Especialistas questionam viagem de Dilma a Curitiba
Publicado em 06/07/2014 | Talita Boros Voitch, especial para a Gazeta do Povo
A viagem da presidente Dilma Rousseff a Curitiba, na última
quinta-feira, levantou questionamentos sobre a legalidade e ética da
visita presidencial. Dilma esteve na cidade para um compromisso
particular não divulgado, e outro partidário – o lançamento da
candidatura de Gleisi Hoffmann (PT) ao governo do Paraná. Dilma chegou
às 15h45, horário em que deveria estar nas funções de presidente, com o
avião da Força Aérea Brasileira (FAB). As despesas com combustível foram
custeadas pelo PT. Mesmo assim, para especialistas ouvidos pela Gazeta
do Povo, a conduta é no mínimo “discutível”.
O professor de ética e filosofia política Roberto Romano, da Unicamp,
diz que o caso é mais um exemplo da ambiguidade entre o oficial e o
oficioso comum entre a classe política. “É um ato evidentemente para
tornar presente no Paraná a sua candidatura como presidente. É aquilo
que Dilma tem feito com frequência e tem sido alertada por juristas de
que está abusando”, afirma.
Segundo Romano, em tempos de pré-campanha, Dilma deveria simplesmente
não ter viajado a Curitiba. “Ela deveria ter mandado um representante
ao lançamento da candidatura da Gleisi. E esse representante não estaria
falando em nome da presidente, e sim da política Dilma Rousseff”, diz.
Para ele, somente dessa forma a presidente agiria corretamente do ponto
de vista ético da separação entre o público e o privado.
Gil Castello Branco, secretário-geral da ONG Contas Abertas, analisa a
situação de forma mais amena. “A meu ver, é uma situação bastante
difícil porque ela tem que se deslocar para um compromisso pessoal, mas
também tem outro compromisso político-eleitoral. É claro que se confunde
a relação da presidente como a de cabo-eleitoral”, afirma.
Na opinião dele, o conflito fica mais claro no período de eleições,
mas acontece diariamente na vida da presidente. “Ela acaba tendo uma
situação excepcional. Para se deslocar, precisa de aparatos de
segurança. Até mesmo para a vida pessoal, ela necessita de uma
infraestrutura de apoio”, diz. “Esses fatos só evidenciam o erro
gritante na legislação eleitoral que permite que a presidente,
independentemente de partido ou cargo, continue no cargo e faça
campanha.”