A ex-senadora do PT, ministra do PT, saiu do PT e se uniu a um partido aliado ao PT. Nada contra ser do PT, desde que dentro daquela máquina política a pessoa não colabore para o golpe, o deboche, a canalhocracia. Mas tudo contra quem se calou no mensalão, permanecendo nos gabinetes atapetados do poder. Nunca pude aceitar a figurinha de santidade vendida pela candidata. Agora, em momento gravíssimo, ela vem e culpabiliza a vítima. Aliás, entra na onda dos "alegres" que relativizam tudo, aceitam tudo, engolem tudo, a tudo santificam. Quando Plinio de Arruda Sampaio disse, na fuça de Marina, que ela é oportunista, fiquei um tanto chocado. Mas ela mostra, à saciedade, que ele estava coberto de razão. O Brasil é assim: aparecem santos do pau oco a toda hora, da UDN ao PT, de Jânio Quadros a Collor e Lula. E a patuléia, sobretudo a que pode lucrar no jornalismo e na universidade, aplaude e apoia.
Passei minha vida adulta lutando contra a ditadura militar. Fui preso e perdi anos de vida. Com o retorno aos civis, assisti entristecido o mando ser empolgado pelo centrão, pelo "é dando que se recebe". Ou seja, a mesma turma que vicejou sob as botas dos generais. E constato que o centrão ainda é dono do palácio do Planalto, do Congresso e da Justiça. Passei os anos Sarney sendo hostilizado pelo PMDB. Depois chegaram os anos FHC. Mesmos procedimentos, idênticas manipulações, mesmas hostilidades. E aconteceram os anos Lula, idem ibidem.
Mas não aceito que sequer os sigilos do PMDB, do PSDB, do PT sejam violentados. Porque não se trata dos seus sigilos, mas do direito constitucional e humano da cidadania. Os pouco lúcidos ou cumplices do atual poder (e de todos os poderes) que justificam aquele golpe, sabem perfeitamente que ele é apenas um passo rumo ao Estado policial.
Recordam Niemöller ?
Recordam Niemöller ?
Buscaram os comunistas
Calei. Não sou comunista.
Buscaram os sindicalistas
Calei. Não sou sindicalista.
Buscaram os judeus.Calei. Não sou judeu.
Me buscaram.
Não restava ninguém para gritar.
Li tais versos na ditadura. E os repeti sempre que as patas sujas do poder mostravam sua garra. E jamais me calei. Não me calei quando hordas idiotizadas atacavam direitos, porque elas eram "fiscais do presidente". Não me calei na república das Alagoas, quando meus protestos eram em uníssimo com o PT. Muita gente imaginou que eu integrava o partido angélico. Não me calei sob o império tucano. E não me calo agora.
Os lenientes, os engraçadinhos, os covardes, fiquem com a sua m. cotidiana, as suas esperanças de subir na vida caso se calem.
Mas é impossível pedir que pessoas retas aplaudam o crime.
E tenham todos uma bela tirania, aplaudida pelos neutros.
Bem disse Max Weber: "neutro é quem já se decidiu pelo mais forte".
Minha espinha se recusa a realizar tal gesto, sobretudo porque ele é feio. Obsceno.
RR
By the way, segue um texto sobre os expurgos realizados no ano passado, na mesma Receita Federal que abriga militantes que se vendem ou praticam o crime em nome "da revolução".
Na República, livro VIII, Platão analisa impiedosamente, com justeza que gera espanto, o reino tirânico. O regime dirigido pelo "lobo que provou sangue humano", para se manter, deve realizar uma purga ao contrário do corpo social e político: identifica e retira de circulação, na sociedade e no Estado, os corretos e bons. Em troca, põe nos cargos os péssimos. Trata-se de medicina perversa, como tudo no mundo da tirania. Pensei na passagem do filósofo ao ler, hoje, as notícias da purga ocorrida na Receita Federal. Os dirigentes que pediram demissão, dizem os próximos dos ministros, "apenas se anteciparam à demissão iminente". Concordo. Começou no PT com o expurgo de pessoas que ainda queriam o programa democrático e de transparência, os que imaginaram que o partido seria ético (aliás, o único ético...). Depois, os expurgos que deram origem aos pequenos partidos de esquerda. Depois...depois...agora chegou a vez da Receita Federal. Recomenda-se aos que atuam na Receita, a leitura de Platão . Leitura obrigatória para todos nós, se quisermos conhecer a lógica da tirania, hoje instalada no Brasil Segue o texto da tradução inglêsa da República, onde o pensador narra a "purga" dos bons e a retenção dos péssimos. Na edição brasileira da Ed. Perspectiva (A República, trad. J. Guinsburg, 2006), o trecho encontra-se nas páginas 334-335, 567a do manuscrito grego, e seguintes).
[567a] “And also that being impoverished by war-taxes they may have to devote themselves to their daily business and be less likely to plot against him?” “Obviously.” “And if, I presume, he suspects that there are free spirits who will not suffer his domination, his further object is to find pretexts for destroying them by exposing them to the enemy? From all these motives a tyrant is compelled to be always provoking wars1?” “Yes, he is compelled to do so.” “And by such conduct [567b] will he not the more readily incur the hostility of the citizens?” “Of course.” “And is it not likely that some of those who helped to establish1 and now share in his power, voicing their disapproval of the course of events, will speak out frankly to him and to one another—such of them as happen to be the bravest?” “Yes, it is likely.” “Then the tyrant must do away with all such if he is to maintain his rule, until he has left no one of any worth, friend or foe.” “Obviously.” “He must look sharp to see, then, 567c] who is brave, who is great-souled, who is wise, who is rich and such is his good fortune that, whether he wishes it or not, he must be their enemy and plot against them all until he purge the city.” “A fine purgation,” he said. “Yes,” said I, “just the opposite of that which physicians practise on our bodies. For while they remove the worst and leave the best, he does the reverse.” “Yes, for apparently he must, he said, “if he is to keep his power.” (tradução editada no Perseus Project).
Só as últimas linhas da tradução brasileira: "Com olhar penetrante (o tirano, RR) deve discernir os que têm coragem, grandeza d´alma, prudência, riquezas; e tal é sua sina que se vê, de bom ou mal grado, na contingência de fazer guerra a todos eles, e estender-lhes armadilhas, até que tenha purgado deles a cidade! —Bela maneira de purgá-lo! —disse ele. Sim...é a aposta da que os médicos empregam a fim de purgar o corpo; estes, com efeito, eliminam o que há nele de mau e deixam o que há de bom: o tirano faz o contrário. É compelido a tudo, se tenciona conservar o poder". (Ed. Guinsburg, p. 335).
Notem a última frase, espantosamente atual: o tirano "é compelido a tudo, se tenciona conservar o poder". Atual, não?
Da Receita, são expurgados Lina e seus auxiliares. Ficam os que dizem "sim, senhor". Pura tirania. RR
São Paulo, quarta-feira, 08 de setembro de 2010
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice Serra quer se fazer de vítima, diz Marina Candidata do PV sugere que tucano tenta ganhar voto com a quebra do sigilo fiscal da filha Verdes temem que escândalo da Receita reforce polarização entre PT e PSDB na reta final da campanha
A candidata do PV à Presidência, Marina Silva, sugeriu ontem que o adversário José Serra (PSDB) tenta "se fazer de vítima" para ganhar votos com o escândalo da Receita. Numa referência ao tucano, a senadora condenou a exploração do caso na campanha e insinuou que ele quer ganhar votos com a quebra do sigilo fiscal da filha. "As eleições estão indo por um caminho que não interessa ao Brasil", disse, em entrevista. "Interessa para alguém ganhar as eleições se fazendo de vítima para, de acordo com as circunstâncias, angariar a simpatia do eleitor." Evitando citar o nome de Serra, Marina defendeu que o escândalo seja tratado "da forma correta, mesmo que isso não renda votos e simpatia". E disse não estar certa de sua motivação política, contrariando a tese tucana. "Nós descobrimos que são milhares de pessoas que tiveram o sigilo violado", afirmou. "Se isso teve finalidade política é grave, e se não teve, é gravíssimo." De acordo com a senadora, o envolvimento de filiados ao PT na violação de sigilos fiscais não é suficiente para comprovar uma tentativa de atingir o PSDB. "Só faz com que a gente exija cada vez mais a investigação", disse.
O objetivo de Marina ao criticar Serra é tentar esvaziar o escândalo que, segundo avaliação dos verdes, prejudica sua candidatura na reta final da campanha. Para o PV, a exploração do caso na propaganda política e no noticiário reforça a polarização entre Dilma e Serra no momento em que a senadora tentava se apresentar como opção para um segundo turno contra a petista. "Esta é uma briga que não nos convém", disse à Folha um estrategista da campanha. "Uma candidatura de terceira via como a de Marina não tem como se beneficiar de uma troca de acusações entre os rivais." Os verdes decidiram ignorar o escândalo na propaganda de TV, por entender que o caso desvia a atenção das propostas de Marina. Ontem, ela falou em mobilização de voluntários e ecologia no programa eleitoral. |