segunda-feira, 27 de abril de 2009

Não por falta de aviso deste professor, nem por falta de aviso na Câmara. O discurso abaixo cita minhas teses, mas é de 2005. O tempo passa e...nada!

CÂMARA DOS DEPUTADOS- DETAQ


Sessão: 270.3.52.O Hora: 10:30 Fase: GE
Orador: ROBERTOMAGALHÃES,PFL-PE Data: 30/09/2005

O SR. Roberto Magalhães MAGALHÃES (PFL-PE. Sem revisão do orador.) - Sra. Presidenta, Deputa Maninha, nobres Sras. e Srs. deputados antes de entrar no assunto que me trouxe à tribuna neste Grande Expediente, registro, como fez há pouco o Deputado Fernando Ferro, pernambucano como eu, a importância do ato ontem celebrado no Palácio do Planalto, quando o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Presidente Hugo Chávez, da Venezuela, assinaram acordo bilateral, do qual também participaram a PDVSA, empresa de petróleo estatal venezuelana, e a nossa sempre lembrada PETROBRAS. O objetivo desse documento é a viabilização da construção de refinaria de petróleo em Pernambuco, velho sonho, grande luta. Ao longo de 20 anos, Pernambuco construiu o complexo portuário e industrial de Suape e se preparou durante muito tempo para receber uma refinaria de petróleo, até porque tem situação geograficamente estratégica.

Finalmente, pela primeira vez, temos uma vitória concreta. Sabemos que é uma obra de longa duração, como lembrado pelo Deputado Fernando Ferro, e também, como disse S.Exa., com muita justiça, muitas mãos nela trabalharam.

Mas a verdade é que temos de louvar o gesto de ambos os Presidentes e, sobretudo nós, pernambucanos, devemos lembrar, homenagear e até cultuar o pernambucano Abreu e Lima, general de Bolívar sepultado no Cemitério dos Ingleses, porque lhe foi negada sepultura em cemitério católico.

Bolívar, o libertador de 5 nações sul-americanas, teve em Abreu e Lima um grande general. Abreu e Lima foi notável político, homem que se antecipou à sua época, socialista muito antes da Revolução Russa, de 1917. Cento e sessenta anos depois de sua morte, Abreu e Lima ainda ajuda Pernambuco.
Ouço, com prazer, o Deputado Mauro Benevides.
O Sr. Mauro Benevides - Deputado Roberto Magalhães, há pouco comentava com V.Exa. a decisão do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em sintonia com o Presidente Hugo Chávez, da Venezuela, e dizia que havia expectativa entre os cearenses de que a refinaria pudesse ser sediada em nosso Estado. Evidentemente, nossa região foi favorecida com a localização em Pernambuco, mas o Ceará aguarda que o Presidente tenha sensibilidade bastante para contemplar nossa unidade federada com outro melhoramento. Do porte da refinaria não há nada previsível, mas ainda confiamos em que o Presidente se lembre do Ceará e mande alguma coisa para os cearenses.
O SR. Roberto MAGALHÃES - Se V.Exa. me permite, eu, que sou adversário do PT há muito anos, digo que o Presidente Lula não está sendo muito injusto, porque está dando ao Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte a transposição do São Francisco. (Risos.)
O Sr. Mauro Benevides - Mas Pernambuco também será contemplado com a transposição em áreas vitais.
O SR. Roberto MAGALHÃES - Pernambuco está contemplado porque tem 400 quilômetros de margem do São Francisco, mais que a sua costa marítima, de apenas 200 quilômetros.
O Sr. Mauro Benevides - Mas também no planejamento Pernambuco será favorecido por essa obra, cuja concretização ainda se discute, a julgar pelo discurso que há pouco ouvimos sobre um bispo que entendeu de fazer greve de fome para inviabilizar projeto já em andamento. Mas vamos aguardar as decisões governamentais.
O SR. Roberto MAGALHÃES - Sra. Presidenta, nesta data, 30 de setembro de 2005, termina o prazo para que novas leis alterem o processo eleitoral, alcançando as eleições do próximo ano, em face das limitações do art. 16 da Constituição da República.

Assim sendo, ficam superados os Projetos de Lei nº 2.679, de 2003, da Câmara, e nº 275, de 2005, do Senado, que visam, o primeiro, a tão discutida reforma política, e, o segundo, a reforma eleitoral que tenho chamado de emergencial.

Eu diria que foram quase 2 anos de trabalho da Comissão Especial de Reforma Política, com seus objetivos ousados e inovadores, e o esforço último do Senado no sentido de resolver o problema que está na raiz das mais graves distorções do processo eleitoral e responde, em grande parte, pelos elevados custos das campanhas e, por isso mesmo, pela corrupção despudorada, como a velha e daninha compra de votos, utilização de meios faraônicos de promoção de candidatura, inclusive - como se sabe hoje -, a conivência do crime organizado com partidos e militantes políticos.

É certo que a reforma política proposta pelo PL nº 2.679, de 2003, adota a lista fechada para as eleições proporcionais e o financiamento público de campanha, temas muito polêmicos.

Na verdade, o sistema de listas fechadas ou preordenadas - que não mais permitiriam o voto em candidatos proporcionais, deputados Federais, Estaduais e Vereadores, mas apenas na respectiva lista preordenada de cada partido - contraria a tradição de muitos anos da vida política do País, encontrando, ainda, reação do eleitorado.

Quanto ao financiamento público das campanhas eleitorais, em caráter exclusivo, ele enfrenta a resistência do eleitor contribuinte, já esmagado pelo peso de carga tributária que se inscreve entre as mais elevadas do mundo.

O projeto de lei constituiu esforço meritório. Merecia melhor atenção, discussão e alterações, se necessárias. Todavia, jamais chegou a este Plenário. O projeto de reforma eleitoral emergencial do Senado Federal, aprovado em tempo muito curto naquela Casa legislativa, numa luta contra o tempo, propõe modificações que, embora tópicas, poderiam contribuir para a realização das campanhas a custos razoáveis.

Eis algumas delas: 1) redução do período das campanhas eleitorais de 3 meses para 2 meses; 2) limitação de doações por pessoas jurídicas a 2% do seu faturamento no exercício anterior ao da campanha; 3) proibição de showmícios e outros espetáculos artísticos nos palanques - basta dizer que, em Pernambuco, já se fazem showmícios a 60 mil reais e, no Sul, segundo o depoimento de colegas deputados, chegam a mais de 100 mil reais numa noite de festa eleitoral ou pré-eleitoral, com bandas e tudo mais. Isso não é eleição, é uma competição financeira; 4) proibição e definição como crime a divulgação de qualquer espécie de propaganda de partidos ou de seus candidatos, mediante cartazes, camisas, bonés, buttons, discos e vestuário.

À Câmara não faltou tempo, Sra. Presidenta, para apreciar e aprovar esse projeto, com ou sem modificações. Mas a verdade é que faltou interesse de muitas lideranças e partidos. Lamentavelmente, pagaremos todos nós, a instituição parlamentar, os políticos e, sobretudo, os candidatos, o preço muito alto da omissão.
Como nos justificarmos perante a opinião pública por não termos oferecido resposta ao inimaginável desfile de ilegalidades e crimes, de audaciosas e imorais práticas políticas, como a compra de Parlamentares para a aprovação de projetos, o chamado mensalão?

Demissões de Ministros e executivos públicos de estatais, renúncias de mandato e cassação de deputados, além de duas CPMIs e uma CPI, nas quais têm desfilado figuras estranhas e despudoradas, como o Sr. Marcos Valério, que ninguém conhecia e, de repente, aparece no cenário nacional como dublê de empresário e factótum em diferentes áreas do submundo do mercado e da política, além de operadores, compõem o dantesco cenário a que assistimos.

Resta, agora, a esperança de que a proposta de emenda à Constituição do Deputado Ney Lopes ou a PEC similar do Senador Tasso Jereissati venham a suspender, temporariamente, a vigência do art. 16 da Constituição Federal, ensejando mais tempo a que o Senado e a Câmara possam, mediante acordo, fazer o que não fizeram até agora, ou seja, dar satisfação ao eleitorado brasileiro, perplexo e indignado com o nível de indigência ética de segmentos da política brasileira.

Mas que não venham para ensejar casuísmos e atender a interesses menores de grupos e partidos. Se for assim, melhor que não se aprovem essas emendas constitucionais.

A pergunta mais desafiadora que vem sendo feita nos círculos de intelectuais, sobretudo cientistas políticos, historiadores e filósofos, diz respeito à natureza da crise que se iniciou no Poder Executivo e depois envolveu o Legislativo, mais transparente e mais frágil pela sua própria índole de poder desarmado, cujo instrumento mais eficaz à sua defesa está na tribuna. Roberto Romano, professor da Unicamp, afirma que "Nem crise de Governo nem crise do Congresso. O Brasil passa por uma crise de Estado, que atinge os TRês Poderes da Federação". O professor e filósofo teme que a crise de Estado possa até mesmo levar a uma convulsão social no futuro e ao reaparecimento de um populismo que imaginávamos superar, como consequência do enfraquecimento do PT. (...) O pessimismo de Romano vai mais além, partindo da premissa de que é dificil contar com os Três Poderes para superar crise econômica ou política pela "fragmentação do exercício do poder legítimo do Estado". E conclui: "Um poder sozinho não é soberano. Estamos vendo a implosão da soberania dos Poderes do Estado. Isso quer dizer que não se pode confiar nesses Poderes para superar a situação em que nos encontramos".