segunda-feira, 22 de novembro de 2010

De Rerum Natura.

Segunda-feira, 22 de Novembro de 2010

Irrequietudes

Enxame NGC290

A minha crónica que está hoje no jornal i

Em 1827, o biólogo Robert Brown observou um fenómeno curioso: quando colocadas várias partículas de pólen à superfície da água, essas mesmas partículas assumiam um movimento absolutamente caótico, ébrio, estonteante. Numa altura em que a Física ainda não tinha sido devidamente apresentada ao mundo dos átomos e das moléculas, Brown pensou que tal seria uma espécie de "animação sexual" de qualquer entidade viva no pólen. Einstein e Jean-Baptiste Perrin explicaram mais tarde que tudo se resume a uma questão de choques entre as partículas do pólen e as moléculas da água. As partículas coloidais do pólen são milhões de vezes mais volumosas que as moléculas de água, mas a enorme quantidade de colisões destas últimas em cada segundo remete para o mundo do infinitamente pequeno, fazendo lembrar o provérbio "Água mole em pedra dura tanto bate até que fura." Neste caso, empurra! Curiosamente, o mesmo acontece no reino dos enxames de estrelas, locais de enorme concentração de estrelas. Quando duas delas se aproximam há uma ligeiríssima alteração nas suas velocidades e direcções. Porém, como as distâncias são sempre tão longínquas, essas alterações só são perceptíveis após várias passagens: "Estrelas de enxame em distâncias duras tanto passam até que empurram." Há algo de intrinsecamente belo nestes "jogos de espelhos" que encontramos tantas vezes entre os reinos do muito grande e do muito pequeno. Pólen e estrelas, quem diria?