Campinas, 10 de outubro de 2014 a 19 de outubro de 2014 – ANO 2014 – Nº 610
Judô e aikido ajudam a evitar quedas de idosos
Pesquisa da FOP aponta que artes marciais favorecem a recuperação do tônus muscular e ainda ensinam praticantes a cair
A
prática de atividades físicas é recomendada pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) como fator fundamental para a manutenção da saúde e
melhoria da qualidade de vida em todas as idades. No caso dos idosos,
esse cuidado é ainda mais importante, pois contribui para aumentar o
tônus muscular, perdido gradualmente por causa do processo de
envelhecimento. Pesquisa desenvolvida pelo professor Eduardo Hebling, do
Departamento de Odontologia Social da Faculdade de Odontologia de
Piracicaba (FOP), unidade de ensino e pesquisa vinculada à Unicamp,
concluiu que os praticantes seniores de artes marciais apresentam
menores riscos de queda, uma das principais causas de invalidez e morte
em pessoas acima dos 65 anos. “Isso acontece porque esse tipo de
treinamento favorece a recuperação do tônus muscular e ainda ensina o
idoso a cair”, explica o docente.
O estudo conduzido por Hebling
foi de caráter qualitativo e se concentrou em duas artes marciais, uma
competitiva (judô) e outra não competitiva (aikido). A aderência, ou
seja, a manutenção da atividade física por longo prazo, foi avaliada
nesses grupos. Foram entrevistados 12 adeptos de cada arte marcial,
frequentadores de academias da cidade de São Paulo. “No caso do aikido,
os entrevistados o praticavam, em média, há 37 anos. No do judô, há 51
anos”, informa o pesquisador. Um dado curioso é que todos os
entrevistados eram homens. A explicação, conforme o autor da pesquisa, é
que o judô foi introduzido no Brasil na década de 1940 e o aikido, na
de 1970. “Naqueles períodos, a sociedade via esse tipo de atividade como
algo exclusivo do universo masculino. Por isso é mais difícil encontrar
mulheres idosas que pratiquem essas artes marciais”.
O principal
objetivo da pesquisa, continua Hebling, foi identificar as razões que
fizeram com que os idosos permanecessem praticando essas atividades
físicas por tanto tempo. Entre as respostas dadas pelos entrevistados,
destaque para os benefícios que os exercícios trazem para a saúde, mas
também para a questão do favorecimento à socialização. “As duas artes
marciais consideradas no estudo são originárias de países orientais,
onde a figura do idoso é reverenciada. Nesses países, o velho não é
visto como um fardo, mas sim como uma reserva de conhecimento que
precisa ser valorizada. Dessa forma, esses praticantes de judô e aikido
disseram que se sentem respeitados no ambiente do esporte. Além disso,
eles também revelaram que não abandonam a atividade porque se veem na
obrigação de repassar o conhecimento adquirido ao longo de décadas às
novas gerações”, relata o docente da FOP.
A combinação entre ganho
de saúde e integração social proporcionada pela prática das artes
marciais é importantíssima para a ampliação da qualidade de vida dos
idosos, de acordo com Hebling. Os exercícios físicos presentes nessas
atividades contribuem para aumentar o tônus muscular, que é perdido
progressivamente conforme a idade avança. Tal perda, observa o docente,
interfere no equilíbrio da pessoa e faz com que ela sinta uma sensação
de fraqueza. Esses fatores, somados a outros, favorecem a ocorrência de
quedas, que por sua vez trazem consequências graves aos idosos.
Dados
do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), órgão do
Ministério da Saúde, estimam que de cada três indivíduos com mais de 65
anos, um é vítima de queda. Além disso, de cada 20 pessoas que sofrem
quedas, uma é alvo de fratura que requer internação. Ademais, 40% dos
que têm 80 anos ou mais caem ao menos uma vez a cada ano. “As
consequências dessas quedas são variadas, sendo que boa parte delas é
muito séria. Infelizmente, muitos casos evoluem para a invalidez e até
mesmo a morte das vítimas. Um bom modo de prevenir esses casos, que
trazem sofrimento ao paciente e grande custo social ao país, é estimular
a prática de atividades físicas pela população em geral e pelos idosos
em particular”, afirma Hebling.
Quanto
à integração social propiciada pela prática das artes marciais,
acrescenta o pesquisador, ela também é importante, pois ajuda na
preservação da saúde mental. “Diversas pesquisas indicam que pessoas que
mantêm fortes vínculos familiares e de amizade são mais felizes e por
isso adoecem menos. No caso dos idosos, esse aspecto é ainda mais
significativo, pois nesse período da vida as pessoas frequentemente se
queixam da falta de atenção e afeto”, diz o autor da pesquisa. Outro
ponto positivo a ser destacado, segundo Hebling, é o benefício que as
atividades físicas trazem para a saúde de modo geral.
Pesquisas
científicas também comprovam que o sedentarismo é uma das principais
causas da obesidade, fator que está associado a uma série de doenças,
como a hipertensão, o diabetes e enfermidades cardiovasculares. “Nos
Estados Unidos, para ficar em um único exemplo, 12% das mortes são
atribuídas à falta de exercícios físicos. Acredito que esse índice possa
ser projetado para o resto do mundo, com algumas raras exceções”,
infere o docente da FOP. A expectativa de Hebling é de que os resultados
de sua pesquisa contribuam para a formulação de políticas públicas que
estimulem a população a praticar regularmente atividades físicas,
notadamente o segmento acima dos 65 anos.
Segundo o pesquisador,
ações desse tipo são indispensáveis à preservação da saúde e da
qualidade de vida da população brasileira, que vem passando por um
rápido processo de envelhecimento. “Nos países desenvolvidos, esse
envelhecimento populacional ocorreu de forma lenta. Nas nações em
desenvolvimento, como o Brasil, o processo está sendo mais acelerado.
Entretanto, ainda não temos políticas públicas que foquem o bem-estar de
nossos cidadãos no futuro muito próximo. Ou seja, se quisermos ter
idosos saudáveis e com boa qualidade de vida daqui a 15 ou 20 anos, o
momento de estabelecer as condições para que isso aconteça é agora”,
defende Hebling.
Prevenção
De
acordo com o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into),
órgão do Ministério da Saúde, pesquisas científicas demonstram que
exercícios com duração de dez semanas a nove meses já são suficientes
para reduzir em 10% a probabilidade de queda entre os idosos. Além
disso, treinamentos específicos para equilíbrio diminuem em até 25% o
número de quedas. Já a prática do tai chi chuan, outra modalidade de
arte marcial, reduz a possibilidade desse tipo de acidente em 37%.
Entre
os fatores intrínsecos relacionados às quedas de idosos, conforme o
Into, estão: perda da força muscular, osteoporose, anormalidades para
caminhar, arritmia cardíaca, alteração da pressão arterial, depressão,
senilidade, artrose e alterações neurológicas. Já entre os fatores
extrínsecos surgem a deficiência de iluminação de ambientes, cômodos mal
projetados, disposição inadequada de móveis e uso inapropriado de
tapetes.