quarta-feira, 3 de abril de 2013

O anonimato dos pareceristas: endemia que mostra o quanto as "elites cultas"brasileiras são tribais, antropófagas, cegas....

 Um trecho que chamou minha atenção na entrevista de hoje à Folha de São Paulo, concedida por Silvio Tendler, sobre a homenagem ao seu filme "Jango". Leiam, por favor, o que diz o cineasta sobre os pareceres anônimos da assessoria instalada na Ancine.


A política é a do cinemão?

Continuo trabalhando. Não preciso de licença do Manoel Rangel para criar. Ele vai ficar me criando empecilhos para produzir. Ele fez tudo, por exemplo, para que o Poema Sujo não acontecesse. Eu não digo ele, mas a Ancine. Entrei num edital da Ancine para fazer o Poema Sujo. O parecerista daAncine é um cidadão anônimo. Os pareceristas da Ancine não assinam o seus pareceres. É como ser julgado por um juiz encapuzado. Eles falam coisas do tipo: Poema Sujo é, no máximo, para passar em TV a cabo fechada, não é coisa para cinema. É um preconceito contra o povo, de achar que o povo não gosta de poesia. Aí fui barrado, não ganhei Poema Sujo.


É assustador como os procedimentos das esquadras anônimas se repetem, na Ancine e nas agências de financiamento de pesquisas brasileiras. Leiam, por favor, o trecho de minha entrevista ao Roda Viva, na TV Cultura de São Paulo, entrevista "antiga"...


Roberto Romano: Esta é uma das questões, inclusive a questão da própria transparência da Fapesp e da aplicação de recursos. Esse é um ponto também sério. Agora, veja, também aí, falando em accountability veja existe coisas mais graves no meu entender nessas fundações desde o CNPq, Capes, Fapesp etc, que tocam muito sério no problema da ética. Como é que você move milhões de recursos públicos com assessores anônimos.

Carlos Marchi: O senhor está dizendo que tem corrupção da Fapesp?

Roberto Romano: Não, eu não digo que tem corrupção, o que eu digo que é o procedimento do anonimato, que é chamado de ética, porque cada vez que você dá um parecer na Fapesp você tem que assinar um papel dizendo que você não vai contar para ninguém que você é o assessor. Isso chama-se ética, no meu entender é anti-ético, porque você trabalha com o dinheiro que vem do povo, que vem dos impostos e você muitas vezes não presta contas de juízos absolutamente poucos científicos ou pouco acadêmicos.

Fernando Rodrigues: Não é mais um outro argumento, a favor então, dessa decisão do governo de intervir um pouco mais dentro da administração dessas instituições?

Roberto Romano: É que ele definisse o padrão da transparência no sentido mais pleno da palavra. Nesse caso, não, você continua com esses procedimentos secretos, com esse assessor anônimo que muitas vezes decide um projeto inteiro e tem lá a idéia de que você pode fazer, recorrer contra...

Carlos Marchi: Esse parecer é definidor?

Roberto Romano: É definidor, é definidor. Sempre que você vai conversar com os responsáveis por esses trâmites, o que eles dizem imediatamente é que eles tendem sempre a aceitar o parecer do assessor. Então, esse é um ponto que merece muita discussão. Agora, dentro da universidade existe muitos problemas, isso ninguém nega, mas o que me parece que é importante é saber aquilatar o que as universidades, sobretudo as públicas de São Paulo, fizeram e que entraram no sangue do mercado, que entraram no sangue da produção desse Estado.

E desse modo seguem as coisas no Brasil da Kultura...

RR