quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Mãe é a vóvozinha!
Fonte: fabio Guibu in Folha de São Paulo, 29/7/2010.
Gabriel García Márquez, no belíssimo discurso proferido em 8 de dezembro de 1982 perante a Academia Sueca de Letras, ao receber o Prêmio Nobel de Literatura, falou sobre a praga das ditaduras na América Latina. Em determinado momento, disse assim:
“Nossa independência da dominação dos espanhóis não nos pôs fora do alcance da loucura. O general Antonio López de Santana, três vezes ditador do México, providenciou um magnífico funeral para a perna direita que ele perdera na chamada Guerra dos Pastéis. O general Gabriel García Moreno governou o Equador por 16 anos como um monarca absoluto; em seu velório, o corpo ficou sentado na cadeira presidencial, vestido com o uniforme completo e decorado com uma camada protetora de medalhas. O general Maximiliano Hernández Martínez, o déspota teosófico de El Salvador, que teve 30 mil camponeses aniquilados num massacre selvagem, inventou um pêndulo para detectar veneno em sua comida, e mantinha as lâmpadas das ruas envolvidas em papel vermelho para vencer uma epidemia de escarlatina. A estátua do general Francisco Morazán, na praça principal de Tegucigalpa, é na verdade do marechal Ney, comprada num depósito de esculturas de segunda mão em Paris.” (tradução de Gilberto G. Pereira).
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Lutar contra essa súcia, essa malta, esse bando de fascínoras e assassinos sempre representou um divisor de águas entre gente de bem – independente de ser “de esquerda” ou “de direita” – e gente do mal. Acontece que, por razões históricas, a “esquerda” acabou por se tornar proprietária dessa bandeira – e com ela fez revoluções, com ela venceu eleições. O problema é contar a história dos governos “de esquerda”. Um dos melhores historiadores de nossa época, Tony Judt, faz isso maravilhosamente bem nos indispensáveis capítulos V e VI de sua obra seminal, “Pós-Guerra” (ed. Objetiva, 2008, pp.143-236). Lá está a frase-síntese do líder comunista da Alemanha Oriental, em 1945: “É muito claro – a coisa deve parecer democrática, mas precisamos ter tudo sob o nosso controle” (p. 145). Aí está o orgasmo do totalitarismo de “esquerda”, “ter tudo sob o nosso controle”. É a mais perfeita substituição de Deus pela Estatal – a fé continua. Esse “tudo” é revelador dessa estratégia! Isso é puro George Orwell, puro “1984”. E lá está também a frase magnífica (p. 186) do escritor Lawrence Durrell, em uma carta escrita de Belgrado a um amigo grego no final da década de 1940: “As condições aqui são bastante deprimentes – é quase uma situação de guerra, superpovoamento, pobreza. Quanto ao comunismo, meu caro Teodoro, uma breve visita aqui será o bastante para fazer qualquer pessoa concluir que vale a pena lutar pelo capitalismo. Por mais negro que seja, com todas as manchas de sangue, é menos deprimente, menos árido, menos desesperador do que este Estado policial inerte e pavoroso”. Estado policial inerte e pavoroso. Epifânico resumo!
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Tudo isso para dizer o seguinte: quando uma candidata à presidência da República declara desejar ser uma mãe para o povo brasileiro, há algo mais pavoroso do que isso? Quem é que precisa de um Estado-brontossáurico-controlador-policialesco-Mãe? Onde há Mãe demais, não florescem apples. Será que alguém em sã consciência consegue imaginar Bill Gates sendo atendido pelo paquidérmico BNDES? Desculpe, senhora candidata, tenho profundo respeito por seu passado de luta por um país melhor, decente, agora, Mãe não dá. O que começa na Mãe em política, acaba em ditadura. Basta citar Cuba, Venezuela, China, Rússia, Irã, Arábia Saudita, Egito, só para citar alguns, não por acaso apoiados e idolatrados pelo partido da candidata e seu líder supremo, certamente o PAI dessa triste história. Por outro lado, não é necessário viajar para tão longe para se saber isso. Quem puder passar um mês dentro de qualquer estatal, seja municipal, estadual ou federal, terá uma idéia muito precisa sobre o que significa o Estado-Mãe: gastos sem limite, endividamento elefântico, nenhum controle sobre nada, multiplicação gigantesca de cargos de chefias, diretorias, licitações falsificadas, salários absurdos, o pior da política interferindo 24 horas por dia em tudo, contratos leoninos de terceiros, e assim por diante. Mãe? Nem pensar. Está na hora desse país começar a desmamar.
Gabriel García Márquez, no belíssimo discurso proferido em 8 de dezembro de 1982 perante a Academia Sueca de Letras, ao receber o Prêmio Nobel de Literatura, falou sobre a praga das ditaduras na América Latina. Em determinado momento, disse assim:
“Nossa independência da dominação dos espanhóis não nos pôs fora do alcance da loucura. O general Antonio López de Santana, três vezes ditador do México, providenciou um magnífico funeral para a perna direita que ele perdera na chamada Guerra dos Pastéis. O general Gabriel García Moreno governou o Equador por 16 anos como um monarca absoluto; em seu velório, o corpo ficou sentado na cadeira presidencial, vestido com o uniforme completo e decorado com uma camada protetora de medalhas. O general Maximiliano Hernández Martínez, o déspota teosófico de El Salvador, que teve 30 mil camponeses aniquilados num massacre selvagem, inventou um pêndulo para detectar veneno em sua comida, e mantinha as lâmpadas das ruas envolvidas em papel vermelho para vencer uma epidemia de escarlatina. A estátua do general Francisco Morazán, na praça principal de Tegucigalpa, é na verdade do marechal Ney, comprada num depósito de esculturas de segunda mão em Paris.” (tradução de Gilberto G. Pereira).
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Lutar contra essa súcia, essa malta, esse bando de fascínoras e assassinos sempre representou um divisor de águas entre gente de bem – independente de ser “de esquerda” ou “de direita” – e gente do mal. Acontece que, por razões históricas, a “esquerda” acabou por se tornar proprietária dessa bandeira – e com ela fez revoluções, com ela venceu eleições. O problema é contar a história dos governos “de esquerda”. Um dos melhores historiadores de nossa época, Tony Judt, faz isso maravilhosamente bem nos indispensáveis capítulos V e VI de sua obra seminal, “Pós-Guerra” (ed. Objetiva, 2008, pp.143-236). Lá está a frase-síntese do líder comunista da Alemanha Oriental, em 1945: “É muito claro – a coisa deve parecer democrática, mas precisamos ter tudo sob o nosso controle” (p. 145). Aí está o orgasmo do totalitarismo de “esquerda”, “ter tudo sob o nosso controle”. É a mais perfeita substituição de Deus pela Estatal – a fé continua. Esse “tudo” é revelador dessa estratégia! Isso é puro George Orwell, puro “1984”. E lá está também a frase magnífica (p. 186) do escritor Lawrence Durrell, em uma carta escrita de Belgrado a um amigo grego no final da década de 1940: “As condições aqui são bastante deprimentes – é quase uma situação de guerra, superpovoamento, pobreza. Quanto ao comunismo, meu caro Teodoro, uma breve visita aqui será o bastante para fazer qualquer pessoa concluir que vale a pena lutar pelo capitalismo. Por mais negro que seja, com todas as manchas de sangue, é menos deprimente, menos árido, menos desesperador do que este Estado policial inerte e pavoroso”. Estado policial inerte e pavoroso. Epifânico resumo!
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Tudo isso para dizer o seguinte: quando uma candidata à presidência da República declara desejar ser uma mãe para o povo brasileiro, há algo mais pavoroso do que isso? Quem é que precisa de um Estado-brontossáurico-controlador-policialesco-Mãe? Onde há Mãe demais, não florescem apples. Será que alguém em sã consciência consegue imaginar Bill Gates sendo atendido pelo paquidérmico BNDES? Desculpe, senhora candidata, tenho profundo respeito por seu passado de luta por um país melhor, decente, agora, Mãe não dá. O que começa na Mãe em política, acaba em ditadura. Basta citar Cuba, Venezuela, China, Rússia, Irã, Arábia Saudita, Egito, só para citar alguns, não por acaso apoiados e idolatrados pelo partido da candidata e seu líder supremo, certamente o PAI dessa triste história. Por outro lado, não é necessário viajar para tão longe para se saber isso. Quem puder passar um mês dentro de qualquer estatal, seja municipal, estadual ou federal, terá uma idéia muito precisa sobre o que significa o Estado-Mãe: gastos sem limite, endividamento elefântico, nenhum controle sobre nada, multiplicação gigantesca de cargos de chefias, diretorias, licitações falsificadas, salários absurdos, o pior da política interferindo 24 horas por dia em tudo, contratos leoninos de terceiros, e assim por diante. Mãe? Nem pensar. Está na hora desse país começar a desmamar.
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Comentário: esse costume brazileru é terrível. Os políticos de todas as searas (vereadores, reitoráveis, presidenciáveis ... ) vêm conversar com aquela VOZ MACIA, CALMA (lembro-me da música de meu coral: ela é a dona de tudo, ela é a rainha do lar, ela é para mim, o céu, a terra e o mar... mãe é a palavra mais linda ...). Se você discorda dele, aí, o bicho pega.
Simples assim...
Imagem: Vesalius
Que a mídia viva de BOAS notícias é fato. Que os jornalistas abusem dos temas notícias é um saco. A história dos atrasos nos aeroportos é de longa data. Dos desmandos da GOL também. Que quem precisa de viajar de avião hoje em dia, fica metade de seu tempo nos aeroportos quentes, fedidos e fechados.
Ouço na TV, rádio, os jornalistas atacando a Anac. E bons e boas jornalistas. Jornalistas de destaque nacional. Mas, ... mesmo esses jornalistas de destaque fazem feio. Há a ANAC, é verdade. E existe também um país em que só automóveis e aviões têm valor como locomoção. Ninguém pergunta porque só temos aeroportos no Brasil? E aeroportos ruins. Por que só temos carros? Para entender isso, é só passar um dia em um rodoviária esperando o ônibus que sai de Maringá a Londrina. Você chega a sair de Maringá e três horas depois está em Londrina. Ônibus direto, em uma hora e meia? Só as 18 horas. Passagem? Nem sempre consegue. São somente 45 lugares. Já ficou em uma rodoviária 6 horas esperando seu ônibus? Eu gosto porque fico olhando todo mundo, conversando com as pessoas; você se humaniza com tantos humanos vivendo sem humanidade. Já passei uma madrugada na rodoviária de São Paulo. 1982. Peguei o último metro para a rodoviária e perdi o último ônibus para São Carlos, onde morava. Sem vontade de voltar para a casa de um amigo, onde estava hospedada, sem dinheiro para o táxi, fiquei na rodoviária lendo. Eu e mais mil pessoas. As rodoviárias são depósitos de humanos que vão e vem, uns com destino, outros nem tanto.
Nos aeroportos - até a década de 1980 - no Brasil, é claro, o trânsito de avião era chique. Bem diferente do que vi indo para a Costa Rica em 1995. Do Equador ao Panamá, do Panamá à Costa Rica e deste país à Guatemala é uma rodoviária festiva. Loucura. Bonito. Bem diferente do Brasil varonil.
Ah, mas por que estou falando de aeroportos? Os aeroportos são um enrosco ecológico do porte das estradas. Não temos saída fazendo mais aeroportos. As cidades não têm suporte para tantos aeroportos, como não têm para o excesso de carros. Quanto mais aviões, mais atrasos, mais acidentes e mais cidades comprometidas com barulho. Como vimos recentemente na Europa: bastou um vulcãozinho entrar em atividade, a Europa não andou de avião. Simples assim.
Para dar vazão à indústria de carros e caminhões o Brasil destruiu seus trens. Toda rede ferroviária foi para as cucuias. Aí, meus caros jornalistas, discutir com a Anac é só abordar uma parte dos problemas. A incompetência e a cegueira ambiental vêm de longe.
Resta dizer que a GOL fez um fiasco. Deixou claro que se mantém no mercado graças ao sangramento de seus empregados. É disso que é feita a sociedade nossa: lucro com menos empregados e mais serviços e destruição de forças tecnólogicas como os trens para dar vazão à locomoçao individual. Simples assim.