Ao ser processado e perder o cargo por corrupção, o grande filósofo Francis Bacon, dito o pai da ciência experimental (título, como todos os títulos, questionado e questionável), afirmou em sua defesa que ele "apenas" repetira os ares dos tempos, ou seja, os ares das falcatruas, muito frequentes no reino de Sua Majestade britânica. Assim, ele não seria culpado, mas sim a História. Não sei se o ex-Reverendíssimo, dito o pai dos pobres e na verdade, pai de crianças nascidas de meninas adolescentes, pego em coisas que não merecem muita reverência, leu a história de Bacon. Mas soube usar o mesmo artifício. Não, não foi ele o genitor dos pequenos paraguaios: foi a História. O argumento não livrou Bacon da queda. Talvez ele ajude sua Excelência nada reverendíssima a se agarrar ao cargo. Resta que a cara de pau de ambos, filósofo e presidente, é a mesma. Claro que se torna injusta, para o ex Chanceler da Inglaterra, a comparação com o santinho do pau oco, o suposto defensor dos pobres. Mas as coincidências históricas são, no mínimo, hilárias. Recordemos a redução da Raison d´État, no Ceará petista, aos dólares nas cuecas de assessores. É assim, cada um tem a História e o Estado que merece.
RRSão Paulo, sábado, 25 de abril de 2009
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Lugo pede perdão por caso de paternidade Presidente do Paraguai, que admitiu 1º filho, diz que 2ª e 3ª alegações serão esclarecidas na Justiça e nega crise
DA REDAÇÃO O presidente paraguaio, Fernando Lugo, rompeu ontem o silêncio sobre o escândalo das alegações de paternidade e pediu "perdão pelas circunstâncias". O ex-bispo, que admitira ser pai da primeira criança, não reconheceu a paternidade nos dois casos mais recentes, mas prometeu esclarecer a situação na Justiça e "com a verdade". "Eu, pessoa humana imperfeita, resultado de processos históricos, perfil da minha cultura, assumirei com todas as responsabilidades as situações que me concernem", disse Lugo em entrevista coletiva. "Sou um ser humano, e como tal, nada humano me é alheio." O presidente disse que as alegações de paternidade vindas a público nos últimos dias serão tratadas caso a caso na Justiça. "Minha confissão faço aos meus confessores", afirmou, justificando o fato de não ter admitido nem negado os supostos relacionamentos com Benigna Leguizamón, 27, e Damiana Morán, 39, as autoras das revelações desta semana. Morán, que havia dito não ter intenção de recorrer à Justiça, como fez Leguizamón, afirmou ontem ter mudado de ideia. A decisão, disse, se deve às negativas do advogado de Lugo em reconhecer ter falado com ela. No último dia 13, Lugo admitiu ser pai de Guillermo Carrillo, que completará 2 anos no próximo dia 4, filho de Viviana Carrillo, 26, com quem tivera relacionamento por dez anos. Nos três casos, as crianças foram concebidas quando o presidente exercia o sacerdócio. A "perda do estado clerical" só foi concedida a Lugo pelo Vaticano em julho do ano passado, apenas um mês antes da sua posse. Ontem, a quarta e a quinta mulheres que se especulava na imprensa local que dariam sequência aos pedidos de paternidade negaram os boatos. Narcisa de la Cruz disse conhecer Lugo, segundo o "Última Hora", mas negou que o ex-bispo seja pai de seu filho. Já Raquel Torres acusou uma integrante do opositor Partido Colorado de oferecer dinheiro para revelar o suposto caso. Lugo disse reconhecer que "faltou" com a igreja e os cidadãos paraguaios "que depositaram confiança em mim", mas garantiu que não há possibilidade de deixar a Presidência.
Defesa do governo "Ante os rumores de instabilidade e conspiração, esse processo não sofrerá retrocessos até 15 de agosto de 2013, quando entregaremos o governo a nosso sucessor", afirmou. Lugo disse que podem "esperar sentados" todos aqueles que pretendem interromper a mudança. "Não permitirei que essas circunstâncias afetem ações de interesse nacional." O presidente paraguaio ainda manifestou a intenção de restabelecer laços com o seu vice, Federico Franco, com quem as relações deterioram-se seriamente nos últimos dias. Franco lidera uma ala do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA, centro-direita), principal legenda da aliança luguista, dentro do governo. Ele desaprovou publicamente as mudanças no ministério anunciadas por Lugo na última segunda e tem reclamado do papel destinado a seu grupo no governo. Anteontem, porém, Franco negou apoiar a abertura de um juízo político de Lugo no Congresso, pedido pelo Partido Colorado, só possível em caso de dissidência governista. "Estamos trabalhando para o governo de Lugo e Franco recompor os laços", disse o presidente.
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