quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Diferenças...
Em dois anos de mandato o partido Democrata e o governo Obama sofrem uma derrota nas eleições americanas para o senado e a câmara, convenhamos algo impensado há dois anos, quando Obama encantava o mundo e estava eleito pela opinião pública mundial antes mesmo das eleições. Barack Obama está no meio de seu mandato e seu índice de aprovação (um fetiche no Brasil) é de 45% e 51% reprovam seu governo. Obama além da derrota para a oposição nestas eleições vê sua reeleição ameaçada seriamente se tudo continuar como está.
Obama é muito mais prestigiado fora de seu país e se fosse um presidente sul americano certamente seria um mito, dada as circunstâncias de sua eleição, mas o que ocorreu para que o Obama do “Yes, We Can” caísse tanto perante o eleitorado americano? Primeiramente nos Estados Unidos tanto as agendas do partido Democrata e do partido Republicano não traduzem a visão política e o que pensa o grosso do eleitorado americano. Obama pegou uma onda: a recessão econômica o desgaste do governo Bush e uma boa vontade tremenda da mídia que o transformaram em um salvador messiânico e também com uma certa dose de chantagem ao dizer que eleger Obama era fazer história e se opor ferozmente a ele seria um sinal de racismo. Nestes dois anos as políticas populistas de Obama têm desagradado o eleitor e contribuinte americano, além da conhecida sanha tributária democrata, Obama tomou medidas impopulares e totalmente malvistas pela população americana: usar dinheiro público do contribuinte para salvar empresas falidas por má administração (como montadoras de automóveis e bancos) e mexer na saúde americana obrigando praticamente que todo cidadão americano tenha um plano de saúde em 2011. Neste ínterim nasceu o famoso “Tea Party” movimento inspirado na insurreição de colonos americanos contra a Coroa britânica pela taxa do chá (a gota d’água em uma série de tiranias do rei George) que resultaram na revolução e independência dos Estados Unidos. O Tea Party nasceu de manifestações de contribuintes descontentes e depois foi abraçado pelo partido Republicano e alas conservadoras da sociedade americana. O movimento e o descontentamento refletiram nesta eleição e certamente refletirá nas eleições presidenciais de 2012.
Obama, se lembrarmos bem, era um candidato inexpressivo nas primárias americanas, aparecia em terceiro na preferência dos eleitores do partido. Nas primárias venceu Joe Biden (seu vice atualmente) e a franca favorita Hillary Clinton em disputa acirrada e cheia de animosidade onde um dos delegados de Hillary entrou na justiça alegando que a candidatura de Obama seria ilegal, pois o mesmo não teria nascido nos Estados Unidos. Esta controvérsia se estende até hoje já que Obama apresentou uma versão eletrônica de seu documento. Vencida a disputa Obama foi alçado a condição de salvador da pátria vencendo uma das eleições com feições mais latino americanas que os Estados Unidos já tiveram. Chegou a ser comparado com Abe Lincoln e Martin Luther King e fez questão de repetir gestos e palavras para dar esta impressão.
Qual é a lição? Primeiro em um país onde as instituições estão consolidadas e funcionam slogans, propagandas e discursos não duram muito se os resultados não aparecem. Segundo a oposição aos governos partem, geralmente, de iniciativas populares que são automaticamente canalizadas pela oposição que não se intimida diante do mito ou da popularidade de um governo ou presidente.
Como disse se Obama estivesse na América Latina contando com a boa vontade de grande parte da imprensa e tomando medidas populistas seria mais um “mito” e se juntaria a galeria de caudilhos do continente. Mas nos Estados Unidos a opinião pública conta e não se dobra facilmente, nem diante de discursos populistas e tão pouco diante de intimidações. Uma lição para ser aprendida, principalmente pela oposição brasileira (que tem muito ainda o que aprender. O problema é que a arrogância dos partidos oposicionistas brasileiros os impedem de aprender o básico sobre política).