“Método do terror”
Sem entrar em nuances partidárias, o episódio envolvendo a
demissão de analistas do Santander por terem elaborado um comunicado
sobre as consequências do cenário político na economia brasileira
reflete uma “democracia sem qualificação”, na opinião do professor,
antropólogo e escritor Roberto DaMatta. “Trata-se de um ato autoritário,
uma interferência incabível e inaceitável”, disse ele ao Correio. “É
uma tentativa de tirar a legitimidade de quem pensa diferente”, emenda.
A decisão do banco de punir os
responsáveis pela mensagem é encarada também pelo professor de ética e
filosofia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Roberto Romano
como exemplo da “falta de democracia e de liberdade nas relações entre o
poder e a sociedade civil”. “Vivemos em um país onde é proibido fazer
oposição. Esse é mais um caso clássico de intolerância e da lógica
absolutista instalada no poder federal”, argumenta.
Independentemente de partido político, quem chega ao poder no Brasil,
sublinha Romano, costuma agir segundo o que ele chama de “método do
terror”. “Nem a esquerda nem a direta conseguiram chegar à democracia.
Ainda prevalece a lógica do coronel, da oligarquia. Essa história de
“pedir a cabeça”, como observamos nesse caso do Santander, é coisa de
absolutista, de quem acha que governar pela intimidação é o estilo
correto”, dispara o professor.
Sobre os mútuos ataques virtuais após a polêmica mensagem, Romano diz
que “os partidários dos governantes geralmente são mais intolerantes do
que o próprio rei”. “Mas a história mostra que tentar calar as pessoas
só aumenta as críticas”, sustenta ele, acrescentando que no ambiente
acadêmico também não é raro se deparar com punições aos que divergem de
quem está no poder. “Retiram bolsas de estudo e isso não vem a público
nem fica tão evidente como no caso do Santander”, conclui.