quinta-feira, 18 de novembro de 2010

De Rerum Natura.

Quinta-feira, 18 de Novembro de 2010

KEMP SOBRE LEONARDO


O historiador de arte britânico Martin Kemp esteve ontem na Gulbenkian em Lisboa a falar sobre imagens na ciência e na arte. vejamos o que escreveu sobre a famosa imagem do "homem de Vitrúvio" de Leonardo da Vinci, artista sobre o qual é especialista de renome mundial no seu livro "Leonardo da Vinci. Vida e Obra" (Presença, 2005):

"A proporção era o modo como a concepção perfeita de Deis se manifesta em todas as formas e poderes da Natureza. As belezas do desenho proporcional foram uma das preocupações prima´rias dos arquitectos, escultores e pintores florentinos, pelo menos desde a época de Bruneleschi. Leonardo foi o primeiro a aliar a odeia do artista de beleza proporcional ao cenário mais vasto da acção proporcional de todos os poderes da Natureza. A fonte de maior autoridade em matéria de proporção no desenho arquitectónico era o tratado de arquitectura de Vitrúvio, o autor romano da Antiguidade. na qualidade de orientador supremo da concepção de beleza do arquitecto, Vitrúvio chamou a atenção para o modo como o corpo humano, com os braços esticados e as pernas afastadas, podia inscrever-se no interior de um círculo e de um quadrado, as duas figuras geométricas mais perfeitas. Dentro deste esquema, as partes que compunham o corpo podiam ser encardas como estando organizadas de acordo com um sistema de dimensões relacionadas, no qual cada uma das partes, por exemplo, o rosto, ficava numa relação de proporcionalidade simples face a cada uma das outras. A reformulação que Leonardo fez do esquema de Vitrúvio deu origem à concretização visual definitiva, sendo amplamente utilizada na imagística popular como símbolo aparente imediato da concepção "cósmica" do enquadramento humano. Tal como Leonardo referiu, a concepção proporcional do corpo humano era análoga à harmónica da música, assente nas proporções cósmicas descritas pelo matemático grego Pitágoras, Era a base matemática da música que lhe atribuía os seus direitos mais sérios, entre as artes, para competir com a pintura, embora Leonardo se tivesse dado ao trabalho de salientar que a harmónica da música tinha de ser ouvida sequencialmente, ao invés de ser apreciada em simultâneo, de um só relance, tal como acontecia na pintura."

Martin Kemp

Na imagem: o homem de Vitrúvio de Leonardio da Vinci, manuscrito na Galeria da Academia de Veneza.