sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

No blog de Z. Guiotto...

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Delicadeza x grosseria

Maria Regina Canhos Vicentin*
De uns tempos para cá, aumentou o número de pessoas grosseiras. Não sei exatamente por que, mas constato que a educação tem sido relegada a um segundo plano. Hoje em dia, parecem não ser importantes a gentileza e a cortesia. A coisa se complica quando a indelicadeza vem acompanhada da arrogância. Tudo seria muito engraçado se não fosse tão humilhante para quem está em posição inferior. Quando nos sentimos mais que o outro, damos prova da nossa ignorância, pois todo sábio compreende que não existem melhores e sim diferentes habilidades.

Deixem-me dividir com vocês um fato que presenciei nestas minhas férias. Imaginem a família toda reunida para as festas natalinas. Sempre existem aqueles que trabalham mais enquanto outros usufruem. Pois bem, Maria havia feito uma sobremesa especial com muito carinho para agradar a todos. Certamente sabemos que não é fácil contentar todo mundo, e isso ela também sabia, mas quis ser gentil e agradável. Ana não levou nada para a festa, além de sua própria boca para degustar tudo de bom que havia na ceia de Natal. Comeu com voracidade o que estava sobre a mesa, e repetiu a sobremesa de Maria por duas vezes. Maria ficou satisfeita, pois percebeu que tinham gostado do que havia feito.

No dia seguinte, outro parente chegou para cumprimentar tios e primos. Logo foram lhe oferecendo o que havia para servir. A sobremesa de Maria tinha acabado. Ela se desculpou dizendo que, pelo fato de todos terem gostado, nada havia sobrado. Ana tomou a palavra e disse que não havia gostado não, pois estava muito seca. “E olha que eu gosto de doce” – arrematou! Nossa, tal afirmação caiu como uma bomba sobre a pobre Maria. Afinal, se Ana não havia gostado da sobremesa, por que comeu mais de uma vez? A grosseria foi demais e, com certeza, proposital. Por quê? Para magoar? Não sei, mas ficou muito chato. Ainda que Ana estivesse sendo sincera, nada lhe custaria ser mais gentil e delicada.

Muitas pessoas sabem apenas criticar e se esquecem de oferecer algo em troca daquilo que destroem. Ana foi de mãos vazias, somente para comer, e ainda encontrou motivos para magoar quem havia se disposto a auxiliar nos preparativos da festa. Quem observou a situação percebeu que a delicadeza é ouro, e que Ana foi extremamente grosseira. No entanto, creio que de nada serviria repreendê-la por sua atitude hostil. É provável que não aceitasse e ainda dissesse que estava apenas sendo verdadeira.

Nessas situações, o tempo costuma ser um bom amigo, capaz de ensinar o que necessitamos aprender. Dias virão em que Ana também quererá ser agradável. Estando em família, suponho que tal situação não será de pronto esquecida. É provável que a ferroada venha de outro alguém, pois sempre acontece assim. Como diz um antigo ditado: “quem com ferro fere, com ferro será ferido”. Sei que, num primeiro momento, isso não se parece com um princípio cristão. Mas, que tal este: “com a medida com que tiverdes medido também vós sereis medidos” (Mt 2, 2 b). É só uma questão de tempo.
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*Maria Regina Canhos Vicentin (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora.