domingo, 10 de março de 2013

MARTA BELLINI. Bem, quando dei a entrevista à revista Caros Amigos, avisei a "comunidade acadêmica"(que oxímoro saboroso, dado que, segundo o pensamento de Hegel, lido por Kojève, o mundo intelectual é o reino animal do espírito, ou domínio dos ladrões roubados....) sobre o que estava sendo feito na Capes, no CNPq, etc. E estávamos sob o reinado tucano, com a arrogância que lhe é peculiar. Defenestrados os plumitivos arrogantes, seus primos petistas (que usaram minha entrevista como propaganda política contra os que ocupavam o poder) fazem o mesmo. Mas eu também avisei, além do que se pode VER às escâncaras, existe o que não se enxerga. Assim, as seitas e grupos que se reúnem antes e depois das avaliações, nas universidades, para manter influência e verbas nas mãos. Todos aqueles grupos possuem representantes nos comitês de avaliação e decisão. E ai de quem não tenha a eles aderido (com a necessária bajulação) nos campi. O problema não está apenas no panoptico: o panoptico é dirigido em favor de grupos, as seitas acadêmicas, contra outros. E ai de quem não esteja ligado a um grupo de bajulação e apoio mútuo! Ai de quem não pertence às igrejinhas! Paguei caro a entrevista. Foi-me retirada a bolsa de professor 1/A do CNPq, com base em parecer anônimo e covarde, que tentou me desqualificar sem base e sem motivos acadêmicos. Depois, alunos meus perderam bolsas, etc. Desisti então do Lattes, não o nutri com dados. Envio meus trabalhos e atividades para o site da Unicamp, nada mais, e alí eles são publicados. Já se vão anos de minha entrevista, mas sempre que falo sobre os problemas da Capes e do CNPq a estudantes, colegas e funcionários, alguns escutam, mas a maioria abre um sorriso supostamente inteligente, pois seus donos já estão comprados. Etienne de la Boétie fala da servidão voluntária como vício. Da mazela partilha boa parte dos universitários brasileiros. Por tal motivo, não me comovo mais com os queixumes: os cortes, as tristezas, a insegurança, o medo são MERECIDOS. This is this, and that is that (como diria o companheiro Genoino, quando afirmou que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa). E adeus comunidade serva!

Acontece com a Capes, o CNPq, etc. o mesmo que se passa no Congresso Nacional, na visão de Roque. 

 

 

domingo, 10 de março de 2013


Sobre números e não homens...



Sobre números e cansaço provocados pelo panoptico da CAPES e sua arrogância. Concordo com o autor do texto que posto aqui. Mas, discordo quando louvamos nosso cansaço.

A Capes faz, hoje, o papel do panoptico. Impõe uma universidade disciplinada pela produção dos últimos três anos ( o resto você joga fora) e fica olhando se os intelectuais obedecem. 
"dentro da máquina panóptica, investidos por efeitos de poder que nós mesmos passamos adiante, que somos parte de sua engrenagem" (Michel Foucault).
E lembremos que a concepção de ciência da capes é estranha à vida. A árvore da ciência não é a árvore da vida.


DE gILVAN HANSEN (BLOG: www.gilvanhansen.blogspot.com.br)
sábado, 9 de março de 2013

A VIDA EM NÚMEROS OU AS RAZÕES DO MEU CANSAÇO


Desde o início do mês de março, com os prazos institucionais se esgotando, tive de preencher o Currículo Lattes, do CNPq, e a partir dele o Relatório de Atividades Docentes (RAD), instrumento administrativo utilizado para aferir se um docente efetivamente trabalhou no ano anterior, uma espécie de Imposto de Renda Pessoa Física das atividades acadêmicas.

Ao preencher tais instrumentos de controle, fui forçado a juntar os comprovantes das atividades guardados nas estantes e gavetas. E somente assim pude me aperceber das razões pelas quais me encontro com tamanho cansaço.

No RAD são previstas 3120 horas de atividades; quando você ultrapassa esse total o sistema não aceita a inserção dos dados. Extrapolei isso em 2012 em mais de 200 horas, segundo os critérios institucionais.

Todavia, pressupondo que tivéssemos produzido as horas estabelecidas como teto no sistema informatizado, isso significa que há uma previsão média de 8,5 horas diárias de trabalho; e se considerarmos apenas 30 dias de férias, esta carga sobe para 9,3 horas diárias.

Como é possível isso? Simples: basta sacrificar sábados, domingos, feriados, férias, lazer, exercícios físicos. É o que acabei fazendo para dar conta das atividades e compromissos assumidos (Bancas, orientações de graduação, mestrado, doutorado, iniciação científica, eventos a organizar e a participar, publicações, aulas, etc.).

E o resultado disso é compensador?

Sob o ponto de vista funcional, não! – recebemos a mesma remuneração de quem faz muito menos.

Sob o ponto de vista físico, não! – ficamos um bagaço humano, estressados, cansados, estafados física e mentalmente.

Sob o ponto de vista do relacionamento humano, sim! – poder participar da vida das pessoas e dos momentos importantes para elas (uma Banca Examinadora, por exemplo); poder auxiliar na caminhada nem sempre clara ou facilmente vislumbrada pelo orientando (numa orientação de Iniciação Científica, Monitoria, TCC, Dissertação ou Tese); poder chegar até as pessoas e dividir com elas a compreensão de determinados problemas sociais sob uma perspectiva crítica (num livro, capítulo de livro ou artigo; numa aula, palestra ou curso de extensão); poder estar com os colegas e aprender com eles, na cúmplice troca de idéias dos Grupos de Pesquisa. Isso tudo é que acaba por tornar compensador tamanho esforço.

Os dados de 2012 (04 Grupos de Pesquisa; apresentação de trabalhos em eventos nacionais e internacionais; oito disciplinas na Graduação; oito disciplinas na Pós-Graduação; dois livros organizados e publicados; cinco capítulos de livro; um prefácio de livro; um artigo em periódico Qualis; seis orientações de doutorandos; onze orientações de mestrandos; uma orientação de graduando de Iniciação Científica; cinco orientações defendidas; vinte e duas bancas de Mestrado e de Doutorado) retratam o tamanho do meu cansaço.

Entretanto, estes números dizem muito mais que isso, pois revelam a alegria de alguém que se sente realizado naquilo que faz e que está disposto a continuar fazendo o que gosta.

Portanto, grato àqueles e àquelas com quem pude trabalhar em 2012. E continuem contando comigo em 2013, pois quando eu aposentar ou “cantar prá subir” (rssss), aí haverá tempo suficiente para o devido descanso! But not now, not yet!!!