Publicado em 18.09.2009
Sempre atento ao tempo das coisas, e sendo a política “a arte do tempo certo”, o professor de Filosofia e Ética da Unicamp, Roberto Romano, foi tomado por uma súbita preocupação, que não lhe dá tréguas, diante da decisão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados de aprovar, nesta quarta-feira, a liberação dos bingos, caça-níqueis e videobingos. A inquietação do professor não é proveniente apenas dessa medida. Mas de outra, também tomada pela Câmara dos Deputados, que casada com a dos bingos despertou em Roberto Romano a percepção de uma “infeliz coincidência”, dessas de nos apoquentar feito uma “pulga atrás da orelha”.
O professor se refere a permissão dada pela Câmara às doações ocultas, um dos pontos da minirreforma eleitoral. Esse modelo permite que o contribuinte de campanha doe diretamente ao partido, ficando com seu nome livre da relação de contribuintes a ser apresentada à Justiça Eleitoral. Em seu lugar, aparece o nome do partido.
“É muito preocupante que às vésperas de uma eleição tão decisiva como a de 2010 seja dada essa bênção aos bingos e etc. Essa é uma outra possibilidade de movimentação de recursos que não pode ser compensada, é um canal muito fácil de lavagem de dinheiro. E no momento em que são aprovadas regras, bastante escusas, para financiamento de campanha se torna ainda mais preocupante essa medida. A coincidência dessa aprovação (bingos e doações ocultas) me deixou realmente com a pulga atrás da orelha”.