Tarso Genro: 'Usamos os métodos de partidos que criticávamos'
- Governador diz que Dirceu enfrenta o mensalão de forma ‘equivocada’
Marcelo Remígio
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RIO — Um dos principais líderes petistas, Tarso Genro diz que, do
julgamento do mensalão, deve ficar a lição de que o PT não pode
continuar a compor maiorias e formar alianças a qualquer preço
Quais os reflexos que o mensalão ainda provocará no PT? Como se preparar para 2014?
Integro
uma corrente de opinião no PT que é minoritária, tem em torno de 40%
dos delegados, a Mensagem ao Partido. Ela entende que o partido precisa
passar por uma profunda renovação, e essa renovação passa pelos métodos
da direção; pelas relações do partido com os governos; por novos métodos
de participação da base, por meio de métodos tecnológicos; e por uma
avaliação muito mais profunda do que foi feito até agora sobre o que
ocorreu nesta Ação Penal 470. Uma coisa é você avaliar, como eu avaliei,
que teve de se inventar uma tese de domínio funcional dos fatos para
condenar lideranças do partido. Outra coisa é você compreender que,
tendo ocorrido ilícitos penais ou não, os métodos de composição de
maiorias e de formação de alianças que nós utilizamos foram os mesmos
métodos tradicionais que os partidos que nós criticávamos adotavam. É
uma total necessidade você aprender a superar esses métodos. Esta é a
grande questão que temos que trabalhar: qual é o sistema de alianças que
nos dá uma capacidade de governar dentro da ordem democrática sem
utilizar esses métodos tradicionais que herdamos da República Velha.
O senhor defende a cassação dos mandatos dos mensaleiros?
A
Constituição tem que ser interpretada a partir da independência dos
poderes. A decisão tem que ser da Câmara Federal de cassar ou não. Eu
substituí o (José) Genoino na presidência do PT, e o que circulava
dentro do partido, e foi constatado depois, é que ele assinou
empréstimos, agora pagos, e que o fez de boa-fé, sem saber que, por trás
daqueles empréstimos, poderia ter uma articulação de intercâmbio de
favores em benefício do partido e de outras pessoas. Eu não sei se,
nessa situação, eu renunciaria. O fato é que toda essa situação
significa que o PT tem de instituir regras muito rígidas em relação aos
seus dirigentes, seus quadros e seus vínculos com as empresas privadas. É
totalmente incompatível dirigente partidário continuar se apresentando
como tal e sendo ao mesmo tempo consultor de grandes negócios. Porque,
quando essa pessoa fala dentro do partido, quem está falando? É o
dirigente ou o consultor? Essa regra não deve valer só para o PT, não
estou me fixando em nenhum caso específico. Essas relações são sempre
muito perigosas.
Qual futuro o senhor prevê para o ex-ministro José Dirceu?
Tenho
uma relação política interna de partido com Dirceu. Nunca fui uma
pessoa próxima a ele. Ele teve uma participação muito importante na
construção do partido e na primeira vitória do presidente Lula. Mas acho
que a forma como o Dirceu está enfrentando essa questão é equivocada,
porque tende a estabelecer uma identidade dos problemas que ele está
enfrentando com o problema do PT, com o conjunto, e trazendo para a sua
defesa o partido como instituição. A defesa que o partido tem que fazer
em circunstâncias como essas, para qualquer pessoa, é que ela tenha
direito a defesa e a um julgamento justo, e não o estabelecimento de
qualquer identidade política, que é outra coisa. O Dirceu não pode ser
demonizado no partido, até pela trajetória que ele teve, embora a forma
como ele está lidando com essa questão não seja boa para o partido,
estabelece uma identidade forçada dele em conjunto com o partido, coisa
que, no mínimo, não existe. O partido tem que ser solidário com todos os
seus quadros, errem ou acertem, para que tenham direito de defesa e
julgamentos justos.
A
agenda do partido não pode ser a agenda da Ação Penal 470. O que o
partido tinha que fazer já fez. Já fez o manifesto, já deu a
solidariedade que tinha que dar. O partido tem que tratar da sua vida,
ele é um projeto para a sociedade, não um projeto para ficar amarrado a
uma pauta, que inclusive foi constituída por indivíduos e dirigentes, e
não por decisões do partido, para que aqueles fatos ocorressem, fatos
esses narrados na Ação penal 470. A agenda PT tem que ser da a reforma
política, do que eu chamo de 14-18 (projeto 2014-2018) e do sistema de
alianças.
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