Ociosidade entre jovens é mau sinal
Há 5,3 milhões de brasileiros entre 18 e 25 anos que não estudam, não trabalham e nem procuram emprego. A mazela terá impacto até na produtividade da economia
Conhecido pelo termo técnico de “bônus
demográfico”, um grande contingente de jovens entrando no mercado de
trabalho é considerado uma oportunidade especial para o desenvolvimento
de um país. Além de ampliar o mercado de consumo e, por consequência, a
produção, este ciclo de rejuvenescimento crescente da força de trabalho
pode ter múltiplos impactos positivos na sociedade — nos valores, na
cultura etc.
Nada
acontece, porém, de forma automática. Não basta ter uma alta proporção
de jovens na população para o país se desenvolver. Talvez a prova mais
dramática de que nada, de bom ou mal, acontece por acaso sejam nações
árabes de populações de baixa idade, porém atoladas no
subdesenvolvimento, porque, entre outros fatores, inexistem instituições
que deem sustentação ao crescimento e à modernização.
Preocupa,
portanto, o fato de o Brasil, candidato a se beneficiar do “bônus
demográfico”, ter, segundo os dados do Censo de 2010, 5,3 milhões de
jovens entre 18 e 25 anos de idade que não estudam, não trabalham, nem
procuram emprego. Eles representam 19,5% desta faixa da população,
segundo reportagem do GLOBO. São os “nem-nem”, terminologia inspirada no
“ni-ni” usado na Espanha para designar esta juventude colocada à
margem. Na Espanha, o fenômeno tem a explicação óbvia da grave crise
econômica por que passa o país.
O
oposto do Brasil, porque quando o Censo foi apurado, há dois anos, a
economia cresceu 7,5%, com reflexo direto na queda do desemprego. Mesmo
assim, estes 5,3 milhões de brasileiros jovens não entraram no mercado
de trabalho.
Parece
haver uma relação direta entre a juventude marginalizada e seu nível e
qualidade de instrução. Este deve ser o pano de fundo do fato de as
maiores proporções de “nem-nem” serem encontradas em estados onde há
sérios problemas no ensino: Maranhão (29,2% de jovens inativos), Alagoas
(28%) e Ceará (26,3%). O Rio de Janeiro está na média nacional (19,6%),
e os melhores índices se encontram no Sul, com exceção de Brasília
(13,8%): Paraná (14,5%), Rio Grande do Sul (13,3%) e Santa Catarina
(10,7%).
A
situação poderia ser outra se, na Era Lula, no momento de definir
políticas públicas, o governo, em vez de dar prioridade ao
assistencialismo, convertido em grande e crescente item nas despesas
públicas, houvesse optado pela melhoria do nível educacional da
população e da qualidade da mão de obra. Foi um erro crasso de visão
estratégica, com repercussões graves. Como alertou o economista Flávio
Comim, professor de Cambridge, deixar surgir este enorme bolsão de
marginalizados na juventude, além das mazelas sociais, causará problemas
inclusive na produtividade do país. Afinal, a parcela envelhecida do
mercado de trabalho será substituída por gente mal formada.
É assim que, em nome de ações de grande impacto de curto prazo e efeito político-eleitoral, se compromete o futuro.