Por que o sr. comparou com a situação do Feliciano? Não entendi.
Porque é horrivel. Estamos vivendo um momento horrível. Mas não perco a
fé e a esperança, pois elas são os alimentos das revoluções e
insurreições. Continuo acreditando que vai mudar. Mas tem tudo a ver com
o controle político exercido hoje no Brasil. É o Marco Feliciano nos
direitos humanos, o Blairo Maggi no meio ambiente. Ele [Maggi] é um dos
maiores latifundiários desse pais. É o rei do latifundio, que hoje
chamam de agronegócio. Kátia Abreu é aliada do governo. É surrealista a
diferença de dinheiro que vai para a agricultura e o que vai para o
desenvolvimento agrário. Setenta por cento dos alimentos que são
consumidos vêm do pequeno produtor. Por que se beneficia tanto o
latifúndio num país que deveria ter um projeto progressista de
desenvolvimento?
O sr. está decepcionado com o PT?
Muito decepcionado. Só não estou mais porque não sou petista. A política
cultural que havia no governo do Jango não existe hoje. Comparando um
momento com o outro. Naquela época se tinha as reformas sociais,
reformas de base, agrária. Jango ousou afrontar a questão da reforma
urbana. Hoje aqui no Rio está se botando pobre para fora de casa a toque
de caixa para entregar os terrenos para os ricos. É uma vergonha. No
governo do Jango era o contrário: era ocupar os imóveis desocupados. E a
política cultural exercida pela UNE naquela época era um luxo: tinha
Gullar, Cacá. Vianinha, Joaquim Pedro, Jabor. Hoje você tem uma agência
reguladora que é um lixo.