sábado, 12 de julho de 2014

Com a massificação (que não significa democratização) da cultura, surgem fungos humanos que se imaginam escritores e, no pior caminho do marketing vagabundo, dizem bosta sobre textos que não entendem, por falta de espírito, erudição, disciplina, inteligência. O pior é notar que as merdas lançadas pelo mercado mundial, caem diretamente nas cloacas (que alguns chamam cérebro, mas na verdade são apenas cavernas ósseas sem neurônios) da "elite"que escreve para a midia brasileira. Quem tiver estômago, leia a matéria até o final. Os "juízos"dos abestados sobre Spinoza e outros, provocam vômito, País primitivo, com "elites"primitivas, arrogantes, beócias. Triste Brasil.





Professora americana elege clássicos chatos da literatura e gera polêmica



Livros clássicos, diz uma definição famosa, são aqueles que nunca deixamos de ler. Em parte pelo intenso prazer que proporcionam. Em parte porque pode ser muito difícil entendê-los em uma única leitura.

Muitos deles continuam complexos demais mesmo após inúmeras leituras.

Para socorro dos que associam literatura à tortura, entre eles seus próprios alunos, a escritora e professora americana Sandra Newman publicou "História da Literatura Ocidental sem as Partes Chatas", que chega agora ao Brasil.

Trata-se de um guia irreverente sobre alguns cânones, dos clássicos gregos (escritos por volta de 900 a.C.) até William Faulkner (1897-1962).


Ao contrário do que diz o título, o recorte não é tão amplo. A lista é dominada por autores de língua inglesa. Da literatura espanhola só há Miguel de Cervantes (1547-1616). Portugueses e latino-americanos estão ausentes.

"Os editores americanos são muito hostis aos livros desconhecidos pela maioria da população. Queria incluir Fernando Pessoa, mas não houve jeito", diz Newman.

No guia, além de breves textos biográficos sobre os autores, ela faz resumos sucintos e irônicos sobre as obras, apontando, em sua visão, o que merece ser lido e o que pode ser descartado.

Os livros clássicos são avaliados, numa escala de 0 a 10, em três categorias: importância, acessibilidade e diversão.

"No quesito diversão, tentei avaliar tanto a graça da poesia quanto aquela vontade que nos faz virar as páginas dos romances uma após a outra. Não quer dizer se um livro é, ou não, uma obra-prima imortal", explica Newman.

Por esses critérios, o poema épico "Paraíso Perdido", de John Milton (1608-1674), é o maior sonífero (poderia se chamar "Consciência Perdida", brinca a professora).

Como toda classificação desse tipo, a de Newman provoca intensa controvérsia entre escritores e acadêmicos.

Para Luiz Costa Lima, crítico e professor emérito da PUC-RJ, "é um serviço público" denunciar o trabalho.

"Quem é capaz de analisar o conjunto da literatura ocidental? E mais ainda, de julgá-la pelo critério do que é ou não é chato?", argumenta.

"O clássico não é clássico porque seja de imediato engraçado e comovente. De imediato agradável ou desagradável são apenas os produtos culinários", define Lima.

Nos EUA, Newman também revoltou professores ao avaliar (e reprovar) livros canônicos pelo prisma da diversão.

"Talvez não seja o único critério, mas parece uma decisão extrema não levar a diversão em conta. Vários clássicos, como as peças de Shakespeare, foram escritos para entreter. Fico preocupada quando dizem que algo não pode ser importante e divertido ao mesmo tempo."

*
CLÁSSICOS FATIADOS
Os mais tediosos e os mais divertidos, na visão de Sandra Newman
SE PUDER, NÃO LEIA!
"As Nuvens"
Aristófanes
Importância 5
Acessibilidade 5
Diversão 3
"Algumas pessoas dizem achar as obras de Aristófanes engraçadas. É melhor evitar essas pessoas"
"Paraíso Perdido"
John Milton

Importância 10
Acessibilidade 4
Diversão 4
"É uma obra de gênio, mas tão divertida quanto ficar trancado dentro de um freezer"
"Fausto - Parte Dois"
Johann Wolfgang von Goethe
Importância 10
Acessibilidade 4
Diversão 3
"Pouquíssimos a leem. Os que efetivamente conseguem podem ser reconhecidos pelos cabelos brancos como algodão, pelas mãos trêmulas e pelos olhos fixos e esgazeados"
"A Letra Escarlate"
Nathaniel Hawthorne
Importância 9
Acessibilidade 3
Diversão 4
"Meu pesar acompanha todos aqueles que foram obrigados a estudar esse livro na escola. Não tenho explicações a dar e não posso fazer com que você recupere aqueles dias perdidos"
"Finnegans Wake"
James Joyce
Importância 5
Acessibilidade 1
Diversão 4
"Pouquíssimas pessoas leem o livro inteiro, de modo que aqueles que escrevem dissertações sobre o livro devem ser a maior parte dos leitores"
DIVERSÃO GARANTIDA
"Dom Quixote"
Miguel de Cervantes
Importância 10
Acessibilidade 7
Diversão 10
"No final do livro, já estamos encantados o suficiente para acreditar que o mundo não será tão bom sem o Cavaleiro da Triste Figura e suas fantasias"
"Hamlet"
William Shakespeare
Importância 10
Acessibilidade 3
Diversão 9
"Assistir a 'Hamlet' tentando vingar o pai é como assistir ao seu filho adolescente procurando emprego"
"A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy"
Laurence Sterne
Importância 10
Acessibilidade 5
Diversão 10
"Página por página, talvez seja o romance mais engraçado que já existiu"
"Orgulho e Preconceito"
Jane Austen
Importância 10
Acessibilidade 10
Diversão 10
"Você não precisa ser esperto para gostar de Jane Austen. Tudo de que você precisa são olhos. Se você deixar o livro no chão, quando voltar para casa o gato estará lendo"
"Em Busca do Tempo Perdido"
Marcel Proust
Importância 10
Acessibilidade 4
Diversão 10
"Este é um daqueles livros que desejamos que nunca termine —e, de fato, ele quase não termina de tão comprido que é"






Chamar clássico de chato é pura chatice, diz Milton Hatoum


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Que atire o primeiro livro aquele que nunca detestou algum clássico.
Vários critérios fazem com que uma obra seja mais ou menos apreciada: preferências pessoais, o momento em que se lê, a sensibilidade para determinados temas e estilos.
A parte isso, a ideia de dividir os clássicos entre "tediosos" e "divertidos", como propõe Sandra Newman em "História da Literatura Ocidental sem as Partes Chatas", é puro estereótipo, dizem escritores e professores.

Clássicos duros de ler

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Associated Press
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O escritor irlandês James Joyce, considerado de difícil leitura
"Esse tipo de classificação envolve ignorância histórica, banalização das obras, com objetivos puramente mercadológicos", conta Maria Augusta da Costa Vieira, professora de literatura espanhola da USP e coordenadora do curso "Por que Ler os Clássicos?".
Para o romancista Milton Hatoum ("Dois Irmãos"), a ideia corrente de que clássicos são chatos é "apenas mais um mito negativo".
"E, cá pra nós, esse tipo de classificação em importância e diversão [do livro de Newman] é de uma superficialidade lamentável. Isto sim, é uma tremenda chatice."
Já Luís Augusto Fischer, professor de literatura na UFRGS, avalia que guias como o de Newman são úteis para difundir a cultura.
"Muitos clássicos são entediantes ou mesmo incompreensíveis para o leitor comum. O prazer que se extrai da leitura de textos assim tem a ver com cultivo, com conhecimento das referências."
"Nesses casos, claramente cabem as adaptações, com linguagem simplificada, para os leitores jovens ou de escassas letras", completa. (MARCO RODRIGO ALMEIDA)
HISTÓRIA DA LITERATURA OCIDENTAL SEM AS PARTES CHATAS
AUTORA Sandra Newman
EDITORA Cultrix
TRADUÇÃO Ana e Marcelo Cipolla
QUANTO R$ 58 (400 págs.)
*
DUROS DE LER
Leitores ilustres elegem os clássicos mais difíceis de encarar
Spinoza
"Todos os livros do Spinoza que eu tentei ler ficaram pelo caminho. Você acha que entendeu uma frase e esquece na sequência"
FERNANDA TORRES, atriz, escritora e colunista da Folha
"Em Busca do Tempo Perdido", de Marcel Proust
"Entrei e não consegui mais achar a saída. Estou preso no labirinto de Proust, em busca do fim do livro. Mas a obra é genial. A culpa é minha, como diria o Felipão"
TONY BELLOTTO, guitarrista dos Titãs e escritor
"Ada ou Ardor", de Vladimir Nabokov
"Me sinto mal disposto para ler autores de viés enciclopédico ou que falam de um ponto de vista acima de seus personagens"
ALCIR PÉCORA, professor de teoria literária da Unicamp
"Canaã", de Graça Aranha, e "Finnegans Wake", de James Joyce
"Em meus 54 anos de vida, só estes dois foram realmente maçantes"
RODRIGO GURGEL, crítico literário
"A Montanha Mágica", de Thomas Mann
"Tem uma lentidão exasperante em uma dimensão que hoje faz pouco sentido no romance. E mesmo a tuberculose, que ocupa um centro inequívoco do romance, hoje é coisa trivial"
LUIS AUGUSTO FISCHER, professor de literatura na UFRGS
"Retrato de um Artista Quando Jovem", de James Joyce
"Ter lido aos 16 anos não foi muito refrescante para quem sonhava em ser artista, sem saber o que isso queria dizer. Fiquei mais perdido que cego em tiroteio"
HECTOR BABENCO, cineasta
"Ulysses", de James Joyce
"Tentei ler na juventude e realmente apanhei dele. Consegui ler do início ao fim já adulto, mas ainda com bastante dificuldade. Mas os clássicos são assim, exigem paciência, esforço. Literatura não é competição de rapidez"
TONY RAMOS, ator
"Grande Sertão:Veredas", de João Guimarães Rosa
"Não encontrei identificações com o estilo e ambientação. Tenho certo atrito com os clássicos brasileiros, confesso. Eles não me dizem muita coisa."
SANTIAGO NAZARIAN, escritor
José de Alencar
"Não suporto. Acho que ele é um dos culpados por se ler tão pouco no Brasil. O estilo é penoso, o conflito é datado, falta humor, tem todos os ingredientes de uma obra velha"
GREGORIO DUVIVIER, ator, escritor, cocriador do Porta dos Fundos e colunista da Folha
"A Confederação dos Tamoios", de Gonçalves de Magalhães
"Quem, espontaneamente, se dedicaria a lê-lo?"
ANTONIO CARLOS SECCHIN, poeta, professor e integrante da Academia Brasileira de Letras
"Eneida", de Virgílio
"Já tentei ler umas 15 vezes, mas até hoje não consegui terminar. É difícil, penoso, não é moleza não"
JOÃO UBALDO RIBEIRO, escritor