terça-feira, 14 de setembro de 2010

Os empresários que apoiam o sistema e sua fórmula.

Fórmula infalível: benesses para os empresários, promessas de lucros fabulosos igual a "contribuições" financeiras para as campanhas, apoios da imprensa, silêncio diante dos atentados ao patrimônio público. Numa palavra : cumplicidade. A fórmula serve para regimes de nomes vários, direita, esquerda, centro. Assim foi na ditadura Vargas e na ditadura civil militar de 1964 (os malandros da política buscam retirar o que houve de civil —ou seja, de empresário— no regime tirânico). Desde então, no entanto, alguém abriu o segredo, e não foi uma pessoa exterior ao sistema, mas nela incluída. Delfim Netto: "o empresariado brasileiro adora mamar nas tetas do governo". Os empresários investem nas tetas, esperam e exigem dividendos graúdos.

No teatro político que hoje se desenrola, os bastidores abrigam os que atravessam os recursos públicos. Eles agem na sombra e só por cochilos seus ou de seus amigos, sua função vem ao conhecimento do público. Na platéia, a massa dos estonteados pela cantoria e propaganda emitida pelos beneficiados. E quem são eles? Os empresários, os bancos, os políticos.

A fórmula não foi inventada pelo PT e pelo seu governo. Ela existe desde o começo do Brasil. Ajustes técnicos são providenciados de tempos a outros, mas o percurso é sempre o mesmo: dos bolsos espoliados dos contribuintes aos recheados dos beneficiários. E na tarefa, os que desempenham o papel de lubrificantes do sistema, entre eles boa parte da imprensa e de jornalistas venais (vender-se em favor de uma ideologia, ou de cargos no governo é venalidade, mesmo que disfarçada por "idealismo".

A fórmula pode ser radicalizada. Na cena mundial, o século 20 conheceu tal operação com a cumplicidade do grande empresariado germânico, italiano, francês e o nazi-fascismo. Mesmo a IBM, dos EUA, foi cumplice do sistema totalitário, leia-se o irrespondível livro de Edwin Black : The IBM and the Holocaust.(New York, Crown Publishers).

A fórmula pode ser atenuada. Existe, no Congresso Nacional, projeto que regulamenta o lobby. Mas ele está enterrado sob os escombros da cidadania republicana e debaixo dos interesses das pessoas que pedem paz ao PIB, ou seja, aos seus bolsos.

Moralismo, jogo de cena, mentiras e manipulação da midia. A fórmula possui variantes. Enfim, temos a fórmula "Brasil", fábrica de apodrecimento ético em escala cósmica.

RR





São Paulo, terça-feira, 14 de setembro de 2010



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Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

Mastrangelo Reino/Folhapress

Antonio Palocci e José Antonio Martins, da Marcopolo



PALOCCI DÁ PAZ AO PIB
Coordenador da campanha presidencial de Dilma Rousseff (PT), o ex-ministro Antonio Palocci Filho foi a estrela de um jantar oferecido por Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, na sexta-feira, em sua casa no Jardim América, em SP.



A reunião começou logo depois da divulgação da pesquisa do Datafolha que mostrava que Dilma, mesmo com as denúncias recentes, lidera a corrida presidencial. Festejado por todos, o ex-ministro foi tratado como figura central -e confiável- de um eventual governo da petista.



"Saímos da situação de uma nação de contrastes abissais para a de um país de classe média", disse Flávio Rocha. Classificando a situação de "mágica", ele elogiou a "habilidade sobrenatural do presidente Lula de lidar com um extenso arco de ideologias, colocando acima de todas a ideologia do bom senso". "A sua presença num eventual futuro governo [de Dilma] nos dá a paz e a tranquilidade necessárias de que isso vai continuar."



Mostrando intimidade com a plateia ("eu já conheço os senhores", "já tive a oportunidade de visitar as empresas de muitos dos que estão aqui", repetia), Palocci procurou amenizar a imagem de que Dilma é "gastadora" e não tem habilidade política. "Eu vi, no governo, como ela articulou com maestria a gestão do setor elétrico com o PMDB", partido que comandava estatais da área. Ainda sobre Dilma: "Felizmente, tudo deu certo, mas muitas vezes saíamos da sala do presidente Lula sem saber o que ele decidiria no dia seguinte. Já a Dilma é uma pessoa de processos. Se ganhar as eleições, ela vai mostrar com muita clareza o que vai fazer no governo, tudo com começo, meio e fim".



As referências às denúncias recentes foram indiretas e creditadas "ao calor da disputa eleitoral". "Se vencermos a eleição, vamos procurar a oposição para tentar chegar a um consenso sobre reformas necessárias ao Brasil." Ele terminou o discurso pedindo votos ao deputado João Paulo Cunha (PT-SP). Depois dos aplausos, empresários pediam a Palocci que repetisse o número de Cunha na urna eletrônica, fazendo questão de deixar claro que seguiriam a sua indicação eleitoral.