Ele ficou 100 dias calado. Prometeu que durante esse tempo não comentaria o governo de seu sucessor, o prefeito Luiz Marinho (PT). Mas, agora resolveu falar. E com exclusividade o ex-prefeito de São Bernardo, William Dib (PSB), concedeu entrevista ao ABC Repórter. "Se mudou, foi para pior", avaliou. Em seu escritório, onde tem recebido visitas e pedidos como se ainda fosse prefeito da cidade, Dib fez uma análise do governo petista, comentou os problemas encontrados pelo Executivo na relação com o Legislativo, faltou sobre o futuro - uma possível candidatura a deputado federal - e até do ex-aliado Maurício Soares. A seguir os principais trechos da entrevista ao ABC Repórter:
ABC REPÓRTER - Passados mais de 100 dias da saída do senhor da Prefeitura, São Bernardo mudou para melhor ou para pior?
William Dib - É com tristeza que a gente pode dizer que, se mudou, foi para pior. Porque o governo além de não cumprir o que prometeu, só desmobilizou. Só desmontou projetos, programas e não colocou nada no lugar. Pior que isso: houve constrangimento dos políticos e da população dizendo que não houve mudança porque não foram aprovados três projetos na Câmara. Isso não é a verdade. Só tem uma verdade: a promessa do "Bilhete Único" o prefeito (Luiz Marinho - PT) não mandou projeto, a proposta da Santa Casa aberta era dia 1º de janeiro e não aconteceu, o fim dos radares móveis... E ele coloca a população contra a Câmara dizendo que a Saúde não pode melhorar porque os vereadores não aprovam o projeto. Eu desafio a qualquer técnico apresentar no projeto o que tem de melhor na Saúde.
REPÓRTER - E quanto a Cidade da Criança, que foi entregue no seu mandato e deveria estar aberta, mas não está. A atual administração culpa o governo anterior.
Dib - A verdade é que a Cidade Escola está pronta. Tanto é que o Ministério Público está cobrando providências. Nós não pudemos fazer funcionar porque era necessário fazer contratações e a Lei Eleitoral não permitia. Eles tiveram tempo suficiente para fazer um concurso e abrir o espaço. Mas, eles querem dar um espaço de tempo para fazer o local funcionar e dizer que eles é quem inauguraram. Igual o Parque de Esportes Radicais da Juventude, que eles fecharam para reforma. Aparentemente a reforma não foi feita, não houve contratação, nem licitação. Por que precisaria fechar o parque? Então, eles disfarçam o processo político. E a Prefeitura alega que a Câmara não aprova os projetos. Os únicos três projetos aprovados são os que a própria Câmara, o corpo jurídico, contratado por eles, deu parecer pela não constitucionalidade. Ai eles pediram o parecer do Cepam, que é um órgão que faz apuração da legalidade dos projetos municiais. E o Cepam também opinou pela ilegalidade dos projetos. Ou seja, eles não podem prosperar. Os projetos são ilegais. O que eles fazem: um panfleto criticando os vereadores. Enchem doze ônibus para fazer pressão nos vereadores para que aprovem projetos ilegais, inconstitucionais, que vão causar prejuízo enorme para o município. E eles não falam que os outros projetos foram aprovados. Falam que tudo está parado. Outros cinco projetos foram aprovados de imediato. Ninguém usou prazo ou fez política. E, de repente, o prefeito vai a imprensa e fala: "Isso é raiva de quem perdeu a eleição". Como ele pode dizer que os vereadores que estão no exercício do mandato perderam a eleição? Eles ganharam a eleição. A democracia é feita assim.
REPÓRTER - O senhor acha que a não aprovação dos projetos influenciou de alguma forma a administração da cidade?
Dib - Ele não precisa do projeto. O projeto não cria uma única vaga para servidor da Saúde. Só cria vaga para chefe, para cargo comissionado. Qual a gravidade da situação? Eles querem criar vaga para cargo comissionado sem dizer o que vão fazer e sem dizer quais as qualificações que precisam ter para exercer esse poder. O prefeito quer criar a secretaria de Segurança. Imagine o seguinte: o futuro secretário dá uma entrevista dizendo que todos os guardas vão andar armados. Então, o subcomandante ou o inspetor, que não tem nenhuma qualificação vai tomar conta de guardas armados. E quando ele vai dar a ordem para que o guarda saque a arma? Ele tem qualificação para isso? Amanhã você pode passar com seu carro em um sinal vermelho e alguém atira em você porque não sabe o que fazer.
REPÓRTER - E sobre as obras do viaduto da avenida Lions, que foram paradas e voltaram nesta semana. O prefeito disse que elas não chegaram a parar.
Dib - O próprio prefeito anunciou em entrevista que parou todas as obras. Até 5 de dezembro eu administrei não para a eleição. E tinha máquina em todas as obras. Ele suspendeu para poder recomeçar. São picuinhas. Mas o importante é que ele esta fazendo. O importante é a cidade ganhar. Isso é o que nos interessa, não quem faz. Não vou ficar reclamando que ele inaugurou uma UTI que eu já havia inaugurado em novembro. Deixa ele fazer, mas precisa por para funcionar.
REPÓRTER - E a Santa Casa. São apenas 20 leitos em um universo de aproximadamente 400. Vai fazer diferença?
Dib - A Santa Casa é uma balela é uma promessa de campanha. Por isso que foi assinado o convênio. Mas ela não tem alvará, nem licença da Vigilância Sanitária. Nós queremos conferir a Vigilância Sanitária. Se lá pode receber doente. Se puder, ótimo: mais leitos para São Bernardo. Mas, nós vamos querer conferir. E queremos saber também quem pagará a conta.
REPÓRTER - Seu dia a dia tem sido muito parecido com o que era na Prefeitura. Muitas pessoas esperando para falar com o senhor. Como tem sido sem a caneta de prefeito nas mãos?
Dib - Eu não vou mudar por ser ou deixar de ser prefeito. Sou o mesmo: o mesmo médico, o mesmo amigo, com os mesmo defeitos. E são-paulino (risos). Mas, com mais amigos, mais experiências. Eu aproveito esse tempo que eu tenho para me dedicar aos meus amigos. A dar conselhos, a ajuda-los e a construir uma cidade mais justa. A falta do cargo não vai mudar meu comportamento. Eu continuo sendo um cidadão que quer o melhor para cidade.
REPÓRTER - Mas é mais difícil não ter a caneta para ajudar as pessoas?
Dib - As pessoas reconhecem isso. E já não ficam exigindo as mesmas coisas que exigiam quando eu era prefeito. Mas, elas querem caminhos. Eu acho que o tempo que eu fui secretário, vereador, prefeito e vice-prefeito me deu um grande aprendizado. Eu uso essa experiência para ajudar meus amigos. Eu não tenho a caneta, qual o problema? Só uma pessoa tem a caneta e temos quase um milhão de habitantes. Temos que continuar nos ajudando, dando as mãos para fazer um mundo melhor. Quem quer fazer não precisa de poder.
REPÓRTER - Quem está com o mandato quer fazer o melhor possível, mas nem sempre consegue?
Dib - Nesse projeto que não foi aprovado pela Câmara, por exemplo, eu ouviria os funcionários de carreira. Tenho certeza que a assessoria jurídica da Prefeitura não deu parecer favorável porque ele é inconstitucional. Se ouvisse não teria esses problemas. Os outros projetos passaram porque estava dentro da legalidade. Vou dar um exemplo, num repasse de verba para o Esporte ele cortou todas as escolinhas de futebol. Isso para mim é grave, pois era o tempo que as crianças completavam o horário da escola praticando esporte. É uma filosofia de governo, não podemos ser contra.
REPÓRTER - Já conhecemos seu passado, mas como será o seu futuro?
Dib - Eu estou ajudando o PSB a construir uma situação mais forte no estado de São Paulo. Tem se falado muito na minha pré-candidatura a deputado federal no ano que vem. Se o partido achar que é bom para ele, nós vamos sair. Mas, o mais importante é continuar junto com meus amigos, a construir uma São Bernardo Melhor.
REPÓRTER - Como o senhor analisa a atuação do Dr. Maurício Soares?
Dib - Eu não analiso a atuação dele porque acho que ele não atuou até agora no governo. Eu acho que nem o prefeito Luiz Marinho atuou até agora, quanto mais ele. Não vejo atuação nenhuma deste governo.
REPÓRTER - Como o senhor vê o cenário para deputado federal em 2010?
Dib - Acho que ainda é prematuro para fazer projeções. O mais importante, como cidadão é a preocupação da instituição Câmara Federal. Com tantos escândalos ficamos preocupados com a questão ética. Cumprir a lei não é obrigação dos políticos, é preocupação de todos. O político não pode se ater apenas ao que é legal. Tem que se ater ao que é ético e moralmente justo. Os políticos têm que cumprir a lei como todos, mas também ter a parte ética e moral.
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