Já é bem reconhecido que o vinho tinto sem exageros pode promover um efeito protetor à saúde do coração e do cérebro. Um componente que explica esse efeito positivo é o próprio álcool, mas os polifenóis também fazem a sua parte. Os polifenóis são substâncias encontradas em abundância nos alimentos de origem vegetal e que ajudam a promover um melhor funcionamento dos vasos sanguíneos. Onde tem vasos sanguíneos funcionando bem, os órgãos têm mais chance de estarem bem também.
O vinho branco, que tem uma menor concentração de polifenóis, exerce efeitos mais discretos sobre os vasos que o vinho tinto, apesar de seus efeitos positivos já terem sido demonstrados. O Champagne francês, por sua vez, tem uma concentração de polifenóis maior que a do vinho branco por conta das uvas Pinot Noir, Pinot Meunier e Chardonnay, e no Brasil, alguns espumantes também têm como base essas uvas. Entretanto, poucos estudos foram realizados para investigar os efeitos do Champagne sobre nosso organismo, especialmente com o foco em nossa saúde vascular.
Pesquisadores franceses acabam de publicar um estudo no British Journal of Nutrition revelando que o consumo de 375ml de Champagne em um período de 10 minutos foi capaz de promover dilatação dos vasos sanguíneos por até 8 horas. Esses efeitos não foram demonstrados após a ingestão de uma bebida com o mesmo teor de álcool, carboidrato e mesma acidez, sugerindo que a ação do Champagne sobre os vasos é mediada pelo seu conteúdo de polifenóis. Novos estudos deverão ser conduzidos para avaliar o impacto do uso regular e moderado da bebida sobre o risco de doenças vasculares como o infarto do coração e derrame cerebral.
Já existe realmente um bom corpo de pesquisas mostrando o efeito protetor dos vinhos em doses moderadas. Do ponto de vista de saúde pública, não se deve fazer campanhas convidando a população a começar a beber. A recomendação da Associação Americana do Coração é que quem não bebe não deveria começar a beber, já que hábitos como uma dieta inteligente e atividade física regular podem ser mais interessantes à saúde que os potenciais efeitos positivos do álcool. Por outro lado, a atual recomendação é que quem já tem o costume de beber não precisa parar, desde que consiga beber dentro dos limites considerados seguros (duas doses diárias para homens e uma dose para mulheres). Entretanto, essa última recomendação começa a ser colocada em xeque após um recente estudo que acompanhou um milhão de mulheres e mostrou que mesmo aquelas que tomavam uma dose por dia tinham maior risco de apresentar alguns tipos de câncer, como o de mama, reto e fígado.
* Ricardo Teixeira é Doutor em Neurologia pela Unicamp. Atualmente, dirige o Instituto do Cérebro de Brasília (ICB) e dedica-se ao jornalismo científico em saúde. É também titular do Blog "ConsCiência no Dia-a-Dia" - www.consciencianodiaadia.com.br