores serem obrigados a desistir de ensinar: por abandono da profissão, por fadiga, por desnorte...

Mário Crespo: Uma estratégia seguida por este Ministério (…) é exigir ao professor uma ocupação total na sua tarefa, total, para lá das horas do humanamente aceitável (…) para lá das 35 horas obrigatórias, para dentro das pausas lectivas – expressão nova –, o trabalho do professor deve integrar e devorar o tempo de vida privada, de lazer (…), professor só pode ser professor (…) deixa de ser homem, deixa de ser mulher...

José Gil: Isso é quase um homicídio da profissão. A profissão de professor desaparece. Desaparece, porque é impossível fazer isso (…). Estou a lembrar-me de Paul Lenoir, um poeta, que dizia que para fazer boa poesia é preciso não fazer nada (…). É preciso que haja pausa, desafio, reflexão ruminação (….). Eu sou professor, sei que estou a defender a minha causa, mas há vocações extraordinárias, muito maiores que a minha, muito mais admiráveis que eu vejo em professores do secundário, por exemplo (...) pessoas que gostam de ensinar, que adoravam fazer o que estavam a fazer e essas pessoas vão-se embora, foram-se embora (…) sobretudo (…) porque ficam tão desgostosas por elas mesmas, por terem que fazer qualquer coisa que não gostam, que é lhe destrói uma missão...

Uma lembrança do passado, absolutamente passado... Seminário sobre Ética e Decoro, Câmara dos Deputados.

Os três §§ finais do texto abaixo são muito próprios aos nossos dias...RR

"Os senhores (deputados, em Brasília) conhecem como ninguém a violência tradicional da sociedade brasileira, que se prolonga e agrava em nossos dias. Em nossa vida civil, a morte ronda as relações de vizinhança, de parentesco, comerciais, políticas, ideológicas. A capangagem, a prática do escravismo, o uso de mão de obra barata e jovem no tráfico de drogas, a barbaridade do trânsito urbano e nas estradas, as fraudes, o assassinato de mulheres pelos maridos em nome da pretensa honra, o estupro de crianças em pleno lar, os abortos clandestinos que jogam o nada sobre embriões e corpos de jovens mulheres aos milhares, as lutas ao redor da terra, o desprezo pelos pobres postos em mãos médicas canhestras ou de má fé, o descontrole das polícias cuja opção preferencial é pelos negros e demais negativamente privilegiados, os plágios universitários, a espionagem industrial, e temos uma lista infindável de crimes e práticas letais saídas da caixa de Pandora chamada sociedade civil brasileira.

Nesse universo de tristeza infinita, a confiança na palavra dos governantes e dos legisladores é o único meio de fazer com que os cidadãos abandonem as suas armas ou deixem de serem cúmplices ou vítimas dos que estão fora da lei. Quem frauda um painel de votação ou mente da tribuna, quem se apodera de bens públicos no orçamento nacional, quem desvia recursos para sua conta privada, comete crime de lesa fé pública e de golpe contra o Estado. Quem promete algo nos palanques e pratica o seu oposto nos palácios, dá um passo tremendo rumo à redução do povo soberano ao estatuto de vulgo sem dignidade. Ensina que a palavra dada não tem substância. E sem palavra confiável não existe Parlamento, porque o próprio nome, Parlamento, é o lugar que sucedeu a prática racional grega do Logos, do discurso racional que tranquiliza e protege os cidadãos. É isto que diz Canetti ao criticar os que adulteram votos. Eles, na verdade, desejam regimes sem votos, regimes onde o único voto permitido é a morte na guerra de cada um contra todos.

Senhores: citei o ensinamento dos maiores mestres do Estado para introduzir o nosso problema, justamente numa Casa abalada nas últimas décadas por gravíssimos atentados à ética e ao decoro. Em termos pessoais, como professor de ética na universidade pública, não me furtei à crítica e à análise pública daqueles problemas. Fui inclusive processado por um de seus pares porque não me calei diante de atentados às exigências éticas. Absolvido pela Justiça, continuo acreditando que o Parlamento é a via para atenuarmos a guerra de todos contra todos, gravíssima no Brasil. Se o Estado perde sua força e a fé pública, ganham terreno as potências da morte genérica, vencem os bandidos. É sintomático que as quadrilhas organizadas dominem parte do território de nossas grandes cidades, definam espaços de quase soberania (inclusive arregimentando colaboradores nos três poderes oficiais) na mesma proporção em que a cidadania perde a confiança no regime democrático e na política. Se fracassar no Brasil a vida dos parlamentos, a voragem da morte levará nossa esperança de vida, em primeiro lugar, e de vida livre e digna"





http://camara.gov.br/internet/ConsEtica/default.asp
Brasil Câmara dos Deputados.
CONSELHO DE ÉTICA E DECORO PARLAMENTAR

52ª Legislatura - 1ª Sessão Legislativa

Spinoza e Canetti: em torno do necessário decorum parlamentar.

Dr.Roberto Romano/Unicamp.



No capítulo quarto do Tratado Político Spinoza —o autor da mais importante ética moderna— discute os erros dos governos e dos que legislam em nome do povo soberano. 1Em primeiro lugar, ele analisa o problema que preocupou os pensadores gregos, os profetas de Israel, os juristas medievais e da Renascença e hoje é um item espinhoso dos regimes democráticos.(2) Seria o poder supremo (summa potestas) controlado pela ordem legal e poderia ele errar ? A resposta de Spinoza gerou as teses que produziram a Revolução Francêsa e a Revolução Americana : "erros" e "leis", afirma o filósofo, são palavras que designam, além dos direitos do Estado (civitatis iura), as leis comuns de toda a natureza. Consideradas as regras da razão, pode-se afirmar que o poder supremo estatal erra e se um Estado não tivesse leis nem regras, seria preciso enxergar nele uma quimera.


O Estado erra quando age ou permite comportamentos que o arruinem. Ele erra quando age contra a razão. Apenas se obedece os ditames da razão, o Estado é senhor de si mesmo (sui iuris). Quando um Estado age contra a razão e na medida em que o faz, ele destrói a si mesmo. Toda pessoa decide um negócio de seu interesse e age como lhe aprouver , mas tal poder deve ser medido tanto pela força do agente como pelas facilidades oferecidas pelo paciente. “Se digo que posso fazer desta mesa o que eu desejar, não entendo por isto que posso obrigá-la a comer
capim”.

De modo igual, “quando dizemos que os homens não regem a si mesmos, mas seguem o direito estatal (homines non sui, sed civitati iuris esse) não queremos dizer que eles perdem a sua natureza humana e revestem uma outra. O Estado não tem a força, e portanto o direito, de fazer com que os homens tenham asas para voar, ou, o que é tão impossível quanto, que eles considerem com respeito o que excita o riso ou o desgosto.”

Em determinadas condições “o poder estatal inspira aos cidadãos medo e respeito (reverentia et metus). Mas se tais condições forem perdidas, desaparecem respeito e medo "e o proprio Estado deixa de existir. Logo, o Estado, para permanecer senhor de si mesmo (sui iuris) é obrigado a manter as causas de medo e de respeito, sem o que ele não é mais um Estado. Os detentores do poder público (imperium) não podem, igualmente, apresentar-se em estado de embriaguez ou despidos na companhia de prostitutas, agir como palhaços, violar e desprezar abertamente as leis estabelecidas por eles mesmos, e assim agindo conservar a sua majestade. Isto é tão impossível para eles quanto ser e não ser ao mesmo tempo. Trucidar os cidadãos, despojá-los
de seus bens espoliando-os, violar mulheres e outras coisas semelhantes, é mudar o medo em indignação e como resultado, o estado civil em estado de guerra". (3 )

Impossível lição mais contundente sobre a ética dos que legislam e administram o Estado. Spinoza não aceita a tese hobbesiana, que enuncia um pacto no qual os indivíduos perdem a liberdade política em favor do soberano. Este, no pensamento de Hobbes, assume a função de árbitro inquestionável das questões civís e jurídicas. Para que seja atenuada a guerra de todos contra todos, Hobbes não define o soberano como juiz, pois este deveria seguir leis prévias. O filósofo inglês pensa o governante desligado (ab-soluto) das leis. Assim, ele não erra, porque nada tem diante de si para comandar a sua decisão. Os indivíduos, lobos uns dos outros, escolhem não continuar a matança e seguem a razão, o cálculo da sobrevivência, e obedecem a decisão de um árbitro contra o qual não lhes é mais lícito apelar. O arbítrio do soberano é a essência do Estado.

Spinoza recusa esse arbítrio e indica o Estado apenas como o instrumento para aumentar a potência dos cidadãos. Eles não perdem o estatuto de soberanos em prol de um rei ou de uma Assembléia, como ocorria em Hobbes. Reunidos no Estado, eles não o perdem, na exata medida em que, ao entrar em acordo entre sí, não deixam de ser indivíduos livres. Eles não podem abandonar a sua condição natural. Deus, para Spinoza, é a substância infinita que possui atributos infinitos dos quais nós, os homens, expressamos dois apenas : o pensamento e a extensão. Não renunciamos, no Estado, à liberdade do pensamento, visto que somos apenas a individuação daquele atributo divino infinito. Não podemos alienar o divino que está em nós. Não renunciamos ao nosso corpo, visto também que somos a individuação do atributo infinito e divino que o contem. Deste modo, contra Hobbes, não negamos a nossa capacidade de pensamento ou força corporal quando a vida pública é instaurada. (4)

Quem administra o Estado e para ele legisla deve levar em conta aquelas duas forças, a do pensamento e a dos corpos. Se as ignora e desrespeita, luta contra a natureza. Daí o exemplo, à primeira vista estranho, da mesa. Como, se digo que tenho poder absoluto sobre a mesa eu não posso entretanto obrigá-la a comer, visto que sua essência é puramente espacial, nenhum governante ou legislador pode editar mandamentos que desrespeitem a natureza dos homens, seres que pensam, desejam, têm paixões. Os homens pensam e possuem uma força lógica comum, a qual não suporta a contradição. Quando os legisladores ordenam não roubar e roubam, ordenam respeitar a pátria e não respeitam, ordenam procedimentos honestos e agem de modo desonesto, eles são percebidos pela inteligência dos cidadãos. Como a cidadania pensa, fala, escreve, os governantes indecorosos tornam-se cedo ou tarde conhecidos como tal e perdem respeito e reverência. O Estado que deseja ordenar a si mesmo, segue a razão. E a razão recusa contradições. Uma lei é universal ou não é lei. Ela vale para todos e qualquer um dos indivíduos do coletivo, sejam eles cidadãos ou legisladores, ou perde seu caráter. E um Estado onde as leis não valem universalmente, segundo a razão, não é Estado, mas quimera.

Spinoza é absolutista ao modo democrático. O povo soberano, a base do Estado, não aceita que ao mesmo tempo sua majestade seja obedecida e não o seja. Isto é contraditório. Sempre que os governantes ou legisladores mentem, desobedecem as leis, agem de modo a negar a dignidade do cargo, insultam a inteligência e os sentimentos, os corpos dos cidadãos.

Na vida coletiva, cada indivíduo possui uma força adequada ao seu corpo e ao seu pensamento. Isolados, os homens possuem uma força pequena. Unidos, a sua potência comum é práticamente ilimitada. E todo indivíduo ou Estado tende a perseverar em seu poder, sem levar em conta nada que seja exterior. Deixado ao seu desenvolvimento natural, os corpos dos indivíduos tendem a se expandir e a se prolongar no tempo. A luta pela sobrevivência é a regra. Esta luta, segundo Spinoza, não é abolida no Estado. Este apenas reúne forças e as administra racionalmente, em proveito de todos e de cada um dos cidadãos. Para viver em segurança e do melhor modo possível, os indivíduos devem se entender e passar a seguir a razão, encarnada nas leis universais. (5)

Logo, "nenhum pacto poderia ser válido, a não ser por causa do interesse que apresenta ao que o conclui. Desaparece o interesse? O pacto, ferido de nulidade, desaparece. Toda pessoa que pede à uma outra uma palavra perpétua é louca". Os cidadãos obedecem enquanto isto lhes é útil e apenas quando notam que os demais cidadãos e os dirigentes e legisladores obedecem as regras comuns, as leis.

Todo homem tem um corpo com necessidades e desejos. "A mente humana" diz Spinoza, "é dominada pelo gosto do lucro, da vaidade, da inveja, da cólera, ao ponto em que a razão é emudecida". Nos homens comuns, as promessas "de manter a palavra e os empenhos solenes, não trazem nenhuma segurança total, a menos que uma garantia positiva a ela se acrescente". Esta garantia é a lei a ser mantida pelas autoridades e pelos legisladores, para exemplo e norma dos cidadãos. É deste modo que, enuncia Spinoza, os dirigentes não podem dar ordens contrárias aos interesses coletivos, mas devem agir de modo correto "e fundar seu governo em critérios racionais. (…) Num regime democrático, particularmente, as decisões absurdas não são muito temíveis, pois é quase impossível que a maioria dos homens, no interior de um coletivo considerável, coloquem-se de acordo com uma absurdidade". Se o alvo do Estado é fazer com que os indivíduos deixem os desejos pessoais e sigam a razão comum, vivam em paz, as autoridades não têm o direito de entravar esta via.

A regra obrigatória para os governantes que dão ordens —e legisladores— não deve ser a sua própria salvação, "mas a do povo inteiro". Na democracia, "nenhum indivíduo transfere seu direito natural a um outro (em proveito do qual aceitaria não mais ser consultado). Ele o transfere para a totalidade do coletivo que integram; os indivíduos permanecem assim todos iguais, como no estado de natureza". (6)

No capítulo 17 do Tratado Teológico-Político, Spinoza adverte contra o abuso, pelos governantes, da força física e do poder de constrangimento: "guardemo-nos de medir a potência de uma autoridade pelo medo que ela inspira, pois neste caso nenhuma seria mais considerável do que a exibida por um tirano". Ao mesmo tempo, "a fidelidade dos cidadãos, seu valor moral e sua constância na obediência das ordens recebidas são os fatores essenciais da conservação do Estado". Sim, mas os cidadãos integram ao mesmo tempo o Estado como sujeitos racionais de direito e vivem enquanto massa "regida, não pela racionalidade mas pelos sentimentos e seus impulsos, o que os expõe, enquanto massa, às corrupções da cupidez e do desregramento. Os indivíduos que compõem a massa acreditam, cada um deles, tudo saber e cada um deles quer tudo decidir ao seu modo, e os eventos lhes parecem justos ou iníquos, desejáveis ou funestos, segundo eles lhes trouxerem uma vantagem ou desvantagem. Por vaidade, eles desprezam seus semelhantes, dos quais não aceitam nenhum conselho; invejam a reputação ou a sorte dos que —eles os encontrarão sempre— são mais favorecidos; desejam a infelicidade alheia e se deliciam com isto. Detenhamos aqui esta enumeração, pois ninguém ignora a quantos crimes a insatisfação e o gosto da novidade, a violência sem freio e o horror da pobreza empurram frequentemente os homens". Com este panorama da massa onde lutam em guerra perene os indivíduos, diz Spinoza, "a organização do Estado, para remediar aqueles males, representa uma obra laboriosa, das mais árduas; trata-se de impedir todo jogo da desonestidade e criar as instituições que conduzirão os homens —qualquer que seja a sua disposição pessoal— a colocar sempre o direito do coletivo acima de sua vantagem particular".

Todos os indivíduos imersos na massa mantêm os seus interesses e precisam ser conduzidos ao interesse comum. Se enxergam autoridades e legisladores que agem de modo a perseguir os seus alvos particulares e usam o Estado para isto, perdem a confiança na própria união estatal. "A menos que sejam completamente barbaros, os homens não suportam ser abertamente enganados e perder sua condição de cidadania para submeter-se à de escravos impotentes para realizar o seu interesse próprio". Entre a massa e a cidadania ordenada racionalmente em Estado, há um salto proporcionado exatamente pela política. Ao contrário dos que defendem a repressão da massa, Spinoza enxerga na atividade política o meio de instituir o Estado democrático. A política, nele, é arte de transformar o vulgus em populo e o alvo "não é transformar os homens racionais em feras ou autômatos! O que se deseja dar-lhes é, pelo contrário, a plena latitude de viver em segurança as funções de seu corpo e de sua mente. Depois disto eles estarão em condições de raciocinar com maior liberdade, eles não mais se enfrentarão com as armas do ódio, da cólera, da astúcia e se tratarão mútuamente sem injustiça. Em resumo, o fim da organização no coletivo é a liberdade!".

A exposição de Spinoza é pouco idílica. Se os homens não percebem nos dirigentes e legisladores a disposição de seguir e dar exemplos de cuidado supremo com as causas públicas, e se os governantes agem nos cargos como simples particulares que buscam seu interesse pessoal, o resultado é a perda gradual, no início e absoluta, depois, da confiança no coletivo estatal. E isto joga toda a massa na sua condição de massa, de vulgus, ou seja, no estado de guerra de todos contra todos. A ética e o decoro das autoridades e legisladores são a mola mestra do Estado. Um atentado contra eles, no caso dos administradores e dos que legislam, são mais graves do que o crime comum, porque arrancam dos cidadãos a fé na república, na liberdade, na democracia. E os jogam no morticínio sem esperanças de sobrevivência.

Deixo o maior pensador democrático do século 17 e chego ao nosso tempo. Importante monumento político sobre a sociedade contemporânea e a violência societária, é o livro de Elias Canetti, Massa e Poder. Expositor frio dos fenômenos que levaram aos desastres nazistas e fascistas e a todas as formas totalitárias e genocidas do século 20, Canetti mostra até que ponto a voragem das massas pode ser conduzida nos genocídios dos campos de concentração onde milhões foram abatidos.

O capítulo de Massa e Poder mais grave para a questão da ética e do decoro parlamentares é o intitulado "A essência do sistema parlamentar". Nele, Canetti mostra que a política no Parlamento continua a guerra geral por outros meios. Os senhores sabem que esta tese vem de Clausewitz e define até hoje o pensamento estratégico das potências imperiais. A continuação da política na guerra, como a continuação da guerra na política são lados complementares, teorizados por Hobbes, por Maquiavel, por Platão e por Tucídides. Mas Clausewitz deu aos dois enunciados a sua abrangência máxima.

Em Massa e Poder o parlamento é um campo de guerra prolongado. Os partidos constituem a extensão da estrutura psicológica dos exércitos combatentes. A essência parlamentar encontra-se nesse elemento bélico. A diferença encontra-se no fato de que a guerra no Parlamento é feita para avitar a guerra civil. Enquanto nesta última todos podem ser mortos, no Parlamento são escolhidos indivíduos que lutam em nome dos interesses de seus eleitores, mas não podem ser mortos. Este é o pleno sentido da imunidade parlamentar. Em vez das balas e das baionetas, os votos no plenário. Esta garantia repercute na vida civil, que vive sempre na guerra, dando- lhe condições de prolongar a vida.

"Numa votação parlamentar não há nada a ser feito senão verificar a força de ambos os grupos num mesmo lugar. Não basta que se conheça isto desde o princípio. Um partido pode contar com 360 delegados e o outro com 240; a votação continua sendo decisiva em todos os instantes em que existe uma verdadeira medição. Ela é o resquício do choque sangrento que se expressa de múltiplas maneiras com ameaças, insultos e agressão física, que pode levar a golpes ou a lutas. Mas a contagem dos votos representa o final da batalha. Supõe-se que os 360 tenham triunfado sobre os 240. A massa dos mortos fica fora do jogo. Dentro do Parlamento não deve haver mais mortos. Esta intenção é expressa da maneira mais clara na imunidade parlamentar, que tem um aspecto duplo: fora, em relação ao governo e aos seus órgãos; dentro, entre os seus pares (este segundo ponto geralmente não recebe a devida atenção).

Ninguém jamais acreditou realmente que a opinião da maioria numa votação seja, devido ao seu maior peso, também a mais sensata. Vontade confronta-se com vontade, como numa guerra; cada uma destas vontades tem a convicção do maior direito próprio e da própria razão(…) O sentido de um partido consiste justamente em manter vivas esta vontade e esta convicção. O adversário que fica em minoria não se submete porque de repente tenha deixado de acreditar em seu direito, mas apenas porque se dá por vencido. É fácil para ele dar-se por vencido, pois nada lhe sucede. Ele não é castigado por sua atitude hostil anterior. Caso se tratasse de colocar sua vida em jogo, ele reagiria de forma complemente diferente Ele conta porém com batalhas futuras. E o número destas batalhas não tem limite fixado e ele não morre em batalha alguma".

A imunidade contra a morte é a essência de todas as demais imunidades parlamentares e a fonte de todas as garantias dadas aos cidadãos que seguem a lei redigida pelo Parlamento, sancionada e imposta pelo Executivo, julgada pelo Judiciário. O sistema representativo só funciona se ela existir. "Ele desmorona", diz Canetti, "assim que algum posto seja ocupado por alguém que se permita contar com a morte de qualquer um dos membros da corporação" parlamentar. "Nada é
mais perigoso do que ver mortos entre vivos. Uma guerra é uma guerra porque inclui mortos em seu resultado. Um parlamento só é um parlamento enquanto excluir os mortos". Com a imunidade parlamentar vive e morre o parlamento de qualquer país.

Na eleição geral, a imunidade estratégica ainda não é a dos eleitores, mas a das cédulas de votação. "É permitido influenciar os eleitores de quase todas as maneiras, até o momento em que eles se comprometem definitivamente com o nome de sua preferência, que o escrevem ou que o assinalam. O candidato oposto é ironizado e entregue ao ódio generalizado de todas as maneiras possíveis. O eleitor pode parecer que não se decide em muitas batalhas eleitorais; se ele tiver orientação política, seus destinos variáveis têm para ele o maior dos encantos".

A sacralidade do voto nas cédulas e a votação sem mortes, a imunidade parlamentar, afastam a matança que se mantem na vida civil. Todos os votos, o dos cidadãos e dos parlamentares, são anotados em números. "Quem joga com estes números, quem os adultera, quem os falsifica, volta a dar lugar à morte e nem sequer se apercebe disto. Os entusiasmados amantes da guerra, que gostam de fazer pouco das cédulas de votação, confessam desta forma suas próprias sangrentas intenções. As cédulas de votação, da mesma forma como os tratados, não passam de simples pedaços de papel para eles. Como estes papéis não estão manchados de sangue, não têm valor para eles; para eles valem apenas as decisões pelo sangue. O deputado é um eleitor concentrado; os momentos muito isolados em que o eleitor existe como tal acumulam-se muito mais para o deputado. Ele existe justamente para votar com frequência. Mas também é muito menor o número de pessoas entre as quais o delegado vota. Sua intensidade e o seu exercício devem substituir em excitação o que os eleitores extraem de seus grandes números". (7)


Tanto o pensador político do século 17, quanto o premio Nobel no vinte, mostram a importância da ética e do decoro parlamentar para a vida em segurança mínima dos homens reunidos em sociedade. Segundo ambos, a guerra de todos contra todos não é abolida com o advento do Estado. Ela continua na vida civil, com toda a violência. O meio para atenuá-la é justamente a tarefa dos legisladores e dos governantes, os quais têm imunidade como se fossem portadores de bandeiras brancas no debate que suspende, no âmbito dos parlamentos, a matança, a cobiça, a rapacidade, os truques que os indivíduos e grupos usam uns contra os outros. Se existe fraude na
bandeira, se existem pessoas que se julgam acima dos regimentos e das leis porque investidas da função parlamentar, se existe atentado à ética e ao decoro, desaparece o Estado, instaura-se a morte e a guerra como fruto daqueles atentados.

Os senhores (deputados, em Brasília) conhecem como ninguém a violência tradicional da sociedade brasileira, que se prolonga e agrava em nossos dias. Em nossa vida civil, a morte ronda as relações de vizinhança, de parentesco, comerciais, políticas, ideológicas. A capangagem, a prática do escravismo, o uso de mão de obra barata e jovem no tráfico de drogas, a barbaridade do trânsito urbano e nas estradas, as fraudes, o assassinato de mulheres pelos maridos em nome da pretensa honra, o estupro de crianças em pleno lar, os abortos clandestinos que jogam o nada sobre embriões e corpos de jovens mulheres aos milhares, as lutas ao redor da terra, o desprezo pelos pobres postos em mãos médicas canhestras ou de má fé, o descontrole das polícias cuja opção preferencial é pelos negros e demais negativamente privilegiados, os plágios universitários, a espionagem industrial, e temos uma lista infindável de crimes e práticas letais saídas da caixa de Pandora chamada sociedade civil brasileira.

Nesse universo de tristeza infinita, a confiança na palavra dos governantes e dos legisladores é o único meio de fazer com que os cidadãos abandonem as suas armas ou deixem de serem cúmplices ou vítimas dos que estão fora da lei. Quem frauda um painel de votação ou mente da tribuna, quem se apodera de bens públicos no orçamento nacional, quem desvia recursos para sua conta privada, comete crime de lesa fé pública e de golpe contra o Estado. Quem promete algo nos palanques e pratica o seu oposto nos palácios, dá um passo tremendo rumo à redução do povo soberano ao estatuto de vulgo sem dignidade. Ensina que a palavra dada não tem substância. E sem palavra confiável não existe Parlamento, porque o próprio nome, Parlamento, é o lugar que sucedeu a prática racional grega do Logos, do discurso racional que tranquiliza e protege os cidadãos. É isto que diz Canetti ao criticar os que adulteram votos. Eles, na verdade, desejam regimes sem votos, regimes onde o único voto permitido é a morte na guerra de cada um contra todos.

Senhores: citei o ensinamento dos maiores mestres do Estado para introduzir o nosso problema, justamente numa Casa abalada nas últimas décadas por gravíssimos atentados à ética e ao decoro. Em termos pessoais, como professor de ética na universidade pública, não me furtei à crítica e à análise pública daqueles problemas. Fui inclusive processado por um de seus pares porque não me calei diante de atentados às exigências éticas. Absolvido pela Justiça, continuo acreditando que o Parlamento é a via para atenuarmos a guerra de todos contra todos, gravíssima no Brasil. Se o Estado perde sua força e a fé pública, ganham terreno as potências da morte genérica, vencem os bandidos. É sintomático que as quadrilhas organizadas dominem parte do território de nossas grandes cidades, definam espaços de quase soberania (inclusive arregimentando colaboradores nos três poderes oficiais) na mesma proporção em que a cidadania perde a confiança no regime democrático e na política. Se fracassar no Brasil a vida dos parlamentos, a voragem da morte levará nossa esperança de vida, em primeiro lugar, e de vida livre e digna.



Notas

1
Analiso mais amplamente o problema da democracia e da soberania popular no pensamento de Spinoza no artigo “A igualdade, considerações críticas” publicado na Revista Brasileira de Direito Constitucional (Número 2, Jul./Dez. 2003, pp. 29 e ss). O texto foi publicado na Internet, de modo inédito, pelo Foglio Spinoziano. http://www.fogliospinoziano.it/ .
2
Cf. Ernst Kantorowickz, The King´s Two Bodies. A study in Mediaeval Political Theology. Princeton, University Press, 1979 (terceira impressão). No Brasil, o livro foi traduzido pela Editora Companhia das Letras.
3
Spinoza, Tratado Político, Capítulo 4, § 4 : Uso aqui a seguinte edição: Traité Politique, trad. Ch. Appuhn, Paris, Garnier-Flammarion1966, pp. 34-35. As obras de Spinoza em latim, das quais extraio as passagens ou termos essenciais, podem ser lidas em http://home.tiscali.be/rwmeijer/spinoza/index.html
4
Para uma outra análise do nexos contraditórios entre Hobbes e Spinoza, cf. Lazzeri, Christian: Droit, pouvoir et liberté. Spinoza critique de Hobbes. Paris, PUF, 1998. Um trabalho muito bem executado sobre o pensamento de Spinoza e de Hobbes no relativo à soberania, cf. no Foglio Spinoziano, o texto “La strategia della multitudinis potentia”, extraído do livro de Laurent Bove : La strategia del conatus (Ed. Ghibi). Infelizmente, só possuo do referido livro o excelente trecho publicado no Foglio Spinoziano.
5
Spinoza, Tratado Teológico-político, Capítulo 16. Na tradução de Ch. Apphun : Traité Théologico-Politique, Oeuvres de Spinoza (II), pp. 263 e ss.
6
Tratado Teológico-político, capítulo 16, ed. Apphun citada p. 268.
7
Cf. Elias Canetti, Massa e Poder, Trad. R. Krestan, Brasilia, Ed. Universidade de Brasilia/Melhoramentos, 1986, pp. 207 e ss.

Os "segredos" dos amigos do atual governo brasileiro, e do próximo, do próximo, do próximo....

State's Secrets

Around the World, Distress Over Iran

Reuters

MAY 7,2006 | TEHRAN | President Mahmoud Ahmadinejad of Iran, center with militia members, is distrusted by many leaders in the Middle East, according to diplomatic cables.

This article is by David E. Sanger, James Glanz and Jo Becker.

Readers' Comments

The Lede

What revelation from the secret documents did you find most interesting?

In late May 2009, Israel’s defense minister, Ehud Barak, used a visit from a Congressional delegation to send a pointed message to the new American president.

In a secret cable sent back to Washington, the American ambassador to Israel, James B. Cunningham, reported that Mr. Barak had argued that the world had 6 to 18 months “in which stopping Iran from acquiring nuclear weapons might still be viable.” After that, Mr. Barak said, “any military solution would result in unacceptable collateral damage.”

There was little surprising in Mr. Barak’s implicit threat that Israel might attack Iran’s nuclear facilities. As a pressure tactic, Israeli officials have been setting such deadlines, and extending them, for years. But six months later it was an Arab leader, the king of Bahrain, who provides the base for the American Fifth Fleet, telling the Americans that the Iranian nuclear program “must be stopped,” according to another cable. “The danger of letting it go on is greater than the danger of stopping it,” he said.

His plea was shared by many of America’s Arab allies, including the powerful King Abdullah of Saudi Arabia, who according to another cable repeatedly implored Washington to “cut off the head of the snake” while there was still time.

These warnings are part of a trove of diplomatic cables reaching back to the genesis of the Iranian nuclear standoff in which leaders from around the world offer their unvarnished opinions about how to negotiate with, threaten and perhaps force Iran’s leaders to renounce their atomic ambitions.

The cables also contain a fresh American intelligence assessment of Iran’s missile program. They reveal for the first time that the United States believes that Iran has obtained advanced missiles from North Korea that could let it strike at Western European capitals and Moscow and help it develop more formidable long-range ballistic missiles.

In day-by-day detail, the cables, obtained by WikiLeaks and made available to a number of news organizations, tell the disparate diplomatic back stories of two administrations pressed from all sides to confront Tehran. They show how President George W. Bush, hamstrung by the complexities of Iraq and suspicions that he might attack Iran, struggled to put together even modest sanctions.

They also offer new insights into how President Obama, determined to merge his promise of “engagement” with his vow to raise the pressure on the Iranians, assembled a coalition that agreed to impose an array of sanctions considerably harsher than any before attempted.

When Mr. Obama took office, many allies feared that his offers of engagement would make him appear weak to the Iranians. But the cables show how Mr. Obama’s aides quickly countered those worries by rolling out a plan to encircle Iran with economic sanctions and antimissile defenses. In essence, the administration expected its outreach to fail, but believed that it had to make a bona fide attempt in order to build support for tougher measures.

A Sense of Urgency

Feeding the administration’s urgency was the intelligence about Iran’s missile program. As it weighed the implications of those findings, the administration maneuvered to win Russian support for sanctions. It killed a Bush-era plan for a missile defense site in Poland — which Moscow’s leaders feared was directed at them, not Tehran — and replaced it with one floating closer to Iran’s coast. While the cables leave unclear whether there was an explicit quid pro quo, the move seems to have paid off.

There is also an American-inspired plan to get the Saudis to offer China a steady oil supply, to wean it from energy dependence on Iran. The Saudis agreed, and insisted on ironclad commitments from Beijing to join in sanctions against Tehran.

At the same time, the cables reveal how Iran’s ascent has unified Israel and many longtime Arab adversaries — notably the Saudis — in a common cause. Publicly, these Arab states held their tongues, for fear of a domestic uproar and the retributions of a powerful neighbor. Privately, they clamored for strong action — by someone else.

If they seemed obsessed with Iran, though, they also seemed deeply conflicted about how to deal with it — with diplomacy, covert action or force. In one typical cable, a senior Omani military officer is described as unable to decide what is worse: “a strike against Iran’s nuclear capability and the resulting turmoil it would cause in the Gulf, or inaction and having to live with a nuclear-capable Iran.”

Around the World, Distress Over Iran

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Still, running beneath the cables is a belief among many leaders that unless the current government in Tehran falls, Iran will have a bomb sooner or later. And the Obama administration appears doubtful that a military strike would change that.

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One of the final cables, on Feb. 12 of this year, recounts a lunch meeting in Paris between Hervé Morin, then the French defense minister, and Secretary of Defense Robert M. Gates. Mr. Morin raised the delicate topic of whether Israel could strike Iran without American support.

Mr. Gates responded “that he didn’t know if they would be successful, but that Israel could carry out the operation.”

Then he added a stark assessment: any strike “would only delay Iranian plans by one to three years, while unifying the Iranian people to be forever embittered against the attacker.”

In 2005, Iran abruptly abandoned an agreement with the Europeans and announced that it would resume uranium enrichment activities. As its program grew, beginning with a handful of centrifuges, so, too, did many Arab states’ fears of an Iranian bomb and exasperation over American inability to block Tehran’s progress.

To some extent, this Arab obsession with Iran was rooted in the uneasy sectarian division of the Muslim world, between the Shiites who rule Iran, and the Sunnis, who dominate most of the region. Those strains had been drawn tauter with the invasion of Iraq, which effectively transferred control of the government there from Sunni to Shiite leaders, many close to Iran.

In December 2005, the Saudi king expressed his anger that the Bush administration had ignored his advice against going to war. According to a cable from the American Embassy in Riyadh, the king argued “that whereas in the past the U.S., Saudi Arabia and Saddam Hussein had agreed on the need to contain Iran, U.S. policy had now given Iraq to Iran as a ‘gift on a golden platter.’ ”

Regional distrust had only deepened with the election that year of a hard-line Iranian president, Mahmoud Ahmadinejad.

During a meeting on Dec. 27, 2005, with the commander of the United States Central Command, Gen. John P. Abizaid, military leaders from the United Arab Emirates “all agreed with Abizaid that Iran’s new President Ahmadinejad seemed unbalanced, crazy even,” one cable reports. A few months later, the Emirates’ defense chief, Crown Prince Mohammed bin Zayed of Abu Dhabi, told General Abizaid that the United States needed to take action against Iran “this year or next.”

The question was what kind of action.

Previously, the crown prince had relayed the Emirates’ fear that “it was only a matter of time before Israel or the U.S. would strike Iranian nuclear facility targets.” That could provoke an outcome that the Emirates’ leadership considered “catastrophic”: Iranian missile strikes on American military installations in nearby countries like the Emirates.

Now, with Iran boasting in the spring of 2006 that it had successfully accomplished low-level uranium enrichment, the crown prince began to argue less equivocally, cables show. He stressed “that he wasn’t suggesting that the first option was ‘bombing’ Iran,” but also warned, “They have to be dealt with before they do something tragic.”

The Saudis, too, increased the pressure. In an April 2008 meeting with Gen. David H. Petraeus, then the incoming Central Command chief, the Saudi ambassador to Washington recalled the king’s “frequent exhortations to the U.S. to attack Iran,” and the foreign minister said that while he preferred economic pressure, the “use of military pressure against Iran should not be ruled out.”

Yet if the Persian Gulf allies were frustrated by American inaction, American officials were equally frustrated by the Arabs’ unwillingness to speak out against Iran. “We need our friends to say that they stand with the Americans,” General Abizaid told Emirates officials, according to one cable.

By the time Mr. Bush left office in January 2009, Iran had installed 8,000 centrifuges (though only half were running) and was enriching uranium at a rate that, with further processing, would let it produce a bomb’s worth of fuel a year. With that progress came increased Israeli pressure.

After the Israeli defense minister issued his ultimatum in May 2009, the chief of staff, Lt. Gen. Gabi Ashkenazi, followed up in November.

“There is still time for diplomacy, but we should not forget that Iran’s centrifuges are working day and night,” he told a delegation led by Representative Ike Skelton, the Democratic chairman of the House Armed Services Committee.

That, in turn, led Arab leaders to press even more forcefully for the United States to act — before Israel did. Crown Prince bin Zayed, predicting in July 2009 that an Israeli attack could come by year’s end, suggested the danger of appeasing Iran. “Ahmadinejad is Hitler,” he declared.

Seemingly taken aback, a State Department official replied, “We do not anticipate military confrontation with Iran before the end of 2009.”

So it was that the United States had put together a largely silent front of Arab states whose positions on sanctions and a potential attack looked much like Israel’s

Around the World, Distress Over Iran

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Despite an American trade embargo and several rounds of United Nations sanctions, the Bush administration had never forged the global coalition needed to impose truly painful international penalties on Iran. While France and Britain were supportive, countries like Germany, Russia and China that traded extensively with Iran were reluctant, at best.

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In the breach, the United States embarked on a campaign to convince foreign banks and companies that it was in their interest to stop doing business with Iran, by demonstrating how Tehran used its banks, ships, planes and front companies to evade existing sanctions and feed its nuclear and missile programs.

The cables show some notable moments of success, particularly with the banks. But they also make it clear that stopping Iran from obtaining needed technology was a maddening endeavor, with spies and money-laundering experts chasing shipments and transactions in whack-a-mole fashion, often to be stymied by recalcitrant foreign diplomats.

One cable details how the United States asked the Italians to stop the planned export to Iran of 12 fast boats, which could attack American warships in the gulf. Italy did so only after months of “foot-dragging, during which the initial eleven boats were shipped,” the embassy in Rome reported.

Another cable recounts China’s repeated refusal to act on detailed information about shipments of missile parts from North Korea to Beijing, where they were loaded aboard Iran Air flights to Tehran.

The election of Mr. Obama, at least initially, left some countries wondering whether the sanctions push was about to end. Shortly after taking office, in a videotaped message timed to the Persian New Year, he reiterated his campaign offer of a “new beginning” — the first sustained talks in three decades with Tehran.

The United Arab Emirates called Mr. Obama’s message “confusing.” The American Embassy in Saudi Arabia reported that the talk about engaging Iran had “fueled Saudi fears that a new U.S. administration might strike a ‘grand bargain’ without prior consultations.”

In Europe, Germany and others discerned an effort to grab market share. “According to the British, other EU Member states fear the U.S. is preparing to take commercial advantage of a new relationship with Iran and subsequently are slowing the EU sanctions process,” the American Embassy in London reported.

The administration, though, had a different strategy in mind.

The man chosen to begin wiping out the confusion was Daniel Glaser, a little-known official with a title that took two breaths to enunciate in full: acting assistant secretary of the Treasury for terrorist financing and financial crimes.

The first big rollout of his message appears to have come in Brussels on March 2 and 3, 2009, during what the cables called “an unprecedented classified briefing” to more than 70 Middle East experts from European governments.

Mr. Glaser got right to the point. Yes, engagement was part of the administration’s overall strategy. “However, ‘engagement’ alone is unlikely to succeed,” Mr. Glaser said. And to those concerned that the offer of reconciliation was open-ended, one cable said, he replied curtly that “time was not on our side.”

The relief among countries supporting sanctions was palpable enough to pierce the cables’ smooth diplomatese. “Iran needs to fear the stick and feel a light ‘tap’ now,” said Robert Cooper, a senior European Union official.

“Glaser agreed, noting the stick could escalate beyond financial measures under a worst case scenario,” a cable said.

The Czechs were identified as surprisingly enthusiastic behind-the-scenes allies. Another section of the same cable was titled “Single Out but Understand the E.U. Foot-Draggers”: Sweden, considered something of a ringleader, followed by Cyprus, Greece, Luxembourg, Spain, Austria, Portugal and Romania.

The decoding of Mr. Obama’s plan was apparently all the Europeans needed, and by year’s end, even Germany, with its suspicions and longstanding trading ties with Iran, appeared to be on board.

China’s Concerns

Still, there could be little meaningful action without Russia and China. Both are permanent members of the United Nations Security Council, where multilateral action would have to pass, and both possess a global reach that could effectively scuttle much of what the United States tried on its own.

The cables indicate that the administration undertook multilayered diplomatic moves to help ensure that neither would cast a Council veto to protect Iran.

As of early 2010, China imported nearly 12 percent of its oil from Iran and worried that supporting sanctions would imperil that supply. Obama administration officials have previously said that the year before, a senior adviser on Iran, Dennis B. Ross, traveled to Saudi Arabia to seek a guarantee that it would supply the lost oil if China were cut off.

State's Secrets

Around the World, Distress Over Iran

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The cables show that Mr. Ross had indeed been in Riyadh, the Saudi capital, in April 2009. While there is no direct account of those meetings, a suggestion of dazzling success turns up later, in cables describing meetings between Saudi and Chinese officials.


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The offer may have come during a Jan. 13 meeting in Riyadh between Foreign Minister Yang Jiechi of China and King Abdullah and other senior Saudi officials, one of whom told Mr. Yang, “Saudi Arabia understood China was concerned about having access to energy supplies, which could be cut off by Iran,” according to one cable.

The conversation, evidently shaped by Mr. Ross’s request, developed from there, the cable indicated. A later cable noted simply, “Saudi Arabia has told the Chinese that it is willing to effectively trade a guaranteed oil supply in return for Chinese pressure on Iran not to develop nuclear weapons.”

That left Russia.

Dealing With Russia

Throughout 2009, the cables show, the Russians vehemently objected to American plans for a ballistic missile defense site in Poland and the Czech Republic. Conceived under President Bush and billed as a shield against long-range Iranian missiles that American intelligence said were under development, the site was an irritant to Russia, which contended that it was really designed to shoot down Russian missiles.

In talks with the United States, the Russians insisted that there would be no cooperation on other issues until the Eastern Europe site was scrapped. Those demands crested on July 29, when a senior Russian official repeatedly disrupted a meeting with Russia’s objections, according to one cable.

Six weeks later, Mr. Obama gave the Russians what they wanted: he abruptly replaced the Eastern Europe site with a ship-borne system. That system, at least in its present form, is engineered to protect specific areas against short- and medium-range missiles, not pulverize long-range missiles soaring above the atmosphere. Mr. Obama explained the shift by saying that intelligence assessments had changed, and that the long-range missile threat appeared to be growing more slowly than previously thought.

The cables are silent on whether at some higher level, Russia hinted that Security Council action against Iran would be easier with the site gone. But another secret meeting with the Russians last December, recounted in the cables, may help explain why Mr. Obama was willing to shift focus to the short- and medium-range threat, at least in the near term.

In the meeting, American officials said nothing about a slowing of the long-range threat, as cited by Mr. Obama. In fact, they insisted that North Korea had sent Iran 19 advanced missiles, based on a Russian design, that could clear a path toward the development of long-range missiles. According to unclassified estimates of their range, though, they would also immediately allow Iran to strike Western Europe or easily reach Moscow — essentially the threat the revamped system was designed for.

Russia is deeply skeptical that Iran has obtained the advanced missiles, or that their North Korean version, called the BM-25, even exists. “For Russia, the BM-25 is a mysterious missile,” a Russian official said. (That argument was dealt a blow last month, when North Korea rolled out what some experts identified as those very missiles in a military parade.)

Whatever the dynamic, Mr. Obama had removed the burr under the Russians’ saddle, and in January 2010, one cable reported, a senior Russian official “indicated Russia’s willingness to move to the pressure track.”

The cables obtained by WikiLeaks end in February 2010, before the last-minute maneuvering that led to a fourth round of Security Council sanctions and even stiffer measures — imposed by the United States, the Europeans, Australia and Japan — that experts say are beginning to pinch Iran’s economy. But while Mr. Ahmadinejad has recently offered to resume nuclear negotiations, the cables underscore the extent to which Iran’s true intentions remain a mystery.

As Crown Prince bin Zayed of Abu Dhabi put it in one cable: “Any culture that is patient and focused enough to spend years working on a single carpet is capable of waiting years and even decades to achieve even greater goals.” His greatest worry, he said, “is not how much we know about Iran, but how much we don’t.”