sábado, 22 de setembro de 2012
Agencia Reuters
Com mau desempenho em capitais, PT tenta afastar impacto do mensalão
Por Ana Flor
BRASÍLIA, 21 Set (Reuters) - A 16 dias das eleições municipais e amargando a pior situação eleitoral em mais de uma década nas capitais, o PT tenta afastar das urnas o impacto do julgamento do chamado mensalão, em andamento no STF, que entrará na fase mais delicada para o partido nos próximos dias, quando começa a análise das acusações contra a cúpula petista do suposto esquema.
Lideranças do PT e de partidos aliados negam que as candidaturas venham sofrendo com a repercussão de condenações no Supremo Tribunal Federal (STF) e a constatação, por parte dos ministros da Corte, de que houve compra de apoio político pelo governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Para especialistas que acompanham a eleição, é difícil afirmar se o escândalo terá impacto nas urnas na reta final. Eles apontam que o mau desempenho de alguns candidatos vem mais do desgaste dos partidos e do esgotamento de suas propostas locais do que de um fator externo, como o julgamento.
"Eu não vejo impacto do julgamento até agora", diz Márcia Cavallari, diretora do Ibope. "Para o eleitor o caso (do mensalão) é muito complicado (de compreender)... e há candidatos do PT ganhando Brasil afora", acrescentou ela, para quem o poder de presidentes da República é limitado nos pleitos municipais.
Na quarta-feira, o STF decidiu deixar a análise do crime de corrupção ativa para o final do atual capítulo, que trata dos políticos que teriam recebido recursos no suposto esquema de compra de apoio político. Com isso, a cúpula petista --José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares-- deve ser julgada na semana anterior ao primeiro turno.
Nos últimos dias, os presidentes de partidos aliados subscreveram nota em defesa de Lula, fiador de diversas candidaturas pelo país, como reação à tentativa de partidos de oposição de pedir investigação do envolvimento do ex-presidente, depois de a revista Veja publicar reportagem em que o empresário Marcos Valério teria afirmado a conhecidos que Lula era o "chefe" do suposto esquema.
De acordo com um ministro aliado, que falou sob condição de anonimato, a nota começou a ser planejada no último final de semana, assim que a reportagem foi publicada. Mesmo sem querer a identificação com o julgamento em curso no STF, aliados do PT pesaram que os ataques a Lula teriam chances de afetar candidatos da base em todo o país, não só do PT.
A Executiva Nacional do partido também divulgou nota convocando os militantes do partido a "uma batalha do tamanho do Brasil" contra "mentiras" e em favor de Lula e do legado dos governos do PT.
Para o professor de Ética e Filosofia da Unicamp Roberto Romano, o impacto da ação em curso no STF "não é tão dramática, profunda e sísmica como a direção do PT e as propagandas do PSDB fazem crer".
"Tanto a presidente Dilma quanto Lula estão equivocados ao supervalorizar o STF", diz ele, que acredita que a nota divulgada nesta sexta pela presidente, contestando o uso pelo relator do processo, ministro Joaquim Barbosa, de seu depoimento como testemunha, foi "desastrosa".
Na propaganda eleitoral, o mensalão virou arma de adversários do PT, artilharia que irá crescer com a perspectiva de condenação por corrupção ativa de Dirceu, Genoino e Delúbio.
"Até agora não houve (impacto do mensalão nas intenções de voto), vamos ver o que pode acontecer nas próximas duas semanas", afirmou à Reuters o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que se mantém confiante no desempenho dos candidatos petistas nas principais cidades em que o partido disputa.
Segundo outra liderança do PT em São Paulo, que falou sob condição de anonimato, pesquisas internas do partido na cidade mostram que o eleitor, em especial da periferia, confunde a palavra "mensalão" com os escândalos do PT e do PSDB e do DEM. É justamente na periferia que o PT, com Fernando Haddad, tenta crescer para ultrapassar o tucano José Serra e chegar ao segundo turno contra Celso Russomanno (PRB).
MAU DESEMPENHO
O cálculo interno feito pelo PT, de acordo com dois integrantes da executiva nacional, é de que o partido vença no primeiro turno em Goiânia e possa levar a disputa para o segundo turno em Cuiabá, Fortaleza, Salvador, Vitória e São Paulo --onde a mais recente pesquisa Datafolha mostrou Serra à frente de Haddad.
Mesmo se vencer em todas essas cidades, o partido apenas manteria o número de capitais que comanda. Esse cenário é visto como pouco provável por lideranças petistas, que acreditam que a sigla ampliará o comando nas cidades médias e regiões metropolitanas.
O partido ainda pode amargar uma derrota com ares de "tragédia", segundo uma liderança petista: um possível segundo turno no Recife entre PSB e PSDB, sem o PT.
"O PT tem fraturas internas em praticamente todos os locais onde está disputando, isto é um motivo muito maior para um desempenho fraco dos candidatos", afirma Romano.
"Ser concomitante não faz com que um fato seja a causa de outro", acrescenta ele, sobre a possível derrota em algumas cidades e o impacto do julgamento no STF.
BRASÍLIA, 21 Set (Reuters) - A 16 dias das eleições municipais e amargando a pior situação eleitoral em mais de uma década nas capitais, o PT tenta afastar das urnas o impacto do julgamento do chamado mensalão, em andamento no STF, que entrará na fase mais delicada para o partido nos próximos dias, quando começa a análise das acusações contra a cúpula petista do suposto esquema.
Lideranças do PT e de partidos aliados negam que as candidaturas venham sofrendo com a repercussão de condenações no Supremo Tribunal Federal (STF) e a constatação, por parte dos ministros da Corte, de que houve compra de apoio político pelo governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Para especialistas que acompanham a eleição, é difícil afirmar se o escândalo terá impacto nas urnas na reta final. Eles apontam que o mau desempenho de alguns candidatos vem mais do desgaste dos partidos e do esgotamento de suas propostas locais do que de um fator externo, como o julgamento.
"Eu não vejo impacto do julgamento até agora", diz Márcia Cavallari, diretora do Ibope. "Para o eleitor o caso (do mensalão) é muito complicado (de compreender)... e há candidatos do PT ganhando Brasil afora", acrescentou ela, para quem o poder de presidentes da República é limitado nos pleitos municipais.
Na quarta-feira, o STF decidiu deixar a análise do crime de corrupção ativa para o final do atual capítulo, que trata dos políticos que teriam recebido recursos no suposto esquema de compra de apoio político. Com isso, a cúpula petista --José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares-- deve ser julgada na semana anterior ao primeiro turno.
Nos últimos dias, os presidentes de partidos aliados subscreveram nota em defesa de Lula, fiador de diversas candidaturas pelo país, como reação à tentativa de partidos de oposição de pedir investigação do envolvimento do ex-presidente, depois de a revista Veja publicar reportagem em que o empresário Marcos Valério teria afirmado a conhecidos que Lula era o "chefe" do suposto esquema.
De acordo com um ministro aliado, que falou sob condição de anonimato, a nota começou a ser planejada no último final de semana, assim que a reportagem foi publicada. Mesmo sem querer a identificação com o julgamento em curso no STF, aliados do PT pesaram que os ataques a Lula teriam chances de afetar candidatos da base em todo o país, não só do PT.
A Executiva Nacional do partido também divulgou nota convocando os militantes do partido a "uma batalha do tamanho do Brasil" contra "mentiras" e em favor de Lula e do legado dos governos do PT.
Para o professor de Ética e Filosofia da Unicamp Roberto Romano, o impacto da ação em curso no STF "não é tão dramática, profunda e sísmica como a direção do PT e as propagandas do PSDB fazem crer".
"Tanto a presidente Dilma quanto Lula estão equivocados ao supervalorizar o STF", diz ele, que acredita que a nota divulgada nesta sexta pela presidente, contestando o uso pelo relator do processo, ministro Joaquim Barbosa, de seu depoimento como testemunha, foi "desastrosa".
Na propaganda eleitoral, o mensalão virou arma de adversários do PT, artilharia que irá crescer com a perspectiva de condenação por corrupção ativa de Dirceu, Genoino e Delúbio.
"Até agora não houve (impacto do mensalão nas intenções de voto), vamos ver o que pode acontecer nas próximas duas semanas", afirmou à Reuters o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que se mantém confiante no desempenho dos candidatos petistas nas principais cidades em que o partido disputa.
Segundo outra liderança do PT em São Paulo, que falou sob condição de anonimato, pesquisas internas do partido na cidade mostram que o eleitor, em especial da periferia, confunde a palavra "mensalão" com os escândalos do PT e do PSDB e do DEM. É justamente na periferia que o PT, com Fernando Haddad, tenta crescer para ultrapassar o tucano José Serra e chegar ao segundo turno contra Celso Russomanno (PRB).
MAU DESEMPENHO
O cálculo interno feito pelo PT, de acordo com dois integrantes da executiva nacional, é de que o partido vença no primeiro turno em Goiânia e possa levar a disputa para o segundo turno em Cuiabá, Fortaleza, Salvador, Vitória e São Paulo --onde a mais recente pesquisa Datafolha mostrou Serra à frente de Haddad.
Mesmo se vencer em todas essas cidades, o partido apenas manteria o número de capitais que comanda. Esse cenário é visto como pouco provável por lideranças petistas, que acreditam que a sigla ampliará o comando nas cidades médias e regiões metropolitanas.
O partido ainda pode amargar uma derrota com ares de "tragédia", segundo uma liderança petista: um possível segundo turno no Recife entre PSB e PSDB, sem o PT.
"O PT tem fraturas internas em praticamente todos os locais onde está disputando, isto é um motivo muito maior para um desempenho fraco dos candidatos", afirma Romano.
"Ser concomitante não faz com que um fato seja a causa de outro", acrescenta ele, sobre a possível derrota em algumas cidades e o impacto do julgamento no STF.
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
Entre Aspas, Globo News, 20/09/2012. Aldo Fornazieri e Roberto Romano.
Campanha eleitoral
Faltando apenas duas semanas para as eleições municipais,
Mônica Waldvogel promove um debate sobre o peso do voto religioso nas
eleições para prefeito, a influência do julgamento no STF sob o
eleitorado e as tendências apontadas nas pesquisas.