sábado, 9 de março de 2013

Correio Braziliense, com meu ponto de vista sobre o assunto.

Divergências entre cardeais

Autor(es): » Renata Tranches
Correio Braziliense - 08/03/2013
 

Com a chegada do arcebispo do Vietnã ficou completo o grupo de sacerdotes aptos a escolher o sucessor de Bento XVI. Mas os religiosos ainda não chegaram a um acordo sobre o início da eleição

A falta de consenso entre os cardeais que defendem o início imediato do conclave e os que preferem dar mais tempo às conversações prévias adiou, mais uma vez, o anúncio de uma data para a eleição. O segundo encontro das Congregações Gerais de ontem teve, pela primeira vez, a presença de todos os 115 cardeais com menos de 80 anos e, portanto, aptos a escolher o novo pontífice. Mas, segundo o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, os debates com esse objetivo ainda não estavam “amadurecidos”. A indecisão marcou o dia em que a sede vacante na Santa Sé completou uma semana.

A demora no início do conclave favorece aqueles que pressionam por mais informações sobre os fatos relacionados ao Vatileaks, episódio de vazamento de documentos sigilosos sobre escândalos e intrigas na alta cúpula do Vaticano. Ontem, o jornal italiano La Stampa afirmou ter conversado com duas fontes, cujas identidades não foram reveladas, que asseguraram que pelo menos 20 pessoas teriam fornecido informações secretas para o dossiê. Entre elas, estariam laicos e religiosos, que teriam agido com o objetivo de denunciar as estruturas internas da Igreja. Se verdadeira, a história desmente a tese de que o ex-mordomo de Bento XVI Paolo Gabriele, condenado e, em seguida, perdoado, teria agido sem cúmplices.

Desde segunda-feira, os cardeais têm mantido reuniões preparatórias, conhecidas como Congregações Gerais, que antecedem o conclave. A expectativa era de que a data para o início da votação fosse anunciada quando o colégio eleitoral de cardeais estivesse completo. Mas ela não se confirmou nem com a chegada a Roma do último deles, o arcebispo da cidade de Ho Chi Minh (Vietnã), Jean-Baptiste Pham Minh Man. Todos arcebispos fizeram voto de silêncio, mas jornais italianos têm divulgado o que chamou de informações vazadas sobre problemas enfrentados pela Igreja e discutidos pelos religiosos a portas fechadas.

Segundo a mídia italiana, entre os cardeais, haveria aqueles que pressionam por mais detalhes do caso Vatileaks e do dossiê elaborado a partir dele e entregue a Bento XVI antes de sua renúncia, em 28 de fevereiro. O relatório confidencial, escrito por três cardeais, deverá ser entregue ao sucessor de Joseph Ratzinger. Entre os escândalos citados pelo documento, estariam os casos de sacerdotes envolvidos em denúncias de pedofilia e de corrupção no Banco do Vaticano. Esta ala gostaria de mais tempo para se inteirar das questões. Outro grupo, dos cardeais da Cúria Romana, preferiria iniciar o conclave o quanto antes, mas, de acordo com as publicações italianas, ele teria perdido a batalha por uma eleição rápida. Os jornais especularam inclusive que a data possa ser anunciada somente na próxima semana.

Essa foi uma possibilidade que o professor de Ética e Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Roberto Romano também cogitou. Mas, na perspectiva do especialista em catolicismo, a imprensa italiana estaria exagerando em suas argumentações e o motivo real na demora em se definir o início do conclave teria mais a ver com a vasta agenda de temas na mesa dos cardeais em Roma. Esse debate, na avaliação do professor, vai além dos casos de pedofilia ou corrupção na Igreja. “São muitos problemas graves a serem definidos”, explicou, em entrevista ao Correio. O pontificado muito centralizador de João Paulo II, na avaliação de Romero, acabou por congelar a discussão que está no núcleo da direção da Igreja, que é o Concílio Vaticano II.

Ontem, os religiosos reunidos pela manhã receberam explicações de três cardeais chefes de três ministérios econômicos sobre as finanças do Estado do Vaticano. Um dos focos foi o Banco do Vaticano, cujo patrimônio é de 5 bilhões de euros. Há três anos, dois diretores da instituição financeira foram investigados pela Justiça da Itália por violarem leis do país sobre a lavagem de dinheiro. O caso foi citado pelo Vatileaks. Na coletiva diária, Lombardi afirmou aos jornalistas que as intervenções de ontem foram “sintéticas e claras”, sem dar mais detalhes.


Preparação da Capela Sistina

Enquanto segue indefinida a data para o início do conclave, a Capela Sistina passa por uma série de preparativos para receber os cardeais durante o processo de escolha do futuro pontífice. Sob os afrescos renascentistas, foram instalados dois fornos para a queima dos votos, de onde sairão as fumaças nas quais os cardeais anunciarão sua decisão ao mundo. A preta significa que não houve consenso e, a branca, que o papa foi escolhido. Além disso, o pavimento da capela foi elevado e, as janelas, escurecidas.