O trapalhão
Lula e Dilma têm muitas coisas em comum, mas falta uma capaz de fazer toda a diferença: nada pega em Lula. Tudo pega em Dilma.
Mensalão? Lula jura que não sabia. Compra de dossiê contra adversários nas eleições de 2006? Ignorava.
Lina Vieira, ex-secretária da Receita Federal, diz mas não prova que se reuniu com Dilma no Palácio do Planalto. E que ouviu dela o pedido para que agilizasse as investigações em torno de negócios suspeitos de Fernando Sarney, filho do senador José Sarney.
Dilma nega tudo.
Pois bem: as pessoas preferem acreditar em Lina. Foi o que mostrou a mais recente pesquisa de opinião pública aplicada pelo Instituto Sensus.
Dilma angariou justa fama de autoritária. Lula é um autoritário sem fama.
Dilma trata mal até ministros de Estado. Lula está cansado de fazer o mesmo, mas ninguém perto dele sai espalhando.
Dilma detesta ser contrariada. Lula é capaz de pular no pescoço de quem o contrarie.
De cara feia, Lula assusta os que o cercam tanto quanto Dilma assusta os seus. Mas a antipática é ela. Lula é um doce.
Imagine só se coubesse a Dilma decidir se os projetos do Pré-sal deveriam ou não ser votados em regime de urgência no Congresso. E que ela decidisse que deveriam, sim. E depois recuasse. E em seguida mantivesse a urgência. Para finalmente revogá-la.
Do que a chamariam? De política hábil, conciliadora, esperta, realista como Lula? Ou de fraca, confusa, indecisa e permeável a todo tipo de pressão?
E se Dilma na presidência tivesse tomado algumas doses a mais de caipirinha e, ao lado do presidente da França, anunciasse o desfecho de uma concorrência bilionária que ainda não esgotou seus trâmites?
O mundo desabaria na cabeça dela. A Aeronáutica entraria de prontidão (claro que exagero). E o ministro da Defesa teria a desculpa que procura para deixar o governo e apoiar a candidatura de José Serra (PSDB) à eleição presidencial de 2010.
Lula é um trapalhão. Por despreparo, presunção ou falta de cuidado, fabrica trapalhadas desnecessárias.
É dele, sem dúvida, a decisão final sobre a compra de aviões militares. Lula não está obrigado a levar em conta apenas aspectos técnicos das propostas. De fato são relevantes razões de ordem estratégica.
Mas ele precisava se precipitar?
Por pouco não enfrentou uma crise com a demissão do Comandante da Aeronáutica.
Para ficarmos só na área militar: em 2007, quando os controladores de vôo entraram em greve, Lula mandou o ministro do Planejamento negociar com eles – e o Comandante da Aeronáutica ameaçou ir embora.
Aí Lula desautorizou o que o ministro do Planejamento prometera aos contraladores em troca do fim da greve.
Três anos antes, afrontado pelo Comandante do Exército que emitira uma nota de elogio ao golpe militar de 1964, o ministro da Defesa José Viegas tentou demiti-lo. Lula não deixou.
Sentindo-se enfraquecido, Viegas foi embora.