Filosofia
Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Entrevista
“A ética não depende apenas de quem opera o Estado”
Roberto Romano
Publicado em 28/09/2012 | Mariana Scoz
O
filósofo Roberto Romano, professor da Unicamp, esteve ontem em Curitiba
para participar do seminário “O futuro da Justiça”, na sede da OAB-PR.
Em conversa exclusiva com a Gazeta do Povo, Romano falou de alguns
assuntos recentes na política nacional.
Estamos agora em meio ao julgamento do mensalão, que já tem apresentado alguma punição para os envolvidos no escândalo. Essa punição pode mostrar uma mudança no STF?
O julgamento sinaliza para uma modificação do relacionamento dos
poderes com o cidadão, mas nada é definitivo. Mesmo porque você nota uma
acirrada posição daquilo que eu chamaria de arrogância do bem.
Espera-se do juiz, sobretudo de uma Suprema Corte, que ele aja como
colegiado e não com uma individualidade que decide o que é certo ou
errado.
Nesta semana, Sepúlveda Pertence deixou a presidência da Comissão de Ética. Como fica a comissão?
O dilema aqui do Brasil é que você nunca sabe quando uma comissão é
de Estado ou de governo. Eu estou muito esperançoso na Comissão da
Verdade, pra mim ela vem abrir um campo de responsabilização inédito no
Brasil. Mas não sei até quando ela continuará como de Estado e não vai
se tornar um campo de disputas políticas. No caso da Ética da
Presidência, ficou claro que os dois [integrantes] que não foram
reconduzidos foi por punição pelo fato de questionarem o comportamento
de ministros. Se eles não podem questionar, então eles não têm sentido.
De fato, foi uma perda para o processo democrático.
O senhor acredita que a ética está se perdendo nas discussões políticas?
Primeiro preciso explicar minha posição sobre a ética. Ela é todo o
costume do corpo e da mente que uma vez aprendido se repete automático e
esse é o seu grande perigo. Desde muito tempo no Brasil está alicerçado
esse conúbio do público e do privado. A ética da sociedade brasileira é
do favor, do uso do público para fins privados, mas agora estamos
começando a cobrar o princípio da responsabilização. A ética está
melhorando, mas nada é garantido, pois não depende apenas de quem está
operando o Estado, depende da população que tem essa ética.