terça-feira, 29 de julho de 2014

Correio Braziliense, 29/07/2014

“Método do terror”


Sem entrar em nuances partidárias, o episódio envolvendo a demissão de analistas do Santander por terem elaborado um comunicado sobre as consequências do cenário político na economia brasileira reflete uma “democracia sem qualificação”, na opinião do professor, antropólogo e escritor Roberto DaMatta. “Trata-se de um ato autoritário, uma interferência incabível e inaceitável”, disse ele ao Correio. “É uma tentativa de tirar a legitimidade de quem pensa diferente”, emenda.

A decisão do banco de punir os responsáveis pela mensagem é encarada também pelo professor de ética e filosofia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Roberto Romano como exemplo da “falta de democracia e de liberdade nas relações entre o poder e a sociedade civil”. “Vivemos em um país onde é proibido fazer oposição. Esse é mais um caso clássico de intolerância e da lógica absolutista instalada no poder federal”, argumenta.

Independentemente de partido político, quem chega ao poder no Brasil, sublinha Romano, costuma agir segundo o que ele chama de “método do terror”. “Nem a esquerda nem a direta conseguiram chegar à democracia. Ainda prevalece a lógica do coronel, da oligarquia. Essa história de “pedir a cabeça”, como observamos nesse caso do Santander, é coisa de absolutista, de quem acha que governar pela intimidação é o estilo correto”, dispara o professor.

Sobre os mútuos ataques virtuais após a polêmica mensagem, Romano diz que “os partidários dos governantes geralmente são mais intolerantes do que o próprio rei”. “Mas a história mostra que tentar calar as pessoas só aumenta as críticas”, sustenta ele, acrescentando que no ambiente acadêmico também não é raro se deparar com punições aos que divergem de quem está no poder. “Retiram bolsas de estudo e isso não vem a público nem fica tão evidente como no caso do Santander”, conclui.


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