José Nêumanne
Jornal da Tarde.
O 18 Brumário de
No início inesquecível de um dos melhores e mais claros textos filosóficos já escritos, O 18 Brumário de Luís Bonaparte, o velho Karl Marx parodiou um conceito de seu mestre, Georg Friedrich Hegel, de acordo com o qual a História sempre se repete. Sim, prosseguiu o discípulo, ocorre como tragédia e se repete como farsa. Em sua sanha reformista, os marxistas do alto comando do governo federal petista no Brasil mudaram até o axioma do padroeiro barbudo começando com comédia e repetindo com burlesco, obtendo sucesso até com as vaquinhas de presépio da oposição de fancaria. Na eleição de 2006, o alto comando da candidatura de Lula fez circular o ridículo boato de que os tucanos privatizariam a Petrobras e o candidato da oposição, Geraldo Alckmin, saído do governo do Estado de São Paulo, pôs a carapuça (vestiu a camisa da Petrobras) e operou o milagre da divisão dos votos, obtendo menos sufrágios no segundo turno que auferira no primeiro. Agora, tudo volta a ser como antes no quartel do Abrantes: o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) vem de publicar comunicado oficial garantindo que os tucanos porão fim à Bolsa Família, caso o ainda governador paulista José Serra ganhe a eleição da candidata de Lula, do PT e de doze entre dez fisiológicos do País, Dilma Rousseff. E o principal partido de oposição (perdão pelo exagero semântico da palavra!), o PSDB, na voz oficial de seu presidente nacional, o senador Sérgio Guerra (PE), classificou o disparate como “terrorismo eleitoral”. Como se até o MDS de Lula pudesse falar pelo tucanato.
No picadeiro eleitoral brasileiro, o PT se faz de palhaço para usar o PSDB como “escada”. A “oposição” (francamente!) morre de medo de transmitir ao eleitor a “infâmia” de que ela pensa fazer no governo algo diferente do que Lula anda fazendo. Só se esquece de explicar ao eleitor que razões este teria, então, para votar num candidato que se opõe àquela que o próprio presidente apresenta como sua eventual futura preposta. Céus! As tumbas de Marx e Hegel viraram um baile funk na Penha.
Com o presidente nacional do partido a proferir disparates a torto e a direito e o pupilo Gilberto Kassab (DEM) fazendo uma bobagem atrás da outra na administração municipal paulistana que herdou dele, José Serra não vai exigir muitos esforço e competência da Coroa do Cara para vir a perder a eleição de outubro. Se em vez de denunciar o “terrorismo” governista, os tucanos emplumados se dignassem apresentar ao eleitorado um mísero programinha alternativo de governo ao de Lula, quem sabe, poderiam evitar o “faz-me rir” de quatro anos atrás daqui a nove meses. E cidadania agradeceria pelo menos poder escolher.