terça-feira, 25 de setembro de 2012

Jornal do Commercio, Recife.

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especial voto e cidadania

Frustração independe de faixa etária

Professor de Ética e Política da Unicamp afirma que indiferença dos jovens diante da política é apenas uma ponta do iceberg

Publicado em 25/09/2012, às 07h01

Sérgio Montenegro Filho

 / Foto: Marcos Pastich/JC Imagem

Foto: Marcos Pastich/JC Imagem

A indiferença dos jovens diante da política é apenas uma ponta do iceberg. Ela representa uma frustração generalizada do eleitorado, independente de faixa etária. A avaliação é do professor de Ética e Política da Universidade de Campinas (Unicamp), Roberto Romano. Segundo ele, a juventude só se destaca porque externa mais suas opiniões em público, enquanto os mais velhos são mais reclusos, mas nem por isso deixam de comungar dessa insatisfação.

“A ética nos partidos já não existe, e o voto de opinião migra para o voto nulo ou para as abstenções. Não é só a juventude, mas um grupo bem maior. É todo o eleitor que perdeu a fé”, afirma Romano. lembrando que antes da urna eletrônica era mais fácil aferir o grau de desilusão. “Quando havia o voto em cédulas, o eleitor escrevia, mandava recados ou votava em candidatos fictícios, como o macaco Tião”, diz.

Romano insiste, porém, que não se deve depositar toda a esperança de mudança na juventude. “Alguns rebeldes de ontem se tornaram os poderosos de hoje, como os líderes estudantis José Serra e José Dirceu. Hippies americanos viraram financistas em Wall Street. Algumas gerações tomam rumos diferentes”, reforça, alertando ainda contra o protesto exagerado, que na sua opinião, permitiu eleições como a de Jânio Quadros, os generais do regime militar, Fernando Collor e, por fim, Lula. “A decepção é o sentimento que ajuda a eleger gente assim. É quando se deixa a razão de lado e se vota com a emoção”, explica.


“A ética nos partidos já não existe, e o voto de opinião migra para o voto nulo ou para as abstenções. Não é só a juventude, mas um grupo bem maior
”professor de Ética e Política da Unicamp, Roberto Romano


VISÃO CRÍTICA - O professor de filosofia do ensino médio, Sérgio Matias, conta que quando chegam ao primeiro ano os alunos não têm noção alguma, por exemplo, das funções do Executivo e Legislativo. E nem todas as escolas conseguem suprir a lacuna, nem formar uma percepção crítica da política. Segundo ele, as redes sociais ajudam a criar essa consciência, mas sem uma orientação. “Os jovens são mais um segmento social sem visão política. Vão só apertar um botão na urna e participar da festa cívica, sem formular uma consciência crítica sobre o significado daquele gesto”, analisa.

Para Matias, porém, no momento em que se aprofunda a discussão, clareiam-se as ideias e os jovens passam a perceber o poder que têm. Inclusive no caso do voto nulo. “Eles sabem que é uma expressão simbólica de insatisfação e crítica, mesmo não tendo função prática. Mas toda essa discussão carece de uma profundidade que eles ainda não dispõem”, conclui.