Aníbal Faúndes fala sobre as graves consequências do aborto inseguro
Nos
países em que o aborto foi legalizado, o índice de mortalidade materna e
a taxa de interrupção das gravidezes são menores do que naqueles que
não aprovaram o procedimento. A informação é do professor da Faculdade
de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Aníbal Faúndes, que participou no
início da tarde desta quinta-feira (28) do “Aulas Magistrais”, projeto
desenvolvido pela Pró-Reitoria de Graduação (PRG). Faúndes abordou o
tema “O aborto, a saúde da mulher e os direitos sexuais e reprodutivos”.
De acordo com o médico, que também é
pesquisador sênior no Centro de Pesquisas em Saúde Reprodutiva de
Campinas (Cemicamp) e coordenador do Grupo de Trabalho sobre Aborto
Inseguro da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO),
é um equívoco pensar que a legalização tem como consequência o aumento
do número de abortos. “Nos países em que a medida foi adotada, as taxas
caíram com o passar do tempo. O mesmo ocorreu com os índices de
mortalidade materna, visto que as mulheres passaram a ter acesso a
atendimento de qualidade”, disse.
O professor da FCM apresentou um dado
segundo o qual foram feitos cerca de 45 milhões de abortos no mundo
entre os anos de 2003 e 2008. Destes, 22 milhões foram ilegais. O
problema, segundo ele, é que grande parte dos procedimentos clandestinos
também é insegura, ou seja, não conta com os necessários cuidados
médicos e hospitalares. Estes, não raro, acabam por acarretar
hemorragias, infecções, perfurações intestinais e até a morte. “É
preciso lembrar que os casos de aborto ilegal são frequentemente
subnotificados. Principalmente nos países pobres e emergentes, as
complicações decorrentes do abortamento inseguro constituem sério
problema de saúde pública”.
No Brasil, prosseguiu Faúndes, a
discussão em torno da legalização do aborto ainda causa muita polêmica.
Aqui, assim como em outras nações não desenvolvidas, assinalou o médico,
as mulheres que optam por interromper a gravidez o fazem, na sua
maioria, de forma insegura. “A bem da verdade, o Brasil não consegue
oferecer um atendimento adequado nem mesmo às mulheres que querem
interromper a gravidez nos casos previstos em lei. É o caso daquelas que
foram estupradas. Aqui, se a mulher disser que foi violentada pelo
noivo, por exemplo, a tendência é que as pessoas, inclusive os
profissionais de saúde, considerem que isso não constitui estupro,
apenas porque ela mantém um relacionamento afetivo com o agressor”.
As maiores vítimas dessa situação,
lembrou o médico, são as mulheres pobres, que não têm voz para cobrar
uma mudança na legislação. “Falta poder político a elas. É por isso que
temos que usar as nossas vozes para defender os direitos delas”. A
questão que se coloca, conforme o docente, não é ser a favor ou contra o
aborto. “Ninguém gosta do aborto, nem mesmo a mulher que opta por ele.
Trata-se de uma solução extrema”, lembrou Faúndes, destacando que a
discussão em torno do tema tem que envolver também o direito da
sociedade em geral a uma educação sexual responsável e ao acesso à
informação e serviços de saúde de qualidade. O projeto “Aulas
Magistrais” é realizado uma vez ao mês. Os convidados são docentes e
pesquisadores com destacada produção acadêmica e intelectual. As
conferências são gravadas e ficam disponíveis no site da PRG, neste
link.
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