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30/04/2009 - 07h21
Senadores também usaram cota para voos ao exterior
Passagens favoreceram entidade beneficente, parentes e amigo de parlamentares. Alvaro Dias, Geraldo Mesquita, Osmar Dias e Paulo Paim dizem ter agido de acordo com lei
Senadores afirmam que agiram dentro da legalidade ao usarem a cota de passagens aéreas para transportar terceiros |
Lúcio Lambranho, Eduardo Militão e Edson Sardinha
Senadores também usaram a cota de passagens aéreas para viajar ao exterior. Registros parciais das companhias aéreas aos quais o Congresso em Foco teve acesso mostram 12 viagens internacionais, sendo sete de ida e volta, para Buenos Aires, na Argentina, e Montevidéu, no Uruguai. Os 19 voos saíram da cota de quatro senadores e beneficiaram parentes e pessoas que não trabalham para os parlamentares. As passagens foram emitidas entre 25 de junho de 2007 e 13 de janeiro de 2009, pela Gol e pela Varig. Oito voos saíram da cota de Alvaro Dias (PSDB-PR), cinco de Geraldo Mesquita (PMDB-AC), quatro de Paulo Paim (PT-RS) e dois de Osmar Dias (PDT-PR).Todos os parlamentares ouvidos pelo site afirmam que agiram dentro da legalidade, mesmo quando transportaram parentes para fins particulares, e que não devolverão o dinheiro gasto. Mesquita, porém, diz que abandonou a prática de viajar com a mulher desde que o Senado mudou as regras de uso da cota de passagens de avião.
Compensação de despesas
Alvaro Dias Filho, filho do senador, fez uma viagem de ida e volta de Curitiba (PR) para Montevidéu, no Uruguai, com escalas ou conexões em Porto Alegre (RS) e São Paulo. O bilhete foi emitido em 1º de setembro de 2008, na companhia Varig.Os voos saíram da cota do pai, Alvaro Dias, assim como a viagem de Alessandra Kussen, Magali da Silva e Alciléia Freitas. Elas foram de Curitiba para Buenos Aires, na Argentina, pela Varig. Os bilhetes foram emitidos em 26 de setembro de 2008. Segundo Alvaro Dias, houve uma compensação de despesas. Ele diz que teve que resolver o problema do filho da mesma maneira que, em alguns finais de semana, teve que usar seu cartão de crédito pessoal para custear suas viagens, dias em que seu gabinete estava fechando e não podia emitir bilhetes por meio de sua cota.“Não vejo a necessidade de ressarcir o valor pois não há nenhuma irregularidade. E, se eu ressarcir, vou estar assumindo que houve uma irregularidade. Caso a Mesa decida em contrário, eu devolverei”, avalia Alvaro Dias sobre a passagem paga para o seu filho.
As outras três passageiras, segundo o senador, são integrantes do Pequeno Cotolengo do Paraná, entidade que trabalha para o bem estar de pessoas com deficiências múltiplas, paralisia cerebral e outras deficiências. Alessandra Kussen, Magali da Silva e Alciléia Freitas foram para um evento internacional de entidades similares a que pertencem em Bueno Aires. “Estive na instituição e fiquei emocionado com o trabalho. Como o trabalho da entidade e com a situação de penúria das crianças”, diz o senador do PSDB. “Em um outro momento, quando houve convocação extraordinária, fui lá e entreguei um cheque de cerca de R$ 12 mil”, justifica Alvaro Dias.
Problemas de locomoção
Washington Bonilla foi de Montevidéu a Porto Alegre em duas ocasiões na cota do senador Paulo Paim. O primeiro bilhete foi emitido em 15 de fevereiro de 2008; o segundo, em 27 de novembro daquele ano. “Ele vive há mais de 20 anos no Brasil. Tem mais de 130 quilos e tem dificuldade de locomoção. Viajou em dois momentos devido a doença dos pais no Uruguai. O pai teve derrame na primeira viagem", informa Paim. “Esse é o critério, doença da família ou motivo de saúde, que sempre usei aqui para conceder passagens. Ele é um velho militante da causa”, justifica Paim. O senador também diz que a regra vigente na época permitia a doação de passagens e que o parlamentar deveria administrar sua cota sem restrições. “Sou um dos senadores que mais economiza essa cota. Tenho um saldo de R$ 90 mil”, completa Paim.
Filha em Buenos Aires
O irmão de Alvaro Dias, o também senador Osmar Dias, usou sua cota para transportar a filha Rebeca Dias. Pela Varig, ela foi de Curitiba para Buenos Aires. O bilhete foi emitido em 13 de fevereiro deste ano.Por meio de sua assessoria, Osmar Dias se limitou a dizer que o que fez foi legal. “Isso não infringiu nenhuma norma disposta no ato da Comissão Diretora vigente à época”, informaram seus auxiliares. “Os senadores podem usar a cota sem nenhum problema.” Osmar Dias não explicou qual foi atividade de sua filha Rebeca em Buenos Aires.
Mulher conselheira
Da cota do senador Geraldo Mesquita Júnior, saíram cinco viagens para o próprio senador e sua esposa, Maria Helena Mesquita. Eles foram para Montevidéu, pela Gol e pela Varig, com bilhetes emitidos em 25 de junho de 2007, 11 de dezembro de 2007, 18 de março de 2008, 14 de abril de 2008 e 9 de setembro de 2008. Geraldo Mesquita diz que levou a mulher para reuniões do Parlamento do Mercosul, porque ela é “sua principal conselheira” e auxilia seu trabalho político Brasil afora. “Não sinto ter me apropriado indevidamente de recursos públicos. Fui a trabalho”, avalia.
Com as novas regras aprovadas pelo Senado, Maria Helena não tem mais acompanhado Mesquita em seu trabalho político. Na segunda-feira e terça-feira, o senador foi sozinho a uma reunião do Parlamento do Mercosul em Assunção, no Paraguai. O senador diz que vai “sentir falta” dos voos em que era acompanhado por Maria Helena, mas está conformado. “Tudo na vida a gente muda de rota, se acostuma. Forçosamente temos que nos adaptar”, diz Mesquita.