Um underground de verdade
- 22 de outubro de 2014|
- 20h12|
- Por Jose Orenstein
Feito a flor de Drummond, o Box62 irrompe o asfalto. No caso,
brota por baixo dele, sob o concreto da Radial Leste e seu rio de aço do
tráfego.
Há mais de um ano e meio voando abaixo dos radares foodies e
instagrameiros de plantão, o restaurante e lanchonete da cozinheira Mara
Rasmussen Azenha funciona no número 557 da Rua Jaceguai, Bela Vista, o
Bixiga.
O Box62 ocupa pequeno espaço no sacolão que existe sob o viaduto
Júlio de Mesquita Filho. Quem vem descendo a degradada Jaceguai, desde a
Brigadeiro Luís Antônio, talvez não desconfie que, ali, uma passagem
leve a uma pacata São Paulo meio perdida no tempo. Além do Box62, tem
açougue, pastelaria e a venda de frutas, verduras, legumes.
Box62. Clima caseiro e cardápio atraente; Mara, a cuca e dona. FOTO: José Patrício/Estadão
“Quer comida mais local que isso?”, ri Mara, que compra dos vizinhos
muitos dos insumos que usa na simpática e bem equipada cozinha que
instalou ali.
Porque não é só o improvável clima caseiro de uma lanchonete sob uma
das mais movimentadas vias da cidade que faz do lugar boa pedida, mas,
principalmente, um atraente cardápio, nos preços e na qualidade da
comida que oferta.
As coxinhas, por R$ 5,50, são ótimas – feitas com massa de batata,
abóbora, batata-doce ou mandioca. Na mesma faixa de preço, completam as
opções de salgados os rissoles e o croquete. Também por R$ 5,50, boas
quiches e tortas são servidas – e, por um real a mais, tem um competente
cuscuz (paulista) de camarão. Cerveja de garrafa vai bem com tudo isso,
mas as jarras de mate feito na hora, por R$6, matam de vez a sede.
Para refeições de mais sustança, Mara prepara pratos bem fornidos,
com o que tiver fresco na hora. Não costuma faltar lula, filé de anchova
ou filé mignon, que são o centro de pratos guarnecidos por arroz
integral, feijão bolinha, verduras, farofa. Moqueca de peixe também
costuma figurar no cardápio. Essas refeições completas variam entre R$
22 e R$ 30. E vêm sempre com uma salada orgânica (essa não vem do
sacolão, mas da feira da Água Branca) no capricho. Há boa oferta de
doces, clássicos, como pudim, manjar branco, arroz doce e tortas de
limão, banana e maçã (tudo por R$ 5,50), servidos nas mesinhas
posicionadas no meio da passagem sob o viaduto. A fauna diversa do
Bixiga circula por ali. E é alta a chance de na mesa ao lado sentarem
profissionais do teatro (o Oficina fica em frente), como o diretor José
Celso Martinez Corrêa e seus seguidores ou o ator Paulo César Pereio,
vizinho e cliente fiel.
Mara Rasmussen Azenha, cozinheiro do Box62. FOTO: José Patrício
O trânsito boêmio no box de Mara não é por acaso. Antes do novo
negócio, ela, que é formada em Letras, como atesta o diploma na parede
da cozinha, entre outros quadros e sob livros, promovia jantares na sua
própria casa, numa vila não longe dali.
Isso foi depois de ela ter cuidado da cozinha do bar Platibanda, do
qual era sócia, na Vila Madalena. Antes ainda, em 1979, foi precursora
da boemia naquele bairro, quando abriu o Bar da Terra – “reduto da
esquerda”, lembra. Hoje, o público, fora a turma dos palcos e moradores
do bairro, é também composto de escritores, como Reinaldo Moraes (autor
de Pornopopéia), que lança seu próximo livro no Box62, mês que vem. “Mas
nunca mais quero a confusão da noite!”, diz a cozinheira. O Box62 abre
apenas de dia, das 9h às 18h30, de segunda a sábado.
SERVIÇO - Box62
R. Jaceguai, 557, Bela Vista
Tel.: 98725-4761
9h/18h30 (fecha domingo)
Não aceita cartão, só dinheiro ou cheque