Segunda-feira, 29 de Novembro de 2010
A profissão de professor desaparece...
Segue-se um extracto duma entrevista de Mário Crespo a José Gil, que passou na Sic Notícias, em 27 de Novembro passado. São palavras absolutamente sinceras e verdadeiras as do filósofo e professor, tão sinceras e verdadeiras que deviam fazer parar o país para pensar no rumo que tomará, ou que já está a tomar, pelo facto de os bons professores serem obrigados a desistir de ensinar: por abandono da profissão, por fadiga, por desnorte...
Mário Crespo: Uma estratégia seguida por este Ministério (…) é exigir ao professor uma ocupação total na sua tarefa, total, para lá das horas do humanamente aceitável (…) para lá das 35 horas obrigatórias, para dentro das pausas lectivas – expressão nova –, o trabalho do professor deve integrar e devorar o tempo de vida privada, de lazer (…), professor só pode ser professor (…) deixa de ser homem, deixa de ser mulher...
José Gil: Isso é quase um homicídio da profissão. A profissão de professor desaparece. Desaparece, porque é impossível fazer isso (…). Estou a lembrar-me de Paul Lenoir, um poeta, que dizia que para fazer boa poesia é preciso não fazer nada (…). É preciso que haja pausa, desafio, reflexão ruminação (….). Eu sou professor, sei que estou a defender a minha causa, mas há vocações extraordinárias, muito maiores que a minha, muito mais admiráveis que eu vejo em professores do secundário, por exemplo (...) pessoas que gostam de ensinar, que adoravam fazer o que estavam a fazer e essas pessoas vão-se embora, foram-se embora (…) sobretudo (…) porque ficam tão desgostosas por elas mesmas, por terem que fazer qualquer coisa que não gostam, que é lhe destrói uma missão...