Marina anuncia apoio a Aécio
Eulina Oliveira - O Estado de S. Paulo
12 Outubro 2014 | 11h 11
Ex-senadora, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, disse que a 'alternância de poder fará bem ao Brasil'
Uma semana após o primeiro turno da
eleição presidencial, a candidata derrotada pelo PSB, Marina Silva,
declarou neste domingo, 12, em São Paulo, seu apoio a Aécio Neves (PSDB)
no segundo turno. Em seu pronunciamento, Marina afirmou que "uma semana
não é um longo tempo para tomada de decisão".
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"Alternância
de poder fará bem ao Brasil", disse. "Aécio retoma o fio da meada
virtuoso e corretamente manifesta-se na forma de um compromisso forte, a
exemplo de Lula em 2002, que assumiu compromissos com a manutenção do
Plano Real, abrindo diálogo com os setores produtivos."
Ao lado de seu candidato a vice-presidente, Beto Albuquerque
(PSB), Marina disse que o documento divulgado ontem por Aécio é
"carta-compromisso" com brasileiros. O candidato tucano anunciou no
sábado, 11, no Recife quais compromissos propostos pela terceira
colocada na disputa vai assumir neste segundo turno. Entram questões
ambientais e indígenas, mas a principal divergência entre eles - a
discussão sobre maioridade penal - ficou de fora.
"Doze anos depois, temos um passo adiante, uma segunda carta aos brasileiros", disse Marina.
"Rejeito a interpretação de que o documento seja dirigido a mim em busca
de apoio", afirmou a ex-candidata. "Votarei em Aécio e o apoiarei,
votando nesses compromissos, dando um crédito de confiança à sinceridade
de propósitos do candidato e de seu partido e, principalmente,
entregando à sociedade brasileira a tarefa de exigir que sejam
cumpridos", acrescentou.
Antes de fazer o anúncio, Marina agradeceu "a Deus e ao povo
brasileiro". Ela obteve 22.176.619 votos (ou 21,32% dos válidos) no
primeiro turno e ficou em terceiro lugar, atrás de Dilma Rousseff (PT) e
Aécio.
Leia a íntegra do texto lido por Marina:
"Ontem, em Recife, o candidato Aécio Neves apresentou o
documento “Juntos pela Democracia, pela Inclusão Social e pelo
Desenvolvimento Sustentável”.
Quero, de início, deixar claro que entendo esse documento como uma carta compromisso com os brasileiros, com a nação.
Rejeito qualquer interpretação de que seja dirigida a mim, em busca de apoio.
Seria um amesquinhamento dos propósitos manifestados por Aécio
imaginar que eles se dirigem a uma pessoa e não aos cidadãos e cidadãs
brasileiros.
E seria um equívoco absoluto e uma ofensa imaginar que me tomo
por detentora de poderes que são do povo ou que poderia vir a ser
individualmente destinatária de promessas ou compromissos.
Os compromissos explicitados e assinados por Aécio tem como
única destinatária a nação e a ela deve ser dada satisfação sobre seu
cumprimento.
E é apenas nessa condição que os avaliei para orientar minha posição neste segundo turno das eleições presidenciais.
Estamos vivendo nestas eleições uma experiência intensa dos desafios da política.
Para mim eles começaram há um ano, quando fiz com Eduardo Campos a aliança que nos trouxe até aqui.
Pela primeira vez, a coligação de partidos se dava
exclusivamente por meio de um programa, colocando as soluções para o
país acima dos interesses específicos de cada um.
Em curto espaço de tempo, e sofrendo os ataques destrutivos de
uma política patrimonialista, atrasada e movida por projetos de poder
pelo poder, mantivemos nosso rumo, amadurecemos, fizemos a nova política
na prática.
Os partidos de nossa aliança tomaram suas decisões e as anunciaram.
Hoje estou diante de minha decisão como cidadã e como parte do debate que está estabelecido na sociedade brasileira.
Me posicionarei.
Prefiro ser criticada lutando por aquilo que acredito ser o
melhor para o Brasil, do que me tornar prisioneira do labirinto da
defesa do meu interesse próprio, onde todos os caminhos e portas que
percorresse e passasse, só me levariam ao abismo de meus interesses
pessoais.
A política para mim não pode ser apenas, como diz Bauman, a arte de prometer as mesmas coisas.
Parodiando-o, eu digo que não pode ser a arte de fazer as mesmas coisas.
Ou seja, as velhas alianças pragmáticas, desqualificadas, sem o suporte de um programa a partir do qual dialogar com a nação.
Vejo no documento assinado por Aécio mais um elo no
encadeamento de momentos históricos que fizeram bem ao Brasil e
construíram a plataforma sobre a qual nos erguemos nas últimas décadas.
Ao final da presidência de Fernando Henrique Cardoso, a
sociedade brasileira demonstrou que queria a alternância de poder, mas
não a perda da estabilidade econômica.
E isso foi inequivocamente acatado pelo então candidato da
oposição, Lula, num reconhecimento do mérito de seu antecessor e de que
precisaria dessas conquistas para levar adiante o seu projeto de
governo.
Agora, novamente, temos um momento em que a alternância de
poder fará bem ao Brasil, e o que precisa ser reafirmado é o caminho dos
avanços sociais, mas com gestão competente do Estado e com estabilidade
econômica, agora abalada com a volta da inflação e a insegurança
trazida pelo desmantelamento de importantes instituições públicas.
Aécio retoma o fio da meada virtuoso e corretamente
manifesta-se na forma de um compromisso forte, a exemplo de Lula em
2002, que assumiu compromissos com a manutenção do Plano Real, abrindo
diálogo com os setores produtivos.
Doze anos depois, temos um passo adiante, uma segunda carta
aos brasileiros, intitulada: “Juntos pela democracia, a inclusão social e
o desenvolvimento sustentável”.
Destaco os compromissos que me parecem cruciais na carta de Aécio:
O respeito aos valores democráticos, a ampliação dos espaços de exercício da democracia e o resgate das instituições de Estado.
A valorização da diversidade sociocultural brasileira e o combate a toda forma de discriminação.
A reforma política, a começar pelo fim da reeleição para
cargos executivos, que tem sido fonte de corrupção e mau uso das
instituições de Estado.
Sermos capazes de entender que, no mundo atual, a ampliação da
participação popular no processo deliberativo, através da utilização
das redes sociais, de conselhos e das audiências públicas sobre temas
importantes, não se choca com os princípios da democracia
representativa, que têm que ser preservados.
Compromissos sociais avançados com a Educação, a Saúde, a Reforma Agrária.[
Prevenção frente a vulnerabilidade da juventude, rejeitando a prevalência da ótica da punição.
Lei para o Bolsa Família, transformando-o em programa de Estado
Compromissos socioambientais de desmatamento zero, políticas
corretas de Unidades de Conservação, trato adequado da questão
energética, com diversificação de fontes e geração distribuída.
Inédita determinação de preparar o país para enfrentar as
mudanças climáticas e fazer a transição para uma economia de baixo
carbono, assumindo protagonismo global nessa área.
Manutenção das conquistas e compromisso de assegurar os
direitos indígenas, de comunidades quilombolas e outras populações
tradicionais. Manutenção da prerrogativa do Poder Executivo na
demarcação de Terras indígenas
Compromissos com as bases constitucionais da federação,
fortalecendo estados e municípios e colocando o desenvolvimento regional
como eixo central da discussão do Pacto Federativo.
Finalmente, destaco e apoio o apelo à união do Brasil e à
busca de consenso para construir uma sociedade mais justa, democrática,
decente e sustentável.
Entendo que os compromissos assumidos por Aécio são a base
sobre a qual o pais pode dialogar de maneira saudável sobre seu presente
e seu futuro.
É preciso, e faço um apelo enfático nesse sentido, que saiamos
do território da política destrutiva para conseguir ver com clareza os
temas estratégicos para o desenvolvimento do país e com tranqüilidade
para debatê-los tendo como horizonte o bem comum.
Não podemos mais continuar apostando no ódio, na calúnia e na
desconstrução de pessoas e propostas apenas pela disputa de poder que
dividem o Brasil.
O preço a pagar por isso é muito caro: é a estagnação do Brasil, com a retirada da ética das relações políticas.
É a substituição da diversidade pelo estigma, é a substituição
da identidade nacional pela identidade partidária raivosa e vingativa.
É ferir de morte a democracia.
Chegou o momento de interromper esse caminho suicida e
apostar, mais uma vez, na alternância de poder sob a batuta da
sociedade, dos interesses do pais e do bem comum.
É com esse sentimento que, tendo em vista os compromissos
assumidos por Aécio Neves, declaro meu voto e meu apoio neste segundo
turno.
Votarei em Aécio e o apoiarei, votando nesses compromissos,
dando um crédito de confiança à sinceridade de propósitos do candidato e
de seu partido e, principalmente, entregando à sociedade brasileira a
tarefa de exigir que sejam cumpridos.
Faço esta declaração como cidadã brasileira independente que
continuará livre e coerentemente, suas lutas e batalhas no caminho que
escolheu.
Não estou com isso fazendo nenhum acordo ou aliança para governar.
O que me move é minha consciência e assumo a responsabilidade pelas minhas escolhas."