domingo, 3 de abril de 2011

J. R. Guedes de Oliveira

A importância da comunicação

J. R. Guedes de Oliveira

A sociologia jurídica nos ensina que a comunicação é o processo pelo qual as idéias ou sentimentos são transmitidos para outros indivíduos, possibilitando a interação social. E aqui vale as sábias palavras do “velho guerreiro” Chacrinha (Abelardo Barbosa), de que “quem não se comunica, se tropica”.

A história nos tem proporcionado inúmeros casos em que a comunicação exerceu papel preponderante: desde a famosa Mensagem a Garcia aos Teatros de Guerra quando, então, se decidiram batalhas.

A comunicação, em todos os meios da atividade humana, tem que ser eficaz, rápida, clara e precisa. Não se pode admitir entrelinhas e suposições. No seu bojo deve conter uma verdade, mesmo que esta espelhe um outro aspecto de um outro fator.

O importante disso tudo, é que saibamos utilizar-se da comunicação como um instrumento de vida, de interação e de movimento dentro da sociedade. Já não mais há espaço para àqueles que não se comunicam ou não sabem se comunicar. É imprescindível que este exercício seja uma constante e tenha uma corrente inquebrantável. Com isso, uma notícia pode correr livremente nos meios existentes, sem quebra do seu conteúdo e do seu espírito elucidativo.

Portanto, a comunicação tem um papel significativo e perder-se na sua trajetória, com a falta de conhecimento, é romper, de vez, com equilíbrios entre as pessoas e, como um texto retirado de um trabalho, produzir um efeito maléfico e incompreensível.

Detemo-nos, portanto, a uma interessante e curiosa nota publicada em vários jornais e revistas, ao longo dos anos, produzido por um autor desconhecido. Com este exemplo podemos ter uma noção exata de uma comunicação quebrada, interpretada às avessas, passada a outros sem o crivo de uma lógica necessária ao raciocínio do interlocutor.

Ocorreu num Quartel Militar, quando de um eclipse do sol:

DO MAJOR PARA O CAPITÃO

Comunicado: Dando-se amanhã um eclipse do sol, determino que a Companhia esteja formada em uniforme de campanha no campo de exercício, onde darei explicações necessárias em torno do fenômeno que não acontece todos os dias. Se chover, nada poderá ser visto; nesse caso a Companhia ficará de folga dentro do quartel. Transmita essa ordem ao Tenente.

DO CAPITÃO PARA O TENENTE

Comunicado: De ordem do senhor Major, haverá um eclipse do sol no campo da Companhia. Se chover, o que não acontece todos os dias, nada poderá ser visto. Neste caso, o Major, que é fenômeno raro, dará as explicações necessárias dentro do quartel em uniforme de exercício. Transmita essa ordem ao Sargento.

DO TENENTE PARA O SARGENTO

Comunicado: O Major fará amanhã um eclipse do sol em uniforme de campanha. Toda a Companhia deverá formar no campo de exercícios, onde o Major dará explicações necessárias, o que não acontece todos os dias. Se chover, o fenômeno será mesmo dentro do quartel, o que aliás é raríssimo. Transmita essa ordem ao Cabo.

DO SARGENTO PARA O CABO

Comunicado: Amanhã a Companhia formará para receber o tal do senhor Eclipse do Sol, que dará explicações necessárias sobre o nosso raro Major. O fenômeno sairá do quartel em uniforme de campanha para o campo de exercícios. Isso se não chover dentro do quartel, o que não acontece todos os dias. Transmita essa ordem aos Soldados.

DO CABO PARA OS SOLDADOS

Companhia, sentido! Comunicado: Amanhã, o raro Major Eclipse dará explicações necessárias ao Sol em uniforme de campanha, sob a chuva , no campo de exercícios. O fenômeno formará todos os dias em torno do quartel até chover. Companhia, fora de forma, marche!

Sobre o autor:

guedes.idt@terra.com.br



Matéria publicada em 01/06/2008 - Edição Número

Armadilha de Linguagem: Tautologia

J.R. Guedes de Oliveira

A língua portuguesa é uma das mais complexas e, verdadeiramente, uma das mais lindas filhas latinas. É recheada de complexidade e de caminhos que podem traduzir sentimentos. Bastar-nos-á uma busca na palavra “saudade” e sentiremos o seu valor transcendental.

Contudo, empregá-la corretamente é dever de todos e procurar difundi-la pelo mundo é compromisso inadiável de todos aqueles que são seus filhos: de Portugal, do Brasil, de Cabo Verde, de Guiné-Bissau, de Angola, de São Tomé e Príncipe, de Moçambique e de Timor Leste.

Mas esta nossa língua é pura magia. Se não empregada corretamente, então estaremos caindo em pleno delírio de cometer escorregões incalculáveis. É que cada palavra deve ser utilizada no momento certo, na sua expressão correta, na sua colocação exata. Para isso, deixamos, aqui, a sabedoria de Graciliano Ramos, um dos nossos mais célebres escritores, que nos diz:

“A palavra foi feita para dizer. Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer”.

Assim, temos que a palavra foi feita unicamente para dizer, nada mais que isso. Qualquer acrescentar é um risco enorme que vai de redundância - coisas repetitivas e que nem servem para reforço de linguagem – até às formas desconexas, como, por exemplo, viajar anexo (anexo = junto de).

Um dos gravíssimos problemas que encontramos no mundo, na língua portuguesa, está na área filológica da tautologia. A tautologia, para quem não sabe, é o vício de linguagem que consiste em dizer a mesma coisa, por formas diferentes. Isto porque, desatentos, invariavelmente deslizamos em erros crassos, na escrita ou na fala, muito embora já identificado no próprio vocábulo que empregamos.

Alguns exemplos bem comuns, temos: sair para fora, entrar para dentro, subir para cima, descer para baixo, etc. Este emprego é comum e precisamos estar sempre atentos com o único intento de primar pelo bom uso da nossa querida e opulenta língua portuguesa.

No que concerne ao problema da tautologia, apresentamos, aqui, alguns exemplos tão comuns no nosso cotidiano, que se tornam armadilhas medonhas:

elo de ligação

acabamento final

certeza absoluta

quantia exata

nos dias 8, 9 e 10, inclusive

juntamente com

expressamente proibido

em duas metades iguais

sintomas indicativos

há anos atrás

vereador da cidade

outra alternativa

detalhes minuciosos

a razão é porque

anexo junto à carta

de sua livre escolha

superávit positivo

todos foram unânimes

conviver junto

fato real

encarar de frente

multidão de pessoas

amanhecer o dia

criação nova

retornar de novo

empréstimo temporário

surpresa inesperada

escolha opcional

planejar antecipadamente

abertura inaugural

continua a permanecer

a última versão definitiva

possivelmente poderá ocorrer

comparecer em pessoa

gritar bem alto

propriedade característica

demasiadamente excessivo

a seu critério pessoal

exceder em muito.

Com tudo isto, é bom que tenhamos sempre a atenção voltada para esta questão, que muitos chamam de reforço de linguagem. Mais ainda, para que evitemos surpresas inesperadas. Epa! Apenas surpresa.

Sobre o autor

José Roberto Guedes de Oliveira

E-mail: guedes.idt@terra.com.br