segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Jornal do Commercio, Recife, 20/09/2009, seção Pinga-fogo

O avanço do “antiestado”
Publicado em 20.09.2009

Aprovada às pressas na Câmara dos Deputados, o projeto chegou às 19h na Casa e seguiu para votação na hora seguinte, a minirreforma eleitoral que regerá as eleições de 2010 traz muitos questionamentos. Mas nada comparável à manutenção de um sistema de doação oculta que prevalece há tempos no país. “Isso foi o pior golpe que os parlamentares poderiam dar em termos do próprio controle da cidadania”, reage o professor de Filosofia e Ética da Unicamp, São Paulo, Roberto Romano. Não consola, nem serve como desculpa, mas esse tipo de financiamento de campanha não é um problema só do Brasil. Professor Romano estudou o assunto, Recentemente concluiu a leitura de dois livros que falam dos mesmos vícios empregados na Itália do chamado primeiro mundo, cujas revelações são de “estarrecer”, nas palavras dele. Esse é um problema de todas as democracias representativas. O que o torna ainda mais preocupante.

Agrava a preocupação porque é um método que pode gerar, em algum tempo, segundo prevê Romano, a presença na cena pública daquilo que o filósofo político Norberto Bobbio (1909-2004) chama de “antiestado”. “Antiestado é a máfia, o narcotráfico, todas essas sociedades secretas. Daqui a pouco nós não teremos mais só a desconfiança de que o narcotráfico financia a política, teremos dirigentes do narcotráfico sendo chamados de vossa excelência. Isso é um perigo!”, alerta Romano. Claro que o professor parte para uma hipótese radical. Compreensível, porém, dado que entre ela e o que já vem ocorrendo na política há uma gradação de coisas muito perigosas. “Se acuados no antiestado eles já são perigosos, imagine se puderem movimentar o aparato legislativo ou executivo do Estado?”

http://jc3.uol.com.br/jornal/2009/09/20/col_53.php