Professora negra da USP é humilhada e sofre ofensa racial
"Seus pelos pubianos devem ser duros como os da sua cabeça"
Professora negra da USP é humilhada e sofre ofensa racial em restaurante de São Paulo
Restaurante Dueto, em São Paulo
Ao sair de casa para comemorar seu aniversário de 33 anos, no dia 8
agosto, a geóloga e Professora Doutora USP, Adriana Alves, jamais
imaginou que seria uma noite tão constrangedora. Ela chamou um grupo de
amigos e todos se encontraram no restaurante Dueto Bar, localizado no
bairro do Butantã em São Paulo. “É um bar frequentado principalmente por
pós-graduandos e professores da USP. Era meu bar predileto, ia lá quase
que semanalmente há pelo menos quatro anos”, descreve a professora em
entrevista ao site Mundo Negro.
Tudo corria bem, até que ela o seus amigos foram para frente do
restaurante, na calçada, para fumar e conversar. O dono do
estabelecimento, um holandês de nome Peter, que nunca havia falado com
ela, juntou-se ao grupo com a intenção de se aproximar da professora.
“Ele começou perguntando se meus dentes eram verdadeiros, por serem
muito brancos, eu dei uma risada e respondi que sim. Tentamos mudar o
assunto da conversa, quando ele me perguntou se eu gostaria de tomar
café da manhã com ele no dia seguinte”, descreve a professora. Ela
tentou desconversar novamente, questionando o que a esposa dele acharia
da proposta, e ele respondeu “que ela não tinha nada com aquilo”.
Para ver ser Peter desistia das investidas, Adriana foi ao banheiro e ao
voltar, se posicionou bem entre seus amigos. O holandês deu a volta
para se aproximar dela novamente e perguntou se ela se depilava. Brava e
em tom agressivo a professora respondeu que não tinha pelos, quando ele
retrucou: “Aposto que tem e os de lá de baixo devem ser duros como os
da sua cabeça”. Os amigos não reagiram, um deles era chileno e não
falava português. Adriana resolver deixar o local, contra a vontade de
Peter que perguntou ainda “qual era a última vez que ela tinha gozado
gostoso”.
“Cheguei em casa e desatei a chorar. Pensei, sim, que a motivação dele
foi racial. Há várias reclamações no site do restaurante, mas todas por
grosseria. Então ele se achou no direito de falar daquela forma comigo, é
porque sou negra e sabemos muito bem como a mulher negra figura no
imaginário brasileiro”, afirma Adriana. Ela conta ainda que quando
relatou o ocorrido aos amigos negros, todos de pronto entenderam o “viés
racial” da situação. Já as amigas brancas, disseram que isso é normal e
acontece “com qualquer mulher”.
Inquérito foi instaurado
Em agosto, logo após o ocorrido, Adriana Alves se dirigiu à Delegacia de
Defesa da Mulher para instaurar inquérito. No entanto, a delegada
presente entendeu que crimes de racismo deveriam ser investigados numa
delegacia comum. No dia 14 de novembro, assessorada pelo advogado do
Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT),
Daniel Oliveira, a professora foi orientada a retornar à 3ª Delegacia de
Defesa da Mulher para fazer o boletim de ocorrência, e nesta segunda
tentativa não houve objeção.
“Trata-se de com caso de racismo, porque o dono do restaurante não
apenas a assediou, mas fez uma associação relativa ao cabelo dela, que
tem obviamente uma conotação preconceituosa”, explica Oliveira do CEERT.
Silvia Nascimento – Mundo Negro