segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Dicas de leitura.

Acabei de receber de uma pessoa amiga, o livro The Family, escrito por Jeff Sharlet (Nova Iorque, Harper Perennial, 2008). Apesar das muitas dificuldades da vista, que aumentaram muito nos últimos tempos à espera de duas cirurgias, estou na página 60. É fascinante constatar a mescla de misticismo, nacionalismo, segredo e dureza dos juízos emitidos pelos fundamentalistas nele retratados. O autor viveu algum tempo com a "família" recolhendo seus propósitos. É de estarrecer a calma violência daqueles santos de ordem estranha. Vale a pena ler e refletir sobre o tema, sobretudo se lembrarmos que associações daquele tipo existem no mundo inteiro, não raro com o mesmo pressuposto de que o mundo está perdido e apenas alguns, os da seita, estão salvo. E isto ocorre no cristianismo, no islamismo, etc. O mundo caminha para o triunfo das seitas, contra as Igrejas e os Estados? A hipótese é relevante e tem como base estudos similares ao de Jeff Sharlet.


Outro livro fantástico, que também recebi de pessoa amiga, é o publicado por Thimothy Hampton, Fictions of Embassy (Cornell, University Press, 2009). Hampton é um dos mais finos especialistas no estudo da relação entre Estado, História e Literatura do Renascimento. Seus textos sobre Rabelais constituem fontes de saberes inigualáveis e profundas. Neste livro ele segue o paralelo entre os estilos literários gerados pela nova forma estatal, a moderna, com os relatos dos embaixadores. Se apenas este ponto fosse discutido, o livro já seria fantástico. Mas o autor segue adiante e compara as narrativas dos embaixadores aos seus países e a literatura moderna baseada naqueles relatos. Nomes como Sthendal são apresentados numa luz antes nunca utilizada para revelar os segredos de estilo e os elos da escrita e do mundo estatal. Excelente livro, que pretendo resenhar para uma revista acadêmica brasileira. Como se pode ver, nem tudo está perdido no mundo da cultura. Pelo contrário, escritores soberbos surgem, ajudando a modificar o juízo negativo que temos de nosso tempo.