14 de janeiro de 2013 • 18h28 • atualizado 20h16
Se TVs e chuveiros realmente tiverem que ser
desligados em 2013 para racionar energia, o ano não poderia ser mais
emblemático para a presidente Dilma Rousseff. E no pior sentido. Dilma
fez fama ao reformular o setor elétrico e procurar dar garantia à
segurança do fornecimento de energia após a grave crise de 2001. Ela se
vê agora diante de ameaças que poderão minar seus esforços de dar fôlego
à indústria e reaquecer a economia, após dois anos de crescimento
frustrante."Se começar a faltar eletricidade, e
voltar o chamado apagão, isso teria um impacto negativo muito forte, com
certeza... Por isso, ela e o governo estão irredutíveis que há zero
chance de faltar eletricidade, apesar de especialistas dizerem que o
risco é maior", disse à Reuters o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília.O
"timing" para incertezas não poderia ser pior. Depois de um 2012 de
economia ruim, cujo crescimento deve ser de cerca de 1%, Dilma espera
que as diversas medidas de estímulo tenham seus efeitos plenos neste
ano, finalmente abrindo caminho para uma expansão de 4 por cento para
2013.Um eventual racionamento de energia afetaria
diretamente a indústria, setor que recebeu atenção especial da
presidente em 2012 com diversas ações de incentivo ao investimento e
competitividade, de olho numa recuperação que é bastante aguardada para
este ano. Menos energia, menos produção. E, possivelmente, menos
emprego."Se houver outro pibinho como em 2012, você
teria um impacto muito grande na população e na popularidade da Dilma,
especialmente se começar a atingir emprego e inflação", disse Fleischer.Dilma
tem mantido níveis elevados de avaliação, com aprovação pessoal em 78%,
segundo pesquisa Ibope de dezembro, escorada principalmente na taxa de
desemprego, cujo nível baixo é recorde.A imagem da
presidente passou ilesa pelo noticiário negativo de economia
desacelerada e pelo julgamento do mensalão em 2012, mas uma grave crise
de energia poderia ser responsável por tirar parte de seu apoio num ano
pré-eleitoral."A possibilidade de mudar a
popularidade é a intensidade do (possível) racionamento, se for um
desastre similar ao Fernando Henrique", disse o cientista político da
Unicamp, Roberto Romano.
Logo agora?
Há dez anos, Dilma surgia como ministra de Minas e Energia do ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Seu desempenho, que a alçou à Casa Civil e lhe deu a imagem de "gerentona", foi consagrado com a reformulação do setor elétrico. Justamente o que está em dúvida agora.
Racionamento
de energia traz à memória o ano de 2001, quando a estiagem e a falta de
investimento forçaram um plano de redução no consumo, poupando usuários
que fizeram economia e punindo aqueles que ultrapassaram a meta. O
episódio foi uma das manchas do governo do ex-presidente tucano Fernando
Henrique Cardoso e alvo recorrente de críticas do PT, de Lula e Dilma."Ridículo"
foi como Dilma reagiu à possibilidade de racionamento de energia, em
dezembro, ao negar a existência de uma crise energética após a série de
apagões em diversas regiões do país, apesar de especialistas dizerem que
o risco é real.Num sinal de preocupação, a
presidente retornou das férias antes do previsto na semana passada e, no
mesmo dia, foi atualizada sobre a situação diante da ameaça de crise no
setor elétrico.As chuvas que vieram nos últimos
meses não foram suficientes para dar fôlego aos reservatórios das
usinas, que estão no menor nível em uma década, alimentando incertezas
sobre as condições do País suprir a demanda por energia, num verão de
altas temperaturas e em meio à esperada retomada da economia.
"Qualquer
racionamento de energia representaria um choque de oferta negativo
impactando a inflação e o crescimento", disse Tony Volpon,
diretor-executivo e chefe de pesquisa de mercados emergentes para as
Américas da Nomura Securities International, com sede em Nova York."A
tensão atual mostra que o sistema está na sua capacidade embora tenha
havido pouco crescimento econômico (nos últimos anos). O que acontecerá
se o crescimento voltar, e em quanto a demanda irá aumentar devido às
tarifas mais baixas?", disse Volpon.O risco de
racionamento é descartado pelo governo, apontando a existência de usinas
termelétricas, de operação mais cara, capazes de suprir a demanda por
energia.Especialistas concordam que a situação
atual é diferente da de 2001, mas citam o aumento no consumo de energia
na última década, em parte pela expansão econômica e o crédito
facilitado que ampliaram o acesso à eletrodomésticos.Rodolpho
Tourinho, ministro de Minas e Energia no período do racionamento e que
foi elogiado recentemente por Dilma por sua atuação, reconheceu que as
incertezas podem atrapalhar a retomada da economia, mas chamou de
"exagerado" considerar qualquer apagão. "Qualquer coisa que você tenha
dessas suposições é claro que não ajuda (recuperação). Mas não vejo
razão", disse ele à Reuters após reunião com Dilma na sexta-feira.
A conta cai, sim
As incertezas na área energética respingaram, ainda, em outro esforço de Dilma no setor, com forte apelo popular: a redução nas contas de luz.
A conta cai, sim
As incertezas na área energética respingaram, ainda, em outro esforço de Dilma no setor, com forte apelo popular: a redução nas contas de luz.
No
ano passado, a presidente foi à TV anunciar uma redução média de 20%
nas contas de luz e manteve o índice, mesmo com a recusa de empresas à
renovação antecipada das concessões, dizendo que o Tesouro Nacional
faria os aportes necessários para cumprir esta meta.Enquanto
não cai, a tarifa brasileira desfila entre uma das mais altas do mundo.
"O governo tem um problema sério de gestão. Com a tarifa nesse nível,
não podemos aceitar o risco que nós estamos tendo", disse o pesquisador
Roberto D'Araújo, do programa de pós-graduação em engenharia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro.O ministro
de Minas e Energia, Edison Lobão, no entanto, reforçou que a conta cai,
sim, como prometido pela presidente, a partir de fevereiro.