“Não rir nem chorar, mas tentar compreender”. É com a frase do filósofo Baruch Espinosa que o professor de Ética e Filosofia Política na UNICAMP, Roberto Romano, define sua postura frente à prisão de políticos envolvidos no mensalão.

Isso porque, na opinião de Romano, “os que estão rindo com a prisão desses políticos poderão chorar amanhã”, devido à “natureza sistêmica da corrupção no Brasil”. “Ela (a corrupção) pode fazer estourar escândalos em todos os partidos, em todos os setores da sociedade e do Estado”, afirma.


Romano vê um “Estado brasileiro que supercentraliza os recursos econômicos e as políticas públicas do governo federal e isso é uma das fontes graves de corrução”. Assim, “todos os prefeitos e governadores precisam utilizar os intermediários junto aos deputados”. Estes, por sua vez, “servem de intermediários para o Ministério da Fazenda, Ministério do Planejamento, etc”.

Na visão do professor, “impera até hoje o infeliz ‘é dando que se recebe’”.

“nesse caso em particular”, analisa Romano, “as lideranças dos partidos foram mais envolvidas”. E o processo de corrupção ainda não terminou por causa das recentes detenções. “(As lideranças) continuam colocando a faca no pescoço do Executivo, querendo vantagens eleitorais e outras vantagens”.

 “Enquanto nós não federalizarmos o Brasil e não democratizarmos os partidos políticos, nós teremos novos escândalos”, sugere Romano.

Todos iguais

“A lei vale para todos”, é o simbolismo que fica para a sociedade depois da prisão efetuada dos mensaleiros, afirma o professor da UNICAMP.

“Até outro dia valia no Brasil aquela regra de Diógenes, o Cínico, que dizia o seguinte: ‘a Lei é aquela teia de aranha que prende os pequenos insetos e deixa passar os grandes’”. Mas, agora, Romano acha que “é preciso que as pessoas que costumam usar a coisa pública de uma forma errada coloquem suas barbas de molho”.

Entretanto, “o mensalão não é o grande ápice desse movimento de regeneração”, relembra o professor. “A lei de improbidade administrativa já levou para os tribunais e para as condenações 40% dos ímprobos processados”.

“Nós já estávamos caminhando antes desse processo do mensalão”, diz.

Eleições 2014

Romano relativiza o impacto da prisão da antiga alta cúpula do PT nas eleições do ano que vem. Nesse clima de combate à corrupção, todos os lados tentam “colocar o malfeito no território alheio”, nesse “jogo de empurra-empurra de escândalos”.

Além do mensalão de 2005, poderão ser usados nas campanhas o mensalão mineiro, o escândalo dos fiscais em São Paulo, e outros que nem sabemos ainda. “Como a corrupção no brasil é sistêmica, você pode ter novos escândalos até as eleições”.

Romano espera que “a cidadania, junto a uma imprensa livre, siga atrás desses malfeitores e os coloquem no seu lugar, isto é, como simples representantes do povo e não como donos do poder público”.