sábado, 6 de março de 2010

CONGRESSO EM FOCO

Sábado, 6 de Março de 2010

06/03/2010 - 07h21

Nas revistas: A casa caiu para o tesoureiro do PT

Veja

A casa caiu

Depois de quase três anos de investigação, o Ministério Público de São Paulo finalmente conseguiu pôr as mãos na caixa-preta que promete desvendar um dos mais espantosos esquemas de desvio de dinheiro perpetrados pelo núcleo duro do Partido dos Trabalhadores: o esquema Bancoop. Desde 2005, a sigla para Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo virou um pesadelo para milhares de associados. Criada com a promessa de entregar imóveis 40% mais baratos que os de mercado, ela deixou, no lugar dos apartamentos, um rastro de escombros. Pelo menos 400 famílias movem processos contra a cooperativa, alegando que, mesmo tendo quitado o valor integral dos imóveis, não só deixaram de recebê-los como passaram a ver as prestações se multiplicar a ponto de levá-las à ruína (veja depoimentos abaixo). Agora, começa-se a entender por quê.

Na semana passada, chegaram às mãos do promotor José Carlos Blat mais de 8 000 páginas de registros de transações bancárias realizadas pela Bancoop entre 2001 e 2008. O que elas revelam é que, nas mãos de dirigentes petistas, a cooperativa se transformou num manancial de dinheiro destinado a encher os bolsos de seus diretores e a abastecer campanhas eleitorais do partido. "A Bancoop é hoje uma organização criminosa cuja função principal é captar recursos para o caixa dois do PT e que ajudou a financiar inclusive a campanha de Lula à Presidência em 2002." Na sexta-feira, o promotor pediu à Justiça o bloqueio das contas da Bancoop e a quebra de sigilo bancário daquele que ele considera ser o principal responsável pelo esquema de desvio de dinheiro da cooperativa, seu ex-diretor financeiro e ex-presidente João Vaccari Neto. Vaccari acaba de ser nomeado o novo tesoureiro do PT e, como tal, deve cuidar das finanças da campanha eleitoral de Dilma Rousseff à Presidência.

Arruda no tempo em que reinava

Uma saleta de 10 metros quadrados na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, com nada mais que um beliche, um pequeno sofá de dois lugares e uma mesa, continuará sendo o endereço do governador afastado do Distrito Federal, José Roberto Arruda, preso há três semanas. Na última quinta-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF) indeferiu o pedido de habeas corpus da defesa do governador, por ainda considerá-lo uma ameaça às investigações do mensalão de Brasília. Para nove ministros do STF, a tentativa de subornar uma testemunha é evidência de que, uma vez em liberdade, Arruda continuará a perpetrar esforços para impedir o trabalho da Justiça. Apenas o ministro José Antonio Dias Toffoli votou a favor do governador afastado. Na esfera política, Arruda sofreu outro golpe. A Câmara Legislativa do DF aprovou por unanimidade o pedido de impeachment. O governador terá vinte dias para apresentar sua defesa, mas dificilmente o relatório final vai poupá-lo do processo de cassação.

Em três anos de governo, Arruda construiu uma imagem de administrador austero. Chegou ao poder com o discurso de empregar um choque de gestão, anunciando a extinção de 16 000 cargos comissionados. Era, sabe-se agora, um clássico cavalo de troia. À medida que as investigações avançam, fica mais evidente a distância que havia entre o discurso do governador e a prática. Uma lista apreendida pela Polícia Federal revelou que Arruda usava e abusava dos métodos ortodoxos empregados pela politicagem tradicional. Nela aparecem nomes de amigos ao lado da cota de cargos que cada um tinha para distribuir. São impressionantes 4 500 empregos, que iam das funções mais subalternas à direção de estatais. O fracionamento do estado entre os aliados do governador preso beneficiava empresários, presidentes de partido, senadores, deputados federais e dezenove dos 24 deputados distritais, incluindo seus suplentes. As cotas variavam de três a oitenta cargos per capita.

À espera do voo tucano

O governador de São Paulo, José Serra, esteve em nove eventos públicos na semana passada. Foi saudado como o candidato dos tucanos, discursou como o candidato dos tucanos, posou como o candidato dos tucanos, mas não anunciou formalmente sua entrada na disputa. Ele o fará até o início de abril. Adiar o máximo possível a decisão exasperou seus aliados. Aos olhos de Serra, porém, a estratégia se justificou. Ela o poupou por mais tempo de ser alvo preferencial de ataques, com o consequente desgaste natural que isso acarreta a quem, como ele, lidera as pesquisas de intenção de voto. A candidata oficial, Dilma Rousseff, está em campanha há quase dois anos e já aparece nas pesquisas a apenas 4 pontos do governador. Mas nem mesmo isso acelerou os planos de Serra. Ele se manteve fiel ao cronograma original desenhado em sua cabeça no ano passado. Essa é a parte da estratégia tucana que parece estar sob controle.

O que claramente não está é a composição da chapa que vai disputar a eleição com Dilma Rousseff neste ano. Isso ficou evidente na principal incursão de Serra na semana passada – a tentativa de convencer o governador Aécio Neves a aceitar a candidatura à Vice-Presidência. Um bom desempenho em Minas, o segundo maior colégio eleitoral do país, com 14 milhões de votos, é fundamental para os tucanos, que pretendem compensar no Sudeste a montanha de votos que Lula provavelmente transmitirá para a candidatura da ministra Dilma. Alistar Aécio como segundo nome da chapa tucana é, como dizem os mineiros, fácil ou impossível. Governador em segundo mandato, com aprovação expressiva em Minas, Aécio tinha legítima intenção de ser o candidato do PSDB à Presidência. Desistiu oficialmente em dezembro passado.

Bombinha diplomática

Hillary Clinton, a secretária de Estado do governo mais poderoso do planeta, riscou seis dias da sua agenda mais apimentada para fazer uma excursão pela América Latina. Prestou solidariedade às vítimas do terremoto no Chile, conheceu o novo presidente do Uruguai e fez uma ronda pela sempre amigável Costa Rica. No meio do caminho, dedicou 29 horas ao Brasil. A secretária de Estado chegou a Brasília na noite de terça e deixou o Brasil por São Paulo na madrugada de quarta. Foi a primeira vez que um representante graduado do governo Obama esteve no país. O primeiro encontro foi fugaz e chocho, o que se nota pelas declarações mornas de ambas as partes, restritas à polidez protocolar do discurso diplomático. A questão de como lidar com o Irã, aquele mistério teocrático envolto em um enigma nuclear, divide Brasil e Estados Unidos. Mas nem isso deu mais calor à visita de Hillary.

Tragédia na estrela dos Andes

O Chile é uma nação admirável. Duas décadas de consenso político em torno da manutenção da democracia e da economia de mercado o colocaram na posição de o primeiro país sul-americano com boas perspectivas de ser, em poucos anos, reconhecido como de Primeiro Mundo. O país precisará agora de um esforço semelhante para se reconstruir depois do terremoto que devastou um quinto de seu território na madrugada de 27 de fevereiro. O tremor, de 8,8 pontos na escala Richter, foi o quinto mais intenso já registrado no planeta. Na última sexta-feira, o governo já tinha identificado 452 mortos. O número de feridos era estimado em 500 e o de desabrigados em 2 milhões. Na região central do Chile, a mais rica e produtiva, cidades inteiras desapareceram. Em três minutos, 500 000 moradias ruíram. Muitas edificações erguidas de acordo com normas técnicas para não ceder a abalos não resistiram à força dos tremores. Com população menor apenas que a da capital, Santiago, a cidade de Concepción foi reduzida a escombros. O sismo, com epicentro no Oceano Pacífico, provocou um tsunami com ondas de 40 metros. Vinte minutos depois do terremoto, o maremoto varreu ilhas e 200 quilômetros do litoral sul do país. Em Dichato, um balneário de Concepción, oito em cada dez casas foram destruídas. Em Constituición, 300 pessoas podem ter sido tragadas por ondas de 15 metros de altura. No fim da semana passada, ainda não havia sido possível avaliar com precisão os estragos no Arquipélago Juan Fernández, deixado praticamente sem meios de se comunicar com o restante do Chile. Não havia notícias de sessenta turistas desaparecidos na Ilha de Robinson Crusoé, que leva esse nome por ter sido o refúgio do náufrago que inspirou o clássico romance do inglês Daniel Defoe.

Não dá para não ver

Morrer pela liberdade e pela democracia é viver eternamente", dizia o pedreiro Orlando Zapata, com a força interior que nos momentos de trevas brilha em certas consciências, como um farol que salva a humanidade. Honrando da forma mais extrema suas convicções, Zapata morreu há duas semanas, depois de 85 dias de greve de fome. Enquanto a família velava o morto e a polícia prendia mais de100 cidadãos preventivamente para evitar protestos, cinco dissidentes – quatro deles presos políticos – iniciaram greves de fome como homenagem póstuma ao companheiro tombado. Temendo novas mortes, os mais influentes membros da oposição democrática ao regime comunista lançaram uma campanha para demovê-los da ideia. Quatro acataram os argumentos. Um persistiu: Guillermo Fariñas, o "Coco" (careca). Ele clama pela libertação de duas dezenas de presos políticos com problemas de saúde. Na quarta-feira 3, quando completava oito dias sem água nem comida, Fariñas, 48 anos, desmaiou e foi internado. Recebeu 4 litros de soro. Ao retomar a consciência, pediu que os tubos fossem arrancados, do mesmo jeito que já fizera outras tantas vezes, em suas 22 greves de fome anteriores. Negou-se a comer e foi expulso do hospital. "Quero morrer", disse ele, ecoando Zapata. "Há momentos na história em que é preciso haver mártires."

Longe da excelência

Um novo conjunto de dados sobre a educação brasileira traz à luz um fato incômodo: na última década, os avanços em sala de aula foram bem mais lentos do que o esperado – e o necessário. Os números, reunidos na versão preliminar de um relatório do Ministério da Educação (MEC), revelam que o Brasil deixou de atingir as metas mais básicas rumo à excelência acadêmica. Elas compõem o Plano Nacional de Educação, documento formulado dez anos atrás, durante o governo Fernando Henrique, que, pela primeira vez, definiu objetivos concretos para a educação pública do país, justamente até 2010. Fica bem claro ali que o Brasil patinou no enfrentamento de questões cruciais, tais como os elevadíssimos índices de repetência, indicador-mor da incompetência da própria escola. A meta para este ano era chegar a 10%, índice ainda alto – mas a repetência estacionou em 13%, como em alguns dos países africanos. Outro dado que ajuda a traduzir a ineficácia do ensino é a evasão escolar. Nesse caso, pasme-se, o Brasil até piorou. De 2006 a 2008, o porcentual de estudantes que abandonaram a sala de aula pulou de 10% para 11% – quando o objetivo era baixar a taxa, nesse mesmo período, para 9%. Alerta a especialista Maria Helena Guimarães: "Essas são questões que os países mais ricos já equacionaram, com eficácia, mais de um século atrás".

Época

As razões do cárcere

O governador José Roberto Arruda na sala da PF onde esteve preso, em Brasília. O STF entendeu que ele tentou atrapalhar as investigações
Durante o julgamento do habeas corpus em favor do governador afastado do Distrito Federal, José Roberto Arruda, na semana passada, no Supremo Tribunal Federal, a vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat, defendeu a manutenção da prisão de Arruda. Para sustentar o argumento de que Arruda tentou atrapalhar as investigações contra o suposto esquema de corrupção que dominava o Distrito Federal, Deborah fez uma revelação. Ela afirmou que, após a prisão dele, policiais civis disseram ao Ministério Público que Arruda teria tentado interferir em investigações policiais que poderiam atingi-lo, assim como seus aliados. Ao final do julgamento, na noite da quinta-feira, o STF rejeitou o pedido da defesa por 9 votos a 1 e decidiu manter Arruda preso por ter tentado obstruir o trabalho da Polícia Federal e do Ministério Público.

ÉPOCA teve acesso aos depoimentos citados por Deborah. O trabalho do Ministério Público do Distrito Federal começou em janeiro, quando ÉPOCA divulgou com exclusividade os documentos apreendidos na Operação Caixa de Pandora, uma investigação conjunta da Procuradoria-Geral da República e da Polícia Federal sobre o esquema que seria comandado por Arruda. Em meio ao material, estava um papel intitulado “Anotações Pertinentes”, encontrado na casa de Domingos Lamoglia, conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Distrito Federal e assessor mais próximo de Arruda nos últimos 20 anos. É um relato apócrifo, escrito no ano passado, a respeito de investigações da Polícia Civil do Distrito Federal sobre supostos esquemas de corrupção no governo de Brasília. O Ministério Público abriu uma investigação para apurar se informações sigilosas de inquéritos policiais estariam sendo repassadas a Arruda.

Por que Serra está esperando

Serra abraçou Aécio Neves, mas passou pelo constrangimento de ouvir o coro de “Aécio presidente” em Belo HorizonteEram pouco mais de 11 horas da manhã da quinta-feira quando um inesperado sol interrompeu a chuva, rasgou nuvens carregadas e estacionou sobre as montanhas em torno de Belo Horizonte. Uma mulher, traje empolado de gala, enxugou as primeiras gotas de suor que borravam a maquiagem e comentou: “Aecinho é tão poderoso que manda até em São Pedro, faz parar esse aguaceiro”. Poucos minutos depois, ela ajudaria a entoar, com outros 6 mil convidados, o coro de “Aécio presidente”. No espaço reservado às autoridades, o governador de São Paulo, José Serra, exibia um semblante constrangido. Líder nas pesquisas de intenção de voto, Serra passava por mais uma situação embaraçosa em sua cruzada para se candidatar, pela segunda vez, à Presidência da República.

O risco para nossa liberdade

A América Latina vive um período nebuloso no que diz respeito à liberdade de expressão. Na Venezuela, o presidente Hugo Chávez suspende concessões de emissoras de TV, pune empresas que não transmitem seus discursos e faz ataques constantes aos empresários do setor. No Equador, o presidente Rafael Correa costuma fazer pressão aumentando impostos sobre a importação do papel dos jornais e convoca de modo abusivo redes nacionais de rádio e TV. Na Argentina, o governo também persegue veículos com ameaças fiscais e leis que pretendem impedir a livre atuação das empresas e cerceiam a expressão de ideias e pensamento. “Os Kirchners adotaram a estratégia do confronto (com a imprensa) e governam como se estivessem em campanha permanente”, disse a ÉPOCA o jornalista Adrián Ventura, colunista do jornal La Nación.

Uma blitz contra a gripe

Doses de vacina contra gripe em laboratório de Belo Horizonte. O governo quer vacinar 96 milhões de pessoasTemida por seu caráter mutante e agressivo, a gripe causada pelo vírus A(H1N1) causou pânico no mundo no ano passado. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou a doença uma pandemia. Houve uma corrida em busca de remédios e vacinas pelo mundo. Em meio a uma onda de medo, surgiram em diversos lugares novos medicamentos sem eficácia comprovada e até engenhocas como um “terno antigripe”, vendido no Japão. Oficialmente, foram registradas 16.225 mortes causadas pela gripe em 213 países (leia mais: >> Como surgiu o vírus que provocou uma epidemia mundial). Quando as tão desejadas vacinas chegaram aos países do Hemisfério Norte, onde a segunda onda da gripe começou durante o inverno com menor intensidade que no ano passado, a recepção foi variada. Nos Estados Unidos, a procura pela vacina foi maciça. Na Europa, aconteceu o contrário e sobraram doses. Nesse cenário de incertezas, o governo brasileiro optou pela prevenção: o Ministério da Saúde começa nesta segunda-feira (8) a maior campanha de vacinação em massa já feita no país.

Carta Capital

Roriz, o pai de todos

Graças a Joaquim Roriz, candidato ao governo do Distrito Federal pelo PSC, à rotina de escândalos políticos de Brasília, simbolizada pela prisão do governador José Roberto Arruda (ex-DEM), agregou-se o deboche. Desde o dia 23 de fevereiro, Roriz aparece em rápidas inserções do programa eleitoral do PSC, do qual é presidente de honra, para se demonstrar uma inusitada indignação com o esquema de corrupção montado por Arruda e aliados no DF. As falas, visivelmente editadas, tentam compensar a incapacidade de articulação narrativa de Roriz, mas o elemento ofensivo do discurso não está na forma, mas no conteúdo. Roriz, pai de todos os escândalos do DF, nos últimos 20 anos, se diz indignado com o que vê. E não se trata de uma piada.

“É tão vergonhoso, é tão escandaloso e eu fico numa indignação, eu fico numa vergonha meu Deus do céu, como pode chegar nisso aí?”, pergunta Roriz, aos céus. “Mas, por outro lado, eu vejo firmeza na Justiça. A Justiça vai punir, a Justiça vai fazer como ela está fazendo. Então eu fico, por um lado eu fico com profunda decepção, e, por outro, cheio de esperança que a Justiça cumpra seu dever”, ensina o probo ex-senador do PMDB que, ocasionalmente, renunciou para não ser cassado por corrupção.

O PV e seus palanques regionais

Não são poucas as questões que estão à mesa da coordenação da pré-candidatura da senadora Marina Silva. Ela é a única a ter definido seu vice - o empresário Guilherme Leal, da Natura -, mas o desafio agora é formar os palanques estaduais. Pelo menos em São Paulo, o problema parece ter sido resolvido. O Partido Verde deve homologar os nomes do ex-deputado federal Fábio Feldmann - que ainda não deu seu “sim” definitivo - para o governo e o do empresário Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos, para o senado. Ambos são administradores de empresas formados pela FGV e conhecidos por suas trajetórias em defesa do desenvolvimento sustentável.

No Rio de Janeiro está consolidada a dobradinha do deputado Fernando Gabeira com o ex-deputado tucano Márcio Fortes. Candidaturas próprias devem sair nos estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia, Paraná e Santa Catarina. Alianças com o PT? Só no Acre, terra de Marina.