terça-feira, 23 de novembro de 2010

Notícias sobre o sublime, no De rerum natura. É para tal fim que existe a universidade.

Terça-feira, 23 de Novembro de 2010

85% de matéria...



Crónica publicada no "O Despertar"

A maior parte do Universo cósmico que conhecemos, ou melhor, que mal conhecemos, não é visível!

85% da matéria que se calcula existir no Universo não se comporta como o Sol, por exemplo, irradiando radiações electromagnéticas. Essa matéria tem composição desconhecida. Pressupõe-se, hipoteticamente, que seja constituída por partículas fundamentais que, por ora, são virtuais, sendo principais candidatos as WIMP (partículas massivas que interagem fracamente) e as MACHO (objecto com halo compacto e grande massa) e, eventualmente, o Bosão de Higgs.

Refira-se que a matéria negra do Universo também não reflecte qualquer tipo de radiação electromagnética: nem na zona do espectro visível, nem ondas de rádio, nem microondas. Nada. Só sabemos que existe pela sua acção gravitacional sobre a restante matéria, estrelas e outros astros e aglomerados deles, em que nos incluímos.

Experiências recentemente efectuadas no Grande Acelerador de Hadrões do CERN, o maior acelerador de partículas do mundo, e comentadas pelo físico teórico Gianfranco Bertone (ver aqui o seu livro sobre as partículas da matéria negra) no último número da prestigiada revista Nature (aqui), indicam que estamos na antecâmara da descoberta sobre a constituição desta matéria negra. Na esquina de uma próxima colisão de partículas, poderá estar o nascimento de uma renovada compreensão do Universo, ruptura e emergência de novos paradigmas, comprovação e eliminação das inúmeras hipóteses e teorias que hoje gravitam no humano pensamento.

Vivemos hoje, nesta era das tecnologias da informação, esta sensação de estarmos sentados na plateia do mundo, expectantes, a observar, quase em directo, o resultado de experiências que podem mudar o entendimento da matéria e da energia que somos feitos. Vivemos, nesta era feita de ciência e tecnologia, um momento único de argúcia cósmica e sub-atómica, numa amálgama de rigor, de espanto e de emoção.

É também esta a nossa humanidade.

António Piedade