quinta-feira, 30 de abril de 2009

No Blog de José Dirceu, um monumento de retórica antissemita, sob a capa de ataque ao sionismo.

"O que deve receber todo apoio das forças progressistas, no entanto, é a atitude do governo brasileiro, que não se faz cúmplice da hipocrisia que protege crimes do sionismo e do Estado de Israel contra a humanidade." (do texto abaixo). A lingua é a mesma da usada pelos donos do antigo PC, o jargão traz o mesmo perfume letal. Em nome do "progressismo" foi decretada a aliança com a Alemanha nazista, em nome do progressismo foi indicada e seguida a união com Vargas, o ditador que retornava ao poder, em nome do progressismo, o atraso na democracia levou a esquerda à cumplicidade com os piores criminosos, como no caso do Camboja, do país de Ceaucescu, etc.

Em nome da humanidade, no domingo protestaremos contra um governo tirânico, retrógrado, contrário aos direitos das pessoas.
Roberto Romano

Será que, dessa vez, Ahmadinejad tem razão?

Por Breno Altman

O presidente iraniano tem apresentado repertório de declarações abomináveis nos últimos tempos. Durante palestra recente na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, horrorizou sua platéia com afirmações homofóbicas. Logo depois escandalizou o planeta ao colocar em dúvida a existência do holocausto. O sr. Mahmud Ahmadinejad não tem pruridos ao difundir valores e idéias de seu fundamentalismo teológico, expressão cultural de uma revolução popular que deu vida à uma autocracia religiosa medievalmente antiimperialista.


Essa toxidade do discurso iraniano tem se revelado suficiente para que tudo o que é feito e dito por Ahmadinejad seja prejulgado, no mundo ocidental, como uma bárbara ofensa à civilização. Não foi diferente a reação, quase natural, à sua mais recente intervenção pública. Durante a Conferência das Nações Unidas contra o Racismo, realizada em Genebra, Ahmadinejad afirmou que Israel era um "Estado racista" e que os países ocidentais eram cúmplices de seus crimes contra os povos árabe e palestino. Aliás, algumas dessas nações, lideradas pelos Estados Unidos, boicotoram o evento por temerem que fosse utilizado como trincheira contra Israel.
Mas, retornando à declaração de Ahmadinejad, sua denúncia não é novidade. A própria ONU, através da resolução 3379, aprovada em 1975 com o voto de 72 nações contra 35 contrárias, afirmava: "o sionismo é uma forma de discriminação racial". Apenas em 1991, quando o mundo já vivia sob a ordem unipolar posterior à guerra fria, essa resolução foi revogada, em um clima marcado pelas negociações que levariam aos acordos de Oslo, entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Como justificativa para esta revogação, o presidente norte-americano George Bush, o pai, lançou a jurisprudência do álibi perfeito: "igualar o sionismo com o pecado imperdoável do racismo é deformar a história e esquecer a terrível tragédia dos judeus na Segunda Guerra Mundial". Trocando em miúdos: qualquer questionamento ao sionismo, à sua crença no direito de um "povo eleito" à "terra prometida", deveria ser tratado como desrespeito ao holocausto.

Ahmadinejad talvez não fosse o personagem com maior credibilidade para colocar o dedo nessa ferida, mas o fez, e isso é o que importa. A hipocrisia dos aliados de Israel e Estados Unidos, capaz de contaminar até mesmo setores progressistas, alimentou nos últimos dias um clamor contra o líder iraniano. Novamente ergueram a bandeira do holocausto em proteção ao sionismo, mas não reagiram sequer com um átimo dessa energia contra recentes posições do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e seu chanceler, Avigdor Lieberman, cujas pregações desvendam a natureza do sionismo, como se já não bastassem as cenas genocidas das agressões na Faixa de Gaza.
O chefe do Likud, o partido da direita sionista, agora exige o reconhecimento de Israel como "Estado judeu". Para além da idéia antidemocrática e anti-republicana de uma ordem confessional, o que Bibi reivindica é que os palestinos abram mão de qualquer demanda sobre território, direito dos refugiados ou jurisdição de Jerusalém, se concordarem com o pressuposto da hegemonia racial-religiosa sobre a área em disputa desde 1948. O povo palestino poderia eventualmente ocupar faixas de terra dentro do território pretensamente judeu, mas sempre em regime de concessão, sem soberania e submetido à tutela sionista.
O chanceler Lieberman, por sua vez, líder do ultra-direitista Israel Beiteinu, propõe abertamente a segregação de árabes-israelenses, que apenas teriam direito de circular, trabalhar e votar se jurassem lealdade ao "Estado judeu". Os demais deveriam viver na circunscrição da Autoridade Palestina, cujas fronteiras seriam reduzidas para permitir abrigo aos colonos judeus, verdadeiros grileiros incentivados por Tel Aviv, em território israelense.

por Breno Altman

A decantação do sionismo como força de Estado o levou para além dos marcos de um pensamento de caráter supremacista. Alegando questões de segurança e evocando a memória do holocausto, o governo sionista está construindo um sistema de apartheid, com regras discriminatórias e bantustões semelhantes ao que existiam na velha Africa do Sul. Assim como procederam os afrikaners no final da colonização britânica, diante da maioria negra que ameaçava seu poder, a doutrina Lieberman responde, com a institucionalização do racismo, à tendência demográfica dos judeus se transformarem em minoria étnica no território israelense. A verdade é que árabes-israelenses e palestinos são submetidos a guetos enquanto grande parte da comunidade internacional despende suas fontes de indignação com as diatribes de Ahmadinejad e cruza os braços diante da ofensiva do sionismo. Para proteger seus próprios interesses no Oriente Médio, os Estados Unidos e seus aliados aceitam que os cadáveres do Holocausto sejam apropriados por Israel como carta branca à sua política racista.

Poucos países rejeitam claramente esse ponto de vista, entre eles o Brasil. No próximo dia 6 de maio o líder iraniano será recebido pelo presidente Lula. Os grupos conservadores e pró-sionistas atuam para criar dificuldades e embaraços a esse encontro. Não é o caso, está evidente, de tratar Ahmadinejad com algo mais que o respeito devido a seu papel como chefe de uma nação importante e independente. O que deve receber todo apoio das forças progressistas, no entanto, é a atitude do governo brasileiro, que não se faz cúmplice da hipocrisia que protege crimes do sionismo e do Estado de Israel contra a humanidade. Tal comportamento deveria ajudar homens e mulheres que não se subordinam ao preconceito a se questionarem: será que, dessa vez, Ahmadinejad não tem razão?

Breno Altman é jornalista e diretor de redação do site Opera Mundi.