Prisão de mensaleiros 'não revolucionará a vida pública do país', diz filósofo
Gil Alessi
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
O STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu na quarta-feira (13) pela
execução imediata das penas da maioria dos condenados do mensalão. Para o
filósofo Roberto Romano, professor de ética e política da Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas), isso "não revolucionará a vida
pública do país". "No mesmo momento em que essas pessoas estão sendo
punidas, crimes iguais são perp
etrados no Brasil inteiro", afirmou.
De acordo com ele, a decisão da corte "é um pequeno passo no sentido de
decretar o fim da impunidade, mas temos uma série de escândalos
similares ocorrendo no país, abrangendo muitas legendas, seja de
situação ou de oposição. A corrupção no país é sistêmica. Isto é, todas
as partes dependem disso".
Para Romano, a principal maneira que as prefeituras tem de conseguir
recursos é via lobby de deputados federais, prefeitos e senadores junto
ao governo federal. "Se você for oposição, não leva recursos para suas
bases eleitorais, e consequentemente não é eleito", afirmou.
De acordo com o filósofo, a concentração de poderes no Executivo
federal faz com que esquemas como o mensalão, que implicam relações
pouco éticas entre o Legislativo e o governo, sejam comuns no país."E o eleitor vai votar nessa pessoa que usou de meios antiéticos para
trazer estes recursos, porque ela não tem outra forma de conseguir que
as coisas aconteçam na sua cidade. A população endossa o 'rouba mas faz'
quando vota nesses deputados federais, senadores e prefeitos. Entre um
candidato ético que não traz recursos para a cidade e um que usa estes
expedientes, ganha o que traz recurso".
Romano diz acreditar que a prisão de José Dirceu -- à época do
escândalo, ministro-chefe da Casa Civil --, se deu principalmente pelo
papel que o cargo tem na mediação entre os dois poderes.
O escândalo do mensalão foi um esquema de compra de votos de deputados
da base aliada do primeiro mandato do governo Luiz Inácio Lula da Silva
(2003-2006). José Dirceu foi condenado por ser o chefe da quadrilha, e
outros 22 réus, entre deputados, ex-deputados, publicitários e
operadores do sistema financeiro, foram condenados pelo STF.