Jornal do Commercio, Recife.
especial voto e cidadania
Frustração independe de faixa etária
Professor de Ética e Política da Unicamp afirma que indiferença dos jovens diante da política é apenas uma ponta do iceberg
Publicado em 25/09/2012, às 07h01
Sérgio Montenegro Filho
Foto: Marcos Pastich/JC Imagem
A indiferença dos jovens diante da política é apenas uma
ponta do iceberg. Ela representa uma frustração generalizada do
eleitorado, independente de faixa etária. A avaliação é do professor de
Ética e Política da Universidade de Campinas (Unicamp), Roberto Romano.
Segundo ele, a juventude só se destaca porque externa mais suas opiniões
em público, enquanto os mais velhos são mais reclusos, mas nem por isso
deixam de comungar dessa insatisfação.
“A ética nos partidos já não existe, e o voto de opinião migra para o
voto nulo ou para as abstenções. Não é só a juventude, mas um grupo bem
maior. É todo o eleitor que perdeu a fé”, afirma Romano. lembrando que
antes da urna eletrônica era mais fácil aferir o grau de desilusão.
“Quando havia o voto em cédulas, o eleitor escrevia, mandava recados ou
votava em candidatos fictícios, como o macaco Tião”, diz.
Romano insiste, porém, que não se deve depositar toda a esperança de mudança na juventude. “Alguns rebeldes de ontem se tornaram os poderosos de hoje, como os líderes estudantis José Serra e José Dirceu. Hippies americanos viraram financistas em Wall Street. Algumas gerações tomam rumos diferentes”, reforça, alertando ainda contra o protesto exagerado, que na sua opinião, permitiu eleições como a de Jânio Quadros, os generais do regime militar, Fernando Collor e, por fim, Lula. “A decepção é o sentimento que ajuda a eleger gente assim. É quando se deixa a razão de lado e se vota com a emoção”, explica.
Romano insiste, porém, que não se deve depositar toda a esperança de mudança na juventude. “Alguns rebeldes de ontem se tornaram os poderosos de hoje, como os líderes estudantis José Serra e José Dirceu. Hippies americanos viraram financistas em Wall Street. Algumas gerações tomam rumos diferentes”, reforça, alertando ainda contra o protesto exagerado, que na sua opinião, permitiu eleições como a de Jânio Quadros, os generais do regime militar, Fernando Collor e, por fim, Lula. “A decepção é o sentimento que ajuda a eleger gente assim. É quando se deixa a razão de lado e se vota com a emoção”, explica.
A
ética nos partidos já não existe, e o voto de opinião migra para o voto
nulo ou para as abstenções. Não é só a juventude, mas um grupo bem
maior
professor de Ética e Política da Unicamp, Roberto Romano
VISÃO CRÍTICA - O professor de filosofia do ensino médio, Sérgio
Matias, conta que quando chegam ao primeiro ano os alunos não têm noção
alguma, por exemplo, das funções do Executivo e Legislativo. E nem todas
as escolas conseguem suprir a lacuna, nem formar uma percepção crítica
da política. Segundo ele, as redes sociais ajudam a criar essa
consciência, mas sem uma orientação. “Os jovens são mais um segmento
social sem visão política. Vão só apertar um botão na urna e participar
da festa cívica, sem formular uma consciência crítica sobre o
significado daquele gesto”, analisa.
Para Matias, porém, no momento em que se aprofunda a discussão, clareiam-se as ideias e os jovens passam a perceber o poder que têm. Inclusive no caso do voto nulo. “Eles sabem que é uma expressão simbólica de insatisfação e crítica, mesmo não tendo função prática. Mas toda essa discussão carece de uma profundidade que eles ainda não dispõem”, conclui.
Para Matias, porém, no momento em que se aprofunda a discussão, clareiam-se as ideias e os jovens passam a perceber o poder que têm. Inclusive no caso do voto nulo. “Eles sabem que é uma expressão simbólica de insatisfação e crítica, mesmo não tendo função prática. Mas toda essa discussão carece de uma profundidade que eles ainda não dispõem”, conclui.